O leilão do túnel submerso que ligará Santos a Guarujá, marcado para esta sexta-feira (4), às 16h, na B3, em São Paulo, desvenda uma disputa política, quase velada, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A obra, um sonho antigo que começou a ser desenhado lá em janeiro de 1927, pelo engenheiro Enéas Marini, durante o governo de Júlio Prestes, finalmente vai sair do papel. Quase 100 anos depois!
Inicialmente, a parceria entre Lula e Tarcísio parecia perfeita. No lançamento do edital, em fevereiro, ambos celebraram o projeto como uma conquista. Lula, inclusive, enfatizou a importância da colaboração entre os governos: “Não é possível a gente deixar de trabalhar junto, compartilhar esforços, só porque eu não gosto de alguém, ou alguém não gosta de mim”, declarou na ocasião. Um discurso de união, sabe?
Mas, na prática, as coisas não foram tão harmoniosas assim. Afinal, Tarcísio, ex-ministro de Jair Bolsonaro e cotado para a corrida presidencial de 2026, vem se posicionando de forma um tanto quanto… independente. Lula, aliás, já declarou acreditar que Tarcísio será o candidato da oposição. E essa percepção, me parece, influencia a dinâmica da parceria.
Após a aprovação do edital, Lula postou nas redes sociais sobre o projeto, ressaltando o compromisso do governo federal “com quem mais precisa” e afirmando que jamais deixaria de apoiar prefeitos ou governadores, independentemente de suas posições políticas. “Não foi para isso que eu quis ser presidente”, disse ele em um vídeo.
Aí que começa a divergência. Tarcísio, ao anunciar o edital, chamou o projeto de “um gol de placa” para a Baixada Santista, sem dar o devido destaque à parceria com o governo federal. Isso deixou alguns aliados de Lula chateados. O deputado estadual Antonio Donato, por exemplo, fez um vídeo lembrando a participação do governo federal e a história do projeto.
Mais tarde, durante uma viagem à Europa para promover o túnel a investidores, Tarcísio comparou a obra ao maior túnel submerso do mundo, sem mencionar, mais uma vez, a contribuição do governo federal.
Nos últimos meses, Lula praticamente parou de falar sobre o túnel nas redes sociais. A expectativa é que ele não esteja presente no leilão, sendo representado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho – este, aliás, um dos poucos que continua a mencionar a parceria entre os governos. Algumas contas do governo federal também deixaram de destacar a participação de São Paulo na obra. Uma cisão quase completa, né?
O leilão desta sexta promete definir o futuro do primeiro túnel submerso do Brasil. Com investimento estimado em R$ 6,8 bilhões, duas empresas estão na disputa: a Acciona Concesiones (Espanha) e a Mota-Engil (Portugal). A vencedora será a que oferecer o maior desconto na parcela mensal paga pelo poder público, com contrato de 30 anos. A construção, operação e manutenção ficarão a cargo da iniciativa privada, em parceria com os governos estadual e federal.
A obra, que deve ser concluída até 2030, compreende 1,5 km de extensão, sendo pelo menos 870 metros submersos. O túnel terá capacidade para veículos de passeio, transporte público, caminhões, bicicletas e pedestres, beneficiando os cerca de 78 mil pessoas que cruzam diariamente entre Santos e Guarujá por meio de barcos e balsas. Será a maior obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
A construção utilizará a técnica de módulos pré-fabricados em docas secas, que serão afundados e encaixados no leito do canal. Essa solução foi escolhida por conta do solo da região, composto por argilas moles e sedimentos fluviais, e apresenta vantagens ambientais e urbanas, reduzindo impactos e desapropriações, segundo o Ministério de Portos e Aeroportos. A construção de uma ponte foi descartada devido às restrições da Base Aérea de Santos e ao intenso tráfego de navios. Olha só que complexo!
Fonte da Matéria: g1.globo.com