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Tarifaço de Trump: Agro brasileiro sofre golpe bilionário, mas EUA também sentem o impacto

A partir de 6 de julho, produtos brasileiros enfrentaram um aumento de 50% nas tarifas de importação para os EUA, um verdadeiro “tarifaço” imposto por Trump. Isso atingiu em cheio o agronegócio brasileiro, afetando itens importantes como café, carne bovina e pescados. A previsão é de prejuízos bilionários para o Brasil, além de um encarecimento de produtos no mercado americano. Vamos analisar os principais impactos em cinco pontos:

1. **Poucas exceções, muito prejuízo:** De todas as exportações brasileiras para os EUA, poucos produtos escaparam do “tarifaço”. Na lista de quase 700 exceções à taxa de 50%, constam apenas o suco de laranja, castanha-do-pará, madeira, polpa de celulose e sisal. Para esses itens, a sobretaxa é de apenas 10%, bem menor que os 50% cobrados dos demais. Olha só: os produtos florestais, que lideram as exportações brasileiras para os EUA em volume e valor, estão entre os pouquíssimos contemplados. Já o café e as carnes, importantes produtos brasileiros, foram pegos de cheio.

2. **O peso dos EUA no agro brasileiro:** Os EUA são o terceiro maior parceiro comercial do agronegócio brasileiro, atrás apenas da China e da União Europeia. Produtores estimam perdas de até US$ 5,8 bilhões se as vendas diminuírem por causa do aumento de tarifas. O café, principal produto exportado para os EUA, é o mais afetado. A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) estima perdas de até US$ 481 milhões só este ano. “O Brasil é insubstituível para os EUA, assim como os EUA são insubstituíveis para o Brasil”, afirma Marcos Matos, do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café). A China importa bem menos café do que os EUA, apenas a Alemanha se aproxima do volume importado pelos americanos. A situação da carne bovina é diferente. Os EUA são o segundo maior mercado para o Brasil, mas a China continua disparada na frente, absorvendo quase a metade das exportações brasileiras. Mesmo assim, uma queda nas vendas para os EUA representaria uma perda de US$ 1 bilhão em 2025, segundo a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne). Outros setores, como pescados, mel e frutas (principalmente manga), também dependem muito do mercado americano e foram impactados.

3. **Brasil e EUA perdem: uma situação de prejuízo mútuo:** O café e a carne bovina são os produtos mais afetados pela tarifa de 50%, e sua falta será sentida nos EUA. Os EUA são o maior consumidor mundial de café, mas sua produção interna é praticamente nula, importando 99% do que consome. O Brasil supre cerca de 30% dessa demanda. Encontrar um substituto rápido para essa quantidade é praticamente impossível. No caso da carne bovina, o Brasil é o principal fornecedor para as indústrias americanas, que a processam em hambúrgueres, por exemplo. Embora os EUA importem mais carne da Austrália, são os cortes brasileiros os mais usados na indústria. A situação é ainda mais preocupante porque os EUA já enfrentam escassez de bois para abate, gerando inflação na carne. O “tarifaço” só agrava esse cenário.

4. **Preços no Brasil: a complexa equação da oferta e demanda:** A lógica indica que menos vendas para os EUA significariam mais oferta no mercado interno e, consequentemente, preços mais baixos. Mas economistas consultados pelo g1 discordam. Para a carne bovina, a expectativa é de uma queda inicial de preços, mas de curta duração. O “tarifaço” já está levando os produtores a reduzir o abate, tendência que se manteria com ou sem a medida de Trump. Assim, a oferta deverá diminuir, e os preços subirão. Já os preços do café, que vinham caindo após um longo período de alta, não devem ser afetados imediatamente. O setor espera que as vendas para os EUA não parem completamente e aposta na possibilidade de negociação para um alívio das tarifas. Os grãos da safra atual poderiam até esperar até 2026 para serem exportados.

5. **Redistribuir as exportações: uma tarefa hercúlea:** Redistribuir as exportações para outros países não será tarefa fácil. Para o café, a complexidade é grande, pois cada mercado tem suas exigências específicas de qualidade, tipo de grão e normas fitossanitárias. A situação é semelhante para o mel. No caso da carne bovina, nenhum outro mercado conseguiria substituir a rentabilidade dos EUA imediatamente. Além disso, existem as preferências de consumo. Os americanos preferem cortes da parte dianteira do boi (para hambúrgueres), enquanto o consumo brasileiro se concentra mais na parte traseira (picanha, alcatra, etc.).

Fonte da Matéria: g1.globo.com