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Tarifaço nos EUA: Brasil consegue redirecionar exportações de alimentos?

A ameaça de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos EUA deixou o setor agroexportador em alerta. Tilápia, café e manga, entre outros, estão na mira. Mas será que é moleza simplesmente mandar tudo para outros países? Não, segundo especialistas ouvidos pelo g1. Cada produto tem sua história, e mudar o destino não é tão simples assim.

A pergunta que fica é: o que os produtores estão fazendo? Dá pra desviar a produção? E como funciona essa engrenagem toda da exportação?

**Café: um compasso de espera**

O setor cafeeiro tá na expectativa. A torcida é pela inclusão do café na lista de exceções ao famigerado “tarifaço”. Ufa! A possibilidade de estocagem ajuda a aliviar a pressão: o café aguenta meses armazenado, e a safra de 2025 só vai ser exportada lá em 2026. Redirecionar para outros mercados é possível, sim, mas é um trabalhão. Cada lugar tem suas regras, suas exigências. É um quebra-cabeça. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) garante que o grão mantém suas qualidades por, pelo menos, oito meses após a colheita. Mas, mesmo com a possibilidade de estocagem, a incerteza sobre a duração da tarifa deixa o mercado tenso. Os EUA são grandes consumidores do café brasileiro, e achar substitutos não será fácil.

**Como funciona a exportação de café?**

A colheita rola uma vez ao ano, no primeiro semestre. Depois da colheita, vem o preparo, que pode levar semanas, até dois meses no caso do arábica, o queridinho do mercado americano, segundo o analista Fernando Maximiliano, da StoneX. Depois de limpo e classificado por qualidade, o café é ensacado e enviado para o porto em contêineres. É um processo longo e meticuloso!

**Redirecionamento? Possível, mas difícil!**

Redirecionar para outros mercados? É possível, mas não é tão simples assim. Cada país tem suas regras de qualidade e normas fitossanitárias. Boa parte do arábica brasileiro entra em blends, misturado com cafés de outros países. O café brasileiro tem seu toque especial, que equilibra o sabor final do produto. Mudar os rumos dos embarques exige ajustes comerciais e disponibilidade de mercado. Mesmo assim, países como China, Índia, Indonésia e Austrália, já importadores do grão brasileiro, são vistos pelo Cecafé como alternativas.

**Tilápia: corrida contra o tempo**

Olha só a situação da tilápia! Os EUA compram 70% do pescado exportado pelo Brasil, e mais de 90% da tilápia. A maior parte (92%) vai como filé fresco de avião, em viagens de 10 horas. O restante, congelado em navios, em viagens de 20 dias. Inicialmente, com a tarifa prevista para 1º de agosto, os envios marítimos com chegada posterior a essa data foram suspensos. Mas, com o “adiamento” para 6 de agosto, a situação mudou. “Tá todo mundo correndo para conseguir contêineres e navios até o dia 6”, afirma Eduardo Lobo, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca). O envio aéreo segue até 6 de agosto, segundo Francisco Medeiros, da Associação Brasileira de Piscicultura (PeixeBR). A indústria também estocou tilápias, vivas ou congeladas (que duram até dois anos, segundo Lobo).

**Redirecionamento da tilápia? Difícil!**

A tilápia destinada aos EUA após 6 de agosto deve ir para o mercado interno, segundo Medeiros. O problema é que o mercado interno já está abastecido, e não há mercados alternativos com capacidade para absorver o volume. A União Europeia, por exemplo, está fechada para a tilápia brasileira desde 2017. A médio e longo prazo, esse excesso de tilápia no mercado interno pode afundar a indústria, alerta Lobo: “O preço ficaria inexequível, quebrando a cadeia produtiva”.

**Manga: risco de colapso**

A manga é a fruta mais exportada do Brasil, e 14% vai para os EUA. A variedade Tommy Atkins, a preferida dos americanos, começa a ser colhida em agosto. As negociações são feitas com a fruta ainda no pé. Manter toda essa manga no Brasil geraria um colapso no mercado, alerta Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). Os EUA compram 7% das frutas brasileiras exportadas.

**Redirecionamento da manga? Quase impossível!**

Tecnicamente, um navio pode ser redirecionado, desde que ainda não tenha saído do Brasil, diz a Abrafrutas. Mas encontrar novos mercados é difícil, pois a cultura do consumo de manga não é tão difundida em outros lugares. O tempo de vida das mangas é curto, e o açaí, apesar de poder ser armazenado por 12 meses, também enfrenta desafios.

Em resumo: o “tarifaço” americano representa um desafio enorme para o agronegócio brasileiro. Encontrar soluções rápidas e eficazes para redirecionar as exportações não é tarefa fácil, e o impacto no mercado interno pode ser significativo.

Fonte da Matéria: g1.globo.com