Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.
Notícias

Tarifaço de Trump: Surpresa! Dólar cai e Bolsa sobe, apesar das taxas

Uma semana após o anúncio do presidente Donald Trump de uma tarifa de 50% sobre diversos produtos brasileiros, a expectativa era de caos no mercado financeiro. Dólar disparando, Ibovespa despencando… A realidade, porém, foi bem diferente! Olha só: desde que a medida entrou em vigor na quarta-feira, dia 6, o impacto foi mínimo, quase imperceptível. Na verdade, o dólar até se desvalorizou 3,62% neste mês, enquanto a Bolsa subiu 1,98%! Incrível, né?

Mais que isso: o dólar atingiu seu menor valor em um ano e meio, e a Bolsa está a apenas 3% de seu recorde histórico. Como explicar esse cenário tão inusitado? Especialistas ouvidos pelo g1 apontam que, apesar do tarifaço poder sim causar prejuízos à economia brasileira, o pessimismo inicial diminuiu bastante.

Um dos motivos principais? Quase 700 produtos escaparam do aumento de 50%, ficando com a tarifa de 10% – entre eles, suco de laranja, minério de ferro, fertilizantes e itens da aviação civil. Leonel Mattos, analista sênior de Inteligência de Mercado da StoneX, explica que, para muitos investidores que previam um aumento generalizado, o tarifaço acabou sendo “menos pior” do que o esperado. “A preocupação com o impacto no Brasil caiu bastante após a divulgação da ordem executiva, que incluiu várias exceções. Dos produtos exportados para os EUA, cerca de 36% foram atingidos pela tarifa de 50%”, afirma Mattos.

Tarifaço “já precificado”? Parece que sim! Outro fator que amenizou o impacto foi a ausência de um efeito sistêmico na economia brasileira. Afinal, o tarifaço afetou apenas parte das exportações para os EUA. Boa parte desse risco já estava embutida nos preços, segundo os especialistas. Marco Noernberg, sócio da Manchester Investimentos, lembra que a Bolsa já vinha caindo antes mesmo da aplicação das tarifas. Em julho, o Ibovespa teve sua pior queda mensal do ano (4,17%), a maior desde dezembro de 2024. Mesmo assim, Noernberg destaca que a estimativa de impacto negativo no PIB é de apenas 0,1% – ruim, mas insuficiente para desestabilizar o mercado. “Não é positivo, mas também não é algo que vá desestabilizar as ações. Grande parte do risco já estava incorporada, e as empresas mais afetadas sentiram os efeitos antes mesmo da aplicação das tarifas”, completa. Ou seja, o mercado já havia ajustado suas posições antes da medida entrar em vigor, o que explica a queda da Bolsa no mês anterior.

A queda do dólar, por sua vez, tem pouco a ver com o tarifaço brasileiro. A desvalorização – que levou a moeda americana a níveis próximos aos de junho de 2024 – está mais ligada ao cenário político e econômico dos EUA. Dados do Banco Central mostram que, entre 13 de julho e 13 de agosto, o real se valorizou 3,7% em relação ao dólar – a maior alta entre as principais moedas globais, mesmo com o tarifaço. Outras moedas também se valorizaram: rand sul-africano (+1,8%), forint húngaro (+1,3%), peso chileno (+1,2%), libra esterlina (+0,5%), peso mexicano (+0,8%), zloty polonês (+0,1%) e euro (+0,1%).

Mattos, da StoneX, explica que essa queda do dólar reflete a perda de confiança dos investidores nos EUA, em parte devido ao temor de interferências políticas nas instituições econômicas. “A própria Casa Branca piora o cenário ao anunciar medidas e recuar depois, gerando insegurança jurídica e desconfiança. Com menos investimentos nos EUA e no dólar, o dinheiro acaba indo para outros países e moedas”, analisa.

Além da instabilidade causada pelas decisões de Trump, a economia americana mostra sinais de estagflação – crescimento fraco, inflação alta e aumento do desemprego. Esse cenário dificulta ainda mais a tarefa do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, que já enfrenta desafios como as tarifas impostas por Trump e a desvalorização do dólar (que encarece importações e pressiona preços). “O Fed está em uma encruzilhada: reduzir juros para evitar uma desaceleração ou aumentá-los para controlar a inflação”, afirma Mattos. A taxa de juros nos EUA está entre 4,25% e 4,5% ao ano. Segundo o FedWatch, da CME, 84% dos investidores apostam em um corte já em setembro.

A política de juros dos EUA também afeta o Brasil. André Muller, estrategista e economista da AZ Quest, destaca que esse é um dos fatores mais importantes para a trajetória do real nos próximos meses. “Se aumentar a expectativa de cortes de juros pelo Fed, o dólar deve continuar caindo frente a várias moedas, incluindo o real”, prevê. Na Bolsa, a situação é semelhante. Noernberg, da Manchester Investimentos, explica que, quando os títulos soberanos dos EUA (considerados de baixo risco) oferecem menos retorno, investidores buscam mercados com retornos maiores – e acabam vindo para o Brasil, beneficiando o real e o Ibovespa. “Um corte de juros pelo Fed pode impulsionar a Bolsa e pressionar o dólar para baixo”, conclui.

Fonte da Matéria: g1.globo.com