Em 30 de julho, o então presidente americano, Donald Trump, decretou um tarifaço de 50% sobre diversos produtos brasileiros. A bomba explodiu! Mas, calma, nem tudo está perdido. Quase 700 itens escaparam da taxação, um alívio para setores como o de suco de laranja e aviação. Isso representa cerca de 43,4% das exportações brasileiras para os EUA em 2024. Ainda assim, cerca de 3,8 mil itens ficaram na mira da sobretaxa.
A notícia, claro, preocupou indústrias brasileiras. Afinal, exportar para os EUA pode ficar inviável para algumas. E qual o impacto disso no consumidor americano? A resposta não é imediata, mas a gente já consegue projetar alguns cenários.
Uma possibilidade é a redução das importações brasileiras, forçando os EUA a aumentar sua produção interna ou a buscar novos fornecedores. Se nenhuma dessas alternativas funcionar, a oferta de certos produtos pode diminuir nos EUA. Sem uma redução na demanda, o resultado? Preços nas alturas!
Existe outro cenário também. Se os americanos estiverem pouco dispostos a mudar seus hábitos de consumo, mesmo com o aumento de preço, as importações podem continuar, mas com o custo da tarifa repassado, total ou parcialmente, para o consumidor final.
Um estudo do The Budget Lab, da Universidade de Yale, publicado em 28 de julho, já previa um aumento de 1,8% na inflação americana no curto prazo com as tarifas anunciadas até então. Isso significaria uma perda de US$ 2.400 (cerca de R$ 13.400 na época) por domicílio em 2025.
A BBC News Brasil analisou a lista de produtos tarifados e dados da US International Trade Commission e do Observatory of Economic Complexity para identificar sete itens que podem ficar mais salgados para o americano comum:
**1. Café:** Os EUA são os maiores consumidores de café do mundo e dependem muito do Brasil, que fornece cerca de um terço de suas importações. Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil, disse à BBC News Brasil que seria difícil para os EUA encontrar um substituto à altura do café brasileiro. A Colômbia, segundo maior fornecedor, responde por apenas 8% da produção global, bem menos que os 37% do Brasil. O Vietnã, segundo maior produtor mundial, também não teria capacidade para suprir uma demanda maior. A Tax Foundation destacou que, mesmo com o aumento de preço, alguns consumidores podem preferir manter o café brasileiro por seu sabor único.
**2. Manga e Goiaba:** O Brasil é o quarto maior fornecedor dessas frutas para os EUA, com cerca de US$ 56 milhões em exportações em 2024. O México lidera com folga. Os EUA também produzem mangas e goiabas, mas em quantidades muito menores. Produtores brasileiros já relatam cancelamentos de pedidos por conta da tarifa. O The Budget Lab estima um aumento de 6,9% nos preços de frutas e legumes.
**3. Carne:** O Brasil é o maior exportador mundial de carne e responde por 23% das importações americanas (Genial Investimentos). A Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos) alertou para a inviabilidade das exportações com a tarifa de 50%. Apesar de os EUA também serem grandes produtores, o The Budget Lab estima um aumento de 1,1% nos preços da carne bovina. Vale lembrar que os preços da carne já estavam altos nos EUA antes mesmo do tarifaço, devido a um consumo crescente e rebanho estável.
**4. Açúcar Orgânico:** Os EUA importam quase todo o açúcar orgânico que consomem, e o Brasil fornecia 49% entre 2023 e 2024 (USDA). A Organic Trade Association alertou para o impacto em diversas cadeias produtivas, já que produtos orgânicos precisam usar açúcar orgânico certificado pela USDA. Iogurtes, sorvetes, achocolatados, kombucha e barras de cereal, entre outros, podem ficar mais caros.
**5. Chocolate:** O Brasil é um fornecedor importante de manteiga de cacau para os EUA, matéria-prima essencial do chocolate. O preço do chocolate já vinha aumentando globalmente devido a problemas climáticos e pragas nas principais regiões produtoras de cacau na África. A tarifa pode piorar a situação.
**6. Carros:** A tarifa de 50% sobre metais, incluindo aço e alumínio (já sobretaxados em junho), impacta fortemente a indústria automobilística. O Brasil é o segundo maior fornecedor de aço para os EUA e o maior exportador de nióbio, usado em ligas de aço para chassis e barras de proteção. O aumento de preço nos metais foi estimado em 39,4% no curto prazo pelo The Budget Lab, e 17,9% no longo prazo (após a adaptação do consumidor). A medida foi elogiada por sindicatos e empresas do setor siderúrgico americano, mas criticada por outros setores que usam aço como matéria-prima, como a indústria de enlatados.
**7. Outros produtos:** A alta nos preços de diversos produtos, além dos mencionados acima, é esperada. Afinal, o Brasil exporta uma grande variedade de commodities para os EUA. O impacto da tarifa dependerá de vários fatores, incluindo a elasticidade da demanda e a capacidade dos EUA de encontrar alternativas.
Em resumo: o tarifaço de Trump teve um impacto considerável, e os americanos podem sentir no bolso o peso dessa decisão.
Fonte da Matéria: g1.globo.com