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Tarifaço de Trump: Indústria de Pescado Brasileira em Busca de Sobrevivência

O chamado “tarifaço” imposto pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em agosto de 2019, causou um verdadeiro tsunami no setor de pescado brasileiro. No interior paulista, toneladas de tilápias prontas para o abate aguardam um destino incerto. Afinal, mais de 60% das exportações brasileiras eram destinadas aos EUA. Com a taxa de 50% sobre os produtos brasileiros, o cenário é, no mínimo, preocupante. Lucros minguam e empregos estão na corda bamba.

A Fider Pescados, segunda maior exportadora de tilápia do país, ilustra bem a crise. Com 400 tanques de criação e engorda no rio Grande, em São Paulo, a empresa processa 9.600 toneladas de tilápia por ano em seu frigorífico em Rifaina. Antes do tarifaço, 40% dessa produção rumava para os Estados Unidos. Agora? Quase um terço das exportações já foi por água abaixo.

“A gente espera que as exportações para os EUA cheguem a zero, sabe? Cinquenta por cento de taxa é inviável!”, desabafa Juliano Kubitza, diretor da Fider. A situação é crítica porque o ciclo de vida da tilápia leva oito meses. “Não é como o frango, com seu ciclo de 40 dias. O peixe é um trem em movimento; não dá pra frear de repente!”, lamenta Kubitza.

A corrida contra o tempo para encontrar novos mercados está a todo vapor. Mas, na real, não existem outros países com o mesmo apetite por tilápia dos americanos. A Associação Brasileira das Indústrias de Pescados estima que cerca de 20 mil trabalhadores podem ser afetados por cortes e paralisações. Em Rifaina, cidade pequena com cerca de 4 mil habitantes, a Fider emprega cerca de 500 pessoas.

“Já avisei a equipe: ‘gente, esse tarifaço vai nos atingir. Vai impactar nossos empregos e a produção, porque a gente exporta muito'”, conta Sérgio Secco, 43 anos, líder de equipe na Fider. O medo de demissões paira sobre os funcionários. Rafaela Ferreira do Nascimento, 26, que trabalha na linha de produção, confessa a apreensão. Mas, por enquanto, demitir não é uma opção viável: reduzir o pessoal impediria o processamento das toneladas de tilápia já prontas.

A saída imediata parece ser o mercado interno, que já absorve metade da produção. Mas conquistar novos clientes não é tarefa fácil. A Fider precisará baixar os preços, o que não agrada a todos. “Com essa história de taxas, a Fider veio com um preço camarada. Mas eles sempre venderam caro, e agora não vamos comprar”, afirma o dono de um restaurante local, que preferiu não se identificar.

Até um plano de expansão de produção, que previa um aumento de 35%, foi suspenso. “Os próximos meses serão decisivos. Agora é manter a calma e procurar novos compradores”, afirma Kubitza, resumindo a situação da Fider e, de certa forma, de todo o setor pesqueiro brasileiro. A incerteza paira no ar, e a pressão para encontrar alternativas viáveis é imensa.

Fonte da Matéria: g1.globo.com