Na sexta-feira, dia 5, o então presidente dos EUA, Donald Trump, soltou uma bomba: em sua rede social Truth Social, ele declarou que os EUA “perderam” a Índia e a Rússia para a China, a qual chamou de “sombria”. A declaração veio na esteira de um gigantesco desfile militar chinês em Pequim, que contou com a presença de líderes de ambos os países, além da Coreia do Norte. Olha só, Trump não deu maiores explicações, mas a mensagem é clara: ele não gostou nada de ver Putin e Modi tão próximos de Xi Jinping.
A irritação de Trump, na real, é compreensível. Tanto a Índia quanto a Rússia são países que, em momentos anteriores, estavam mais alinhados com os interesses americanos. A presença deles no evento, que foi um verdadeiro show de força militar chinês, parece ter sido interpretada por Trump como uma demonstração de mudança de alinhamento geopolítico. Aliás, no próprio dia do desfile, Trump chegou a acusar Xi Jinping, Putin e Kim Jong-un de conspirarem contra os EUA.
O desfile militar chinês, realizado na quarta-feira, foi o maior da história do país. Com mísseis nucleares de alcance global e armas hipersônicas, o evento foi uma demonstração impressionante de poderio bélico, um recado claro ao Ocidente. A presença de Putin e Kim Jong-un ao lado de Xi Jinping reforçou ainda mais essa mensagem. Durante a visita, Xi Jinping aproveitou para se reunir bilateralmente com Putin e Kim, além de outros representantes internacionais. Antes do desfile, inclusive, a China sediou uma cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO).
A mensagem da China foi recebida em Washington com bastante atenção. Trump, apesar de inicialmente negar que o desfile fosse um desafio aos EUA, afirmou que mantinha “uma relação muito boa” com Xi Jinping, dizendo que “a China precisa muito mais de nós do que nós deles”. Mas depois, veio a declaração da “perda” da Índia e da Rússia.
A reação internacional foi imediata. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, considerou o encontro dos três líderes durante o desfile um “desafio direto à ordem internacional”, enviando “sinais antiocidentais”. Kallas destacou o apoio da China à guerra na Ucrânia como um fator crucial para a compreensão da situação.
Xi Jinping, por sua vez, usou uma roupa semelhante ao traje do ex-líder chinês Mao Tsé-tung e cumprimentou mais de 20 chefes de Estado presentes no evento, incluindo o assessor especial da Presidência brasileira, Celso Amorim, e a ex-presidente Dilma Roussef, então diretora do Banco do Brics. No início da semana, em uma cúpula regional, Xi já havia apresentado sua visão de uma nova ordem mundial, criticando veladamente a “hegemonia e a política de poder” dos Estados Unidos.
O desfile, que comemorou os 80 anos da derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, mostrou pela primeira vez a tríade nuclear completa da China, incluindo o míssil balístico intercontinental DF-5C, com alcance de 20.000 km, e o novo míssil móvel DF-61. Segundo James Char, professor de Defesa da China na Escola de Estudos Internacionais S. Rajaratnam, em Singapura, a combinação de drones marítimos e mísseis chineses criará uma área de difícil acesso para marinhas estrangeiras. Char também apontou que a China busca se apresentar como uma “garantidora da paz”, em meio às dúvidas sobre o papel dos EUA no cenário global. Xi Jinping, em seu discurso, enfatizou a escolha entre paz e guerra, afirmando que o povo chinês está “firmemente do lado certo da história”. O desfile incluiu sobrevoos, marchas de tropas e a apresentação de equipamentos militares de última geração. Putin, por sua vez, respondeu às declarações de Trump com um simples “Ele tem senso de humor”.
Fonte da Matéria: g1.globo.com