A morte do ex-ministro dos Transportes da Rússia, Roman Starovoit, na última segunda-feira (7), adiciona mais um capítulo sombrio à lista de óbitos suspeitos que envolvem figuras importantes do país. Demitido por Vladimir Putin, Starovoit foi encontrado morto em circunstâncias que, segundo a imprensa russa, apontam para um suicídio. Mas será que essa é toda a história?
Nos últimos anos, uma série de mortes inexplicáveis – apresentadas oficialmente como suicídios, acidentes ou causas naturais – tem chocado o mundo e levantado suspeitas de assassinatos encomendados. O governo russo, claro, nega qualquer envolvimento, alegando investigações em andamento e usando a mídia estatal para divulgar versões oficiais. Mas a quantidade de casos, a coincidência de perfis das vítimas e as inconsistências nas narrativas oficiais geram muitas dúvidas.
Vamos analisar alguns casos emblemáticos:
**1. Roman Starovoit: Um Tiro na Região de Moscou**
O ex-ministro, encontrado morto em meio a arbustos próximo a Moscou, horas após sua demissão, foi descrito pela imprensa russa como vítima de um suicídio por arma de fogo. A arma teria sido encontrada ao lado do corpo, segundo reportagens do jornal *Izvestiya*, que citou fontes anônimas. O Kremlin, na pessoa de Dmitry Peskov, declarou-se “chocado” com a notícia. Vale lembrar que Starovoit, antes de assumir o Ministério dos Transportes em maio de 2024, foi governador de Kursk por quase cinco anos, região na fronteira com a Ucrânia. Fontes da Reuters, porém, sugerem que sua posição já estava ameaçada há meses, devido a escândalos de corrupção em Kursk, não por problemas relacionados à sua pasta. Curiosamente, pouco tempo depois de Starovoit deixar o governo regional, tropas ucranianas cruzaram a fronteira.
**2. Alexei Navalny: Morte na Prisão**
Alexei Navalny, ferrenho opositor de Putin, morreu em fevereiro de 2024 em uma prisão no Ártico, aos 47 anos. A versão oficial? Causas naturais. Mas Navalny, conhecido por suas denúncias de corrupção contra o governo e por liderar protestos que levaram milhares às ruas em 2010, já havia sobrevivido a duas tentativas de envenenamento em dois anos. Um dos casos, em 2020, envolveu agentes químicos implantados em sua roupa íntima. Sua família e a comunidade internacional, incluindo a União Europeia e os EUA, acusam o governo russo de assassinato, acusação veementemente negada por Moscou.
**3. Yevgeny Prigozhin: Queda de Avião**
Em agosto de 2023, Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo Wagner – crucial no início da guerra na Ucrânia, mas que rompeu com Putin meses antes – morreu num acidente aéreo perto de Moscou. A queda do avião, que vitimou outras nove pessoas, incluindo um aliado próximo de Prigozhin, foi apontada por militares americanos, em entrevista ao *The New York Times*, como resultado de uma explosão, possivelmente causada por uma bomba ou combustível adulterado. O governo russo, mais uma vez, diz investigar as causas. A relação conturbada entre Prigozhin e Putin começou a se deteriorar após a rebelião do grupo Wagner em junho de 2023, que chegou a ameaçar Moscou.
**4. Alexander Litvinenko: Envenenamento em Londres**
Em novembro de 2006, o ex-espião russo Alexander Litvinenko morreu em Londres, envenenado com polônio-210, segundo autoridades britânicas. Crítico ferrenho de Putin, Litvinenko havia trabalhado para a KGB e o FSB (sucessor da KGB), órgão que Putin comandou antes de se tornar presidente. Após acusar o governo russo de um complô para matar o oligarca Boris Berezovsky, Litvinenko fugiu para o Reino Unido, onde obteve asilo. Antes de morrer, acusou Putin diretamente pelo envenenamento. Em 2021, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos responsabilizou a Rússia pela morte.
**5. Pavel Antov e Ravil Maganov: Quedas de Janelas**
Dois magnatas também se juntam à lista de mortes misteriosas. Pavel Antov, deputado regional e empresário do ramo alimentício, foi encontrado morto em um hotel na Índia em dezembro de 2022, semanas depois de criticar a invasão russa da Ucrânia nas redes sociais. A versão oficial: queda de uma janela. Dois dias antes, seu amigo, que o acompanhava na viagem, também havia sido encontrado morto. Já Ravil Maganov, presidente da petrolífera Lukoil, morreu em setembro de 2022 após uma queda de uma janela de hospital em Moscou. A Lukoil atribuiu a morte a uma “doença severa”, enquanto a mídia estatal falou em suicídio. A Lukoil, aliás, havia emitido um comunicado pedindo o fim da guerra na Ucrânia.
**6. A Onda de Mortes de Milionários**
Além desses casos, uma série de magnatas e executivos russos, muitos ligados a setores estratégicos como petróleo e gás, morreram em circunstâncias suspeitas desde o início da invasão da Ucrânia. Entre eles, Leonid Schulman e Alexander Tyulyakov (ambos da Gazprom), Andrei Krukovsky (diretor de resort da Gazprom), Mikhail Watford (magnata do petróleo), Sergei Protosenya (ex-executivo da Novatek), Vasily Melnikov (ex-funcionário da MedStom), Vladislav Avaev (ex-vice-presidente do Gazprombank) e Kristina Baikova (vice-presidente do Loko-Bank). Muitos foram encontrados mortos em suas casas, ou vítimas de quedas de prédios.
A sucessão de mortes levanta questões inquietantes sobre a segurança de opositores e críticos do regime russo. Enquanto o governo insiste em versões oficiais, muitas perguntas permanecem sem resposta, alimentando especulações e teorias que apontam para um padrão preocupante de violência e opressão.
Fonte da Matéria: g1.globo.com