Vitor Ramil botou pra quebrar no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro, com seu show “Mantra Concreto”, dentro do projeto “Terças no Ipanema”. A apresentação, que rolou no dia 5 de agosto de 2025, foi uma viagem incrível! Quatro estrelas, fácil! ⭐ ⭐ ⭐ ⭐
O próprio Vitor confessou que se emocionou muito, tipo chorou horrores, ao ouvir sozinho “Tierra”, versão em português da música do Xoel López, gravada no álbum “Campos Neutrais” (2017). E a emoção não parou por aí, não! Ele também se derreteu ao finalizar a composição de alguns poemas de Paulo Leminski (24/08/1944 – 07/06/1989) que deram origem ao seu mais recente álbum, “Mantra Concreto” (2024), lançado em outubro do ano passado.
No palco, Ramil era um verdadeiro astronauta lírico, flutuando entre a precisão da métrica e a intensidade emocional da poesia. Uma apresentação de tirar o fôlego, sabe? Ele contou com a participação da gaúcha Adriana Calcanhotto, que cantou “Viajei” (2007) e “Estrela estrela” (1981) – essa última, releitura de Adriana Partimpim do álbum “O Quarto” (2024). Apesar da expectativa, a participação de Calcanhotto foi, digamos, meio protocolar, sem o brilho que se esperava.
Mas, gente, o show de verdade foi o trabalho solo de Vitor! Com uma iluminação impecável de Marcelo Linhares e o talento de Alexandre Fonseca (bateria, tablas, percussão e programações) e Edu Martins (baixo e synth bass) – músicos que também participaram do álbum –, Ramil brilhou. A banda, aliás, estava incrível!
Ele foi como um astronauta vindo direto de Satolep (anagrama de Pelotas, RS, sua cidade natal), declamando os versos antilíricos de Leminski, poeta curitibano conhecido por sua concisão e ligação com a poesia concreta – bem evidente em poemas como “Anfíbios”, “Sujeito indireto” e “Teu vulto” – e com a linguagem coloquial, como em “Um bom poema”.
O show, com oito das 15 músicas do álbum baseadas nos poemas de Leminski, também passeou pelo repertório anterior de Vitor, com canções maravilhosas como “A ilusão da casa” (2007) e “Astronauta lírico” (2007), ambas gravadas por Ney Matogrosso, que inclusive participou da estreia do show em 29 de julho.
Impossível não se arrepiar com o convite sedutor de “Loucos de cara” (1987), do álbum “Tango” (1987), com versos poderosos como “Não importam vitórias / Grandes derrotas, bilhões de fuzis / Aço e perfume dos mísseis / Nos teus sapatos!”. Essa música, com melodia criada pelo irmão Kleiton Ramil, foi épica!
A inspiração musical de Vitor se mostrou ainda mais forte em “Não é céu” (1996), uma bossa vibrante que encerrou o show antes do bis. No bis, a saga heroica de “Joquim” (1987), do mesmo álbum “Tango”, outra pérola. “Joquim” conta a história fictícia de Joaquim da Costa Fonseca Filho (1909-1968), conterrâneo de Ramil, com letra de Vitor e melodia de “Joey” (1976), de Bob Dylan e Jacques Levy (1935-2004). A versão em português conecta o folk novaiorquino com a musicalidade de Satolep.
Para fechar com chave de ouro, Ramil retornou à poesia de Leminski com “Caricatura” (2024), com versos melancólicos e concretos: “Tudo, tudo, tudo / Não passa de caricatura / De você, minha amargura / De ver que viver não tem cura / Viver não tem cura”.
Em resumo, entre lágrimas e métrica, Vitor Ramil mostrou que a música e a poesia são bálsamos para a alma, capazes de aliviar as dores da vida. Um show memorável!
Fonte da Matéria: g1.globo.com