A decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros nos EUA, que entra em vigor em uma semana, vai mexer com o mercado, principalmente com carne, café e tilápia. Mas, e o consumidor brasileiro? Será que vai sentir no bolso? Na real, não diretamente. A taxa extra vai ser paga pelas empresas americanas que importam esses produtos. Aliás, alguns itens, por estarem em uma lista de exceções, só vão pagar 10%, e não 50%.
Ainda assim, o impacto indireto pode ser grande. Se os americanos não quiserem arcar com o custo extra, as vendas de produtos brasileiros podem cair. Aí, os produtores brasileiros sentem o baque, e os preços dos alimentos aqui podem mudar, seguindo tendências já existentes.
Olha só o que especialistas e economistas disseram ao g1 sobre o que pode acontecer:
**Carne:** No começo, o preço da carne *pode* até cair um pouco, já que a demanda americana diminui. Mas, depois, a tendência é de alta. Por quê? Porque o abate de animais deve diminuir – algo que já era esperado e agora pode piorar com o tarifaço. Wagner Yanaguizawa, especialista em proteína animal do Rabobank, explica que os pecuaristas já estavam segurando mais fêmeas para reprodução. Com a queda nas vendas para os EUA, a tendência é que menos animais sejam destinados à engorda e ao abate. Cesar de Castro Alves, gerente de Consultoria Agro do Itaú BBA, confirma: isso já está acontecendo com os animais que seriam exportados para os EUA. Os EUA são o segundo maior comprador de carne bovina brasileira (12% das vendas), atrás apenas da China (quase metade das exportações). Os americanos compram principalmente a parte dianteira do boi (hambúrguer). As outras partes são enviadas para outros países ou ficam no mercado interno. Yanaguizawa acredita que parte da produção pode ser redirecionada para outros países, como o Egito, que tem alta demanda. O Brasil tem uma vantagem: países concorrentes, como EUA e Austrália, também reduziram a produção por problemas sanitários. Yanaguizawa estima uma redução de 2% na oferta global de carne. Antes da alta, porém, pode haver uma breve queda de preços para o consumidor brasileiro. A China, principal compradora, está pressionando por preços menores, o que pode frear temporariamente as exportações. O custo da ração também caiu. O preço do boi gordo caiu 7,21% em um mês (até 29/07), segundo o Cepea. “Aqui nós vamos ver o boi cair e, lá na frente, ver a carne subir mais ainda”, resume Alves. Estima-se uma perda de US$ 1 bilhão em 2025 nas vendas de carne bovina para os EUA, caso a tarifa se mantenha.
**Café:** O setor cafeeiro acredita que, pelo menos inicialmente, o tarifaço não vai afetar os preços do café no Brasil. A expectativa é que exportadores brasileiros e importadores americanos cheguem a um acordo para manter o comércio. Se as exportações continuarem, o café não precisará ser redirecionado para o mercado interno, e os preços devem seguir em queda. Em julho, o preço caiu 0,36%, a primeira queda em um ano e meio (IPCA-15). A baixa é puxada pela expectativa de aumento da safra de café robusta (que não é o tipo mais exportado para os EUA; os americanos preferem o arábica). Celírio Inácio, diretor executivo da Abic, destaca que os importadores americanos ainda têm estoque de café não taxado. Trump determinou que produtos embarcados até 6 de agosto não serão taxados, mesmo chegando aos EUA depois. A colheita só acontece uma vez ao ano, o que atrasa qualquer impacto. “Esses movimentos não acontecem da noite para o dia”, afirma Fernando Maximiliano, analista da StoneX. O cenário de médio e longo prazo é incerto, principalmente por causa da duração da tarifa. Os EUA são os maiores importadores de café brasileiro (16% das exportações), e o Brasil é o principal fornecedor para os EUA (cerca de um terço do mercado). Se a tarifa persistir, os EUA podem buscar outros fornecedores, e o Brasil teria que vender para outros países. Isso causaria uma oscilação de preços no Brasil, “tanto para cima quanto para baixo”. A produção brasileira poderia diminuir em alguns anos, elevando os preços. Mas, a médio prazo, a manutenção das tarifas *pode* reduzir os preços no Brasil, devido ao aumento da oferta interna.
**Tilápia:** A tilápia é o peixe brasileiro mais exportado, e 90% vão para os EUA. Essa dependência é muito maior que a da carne e do café. Com a taxa de 50%, a produção será redirecionada para o mercado interno, aumentando a oferta e pressionando os preços para baixo, segundo Francisco Medeiros, presidente da PeixeBR. Matheus Do Ville Liasch, analista do Cepea/USP, reforça essa projeção, mas diz que o repasse ao consumidor será lento e imprevisível. Para a indústria, porém, o cenário é preocupante. Eduardo Lobo, presidente da Abipesca, alerta que absorver o volume destinado aos EUA no mercado interno não é viável economicamente. A médio e longo prazo, a taxação pode até encarecer o produto para os brasileiros.
Em resumo: o tarifaço de Trump pode ter consequências complexas e imprevisíveis para os preços de alimentos no Brasil, com impactos diferentes em cada setor. A situação exige acompanhamento constante.
Fonte da Matéria: g1.globo.com