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** Tarifa de 50% dos EUA: Embraer prevê rombo de R$ 20 bilhões e busca soluções

** A Embraer tá numa situação complicada por causa da tarifa de 50% que o presidente Donald Trump impôs ao Brasil. Com boa parte da receita vindo dos EUA e poucas opções de expandir vendas em outros países, a empresa se vê diante de um cenário preocupante. A estimativa? Um prejuízo de R$ 20 bilhões até 2030!

Segundo analistas do mercado financeiro e o próprio presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, essa tarifa vai encarecer muito os aviões. Diferente de outros setores, nos contratos de venda de aeronaves, geralmente as companhias aéreas pagam as tarifas de importação do país de destino. E, olha só, elas podem não querer arcar com esse custo extra, não tá fácil!

“O mercado de aviação não é lá essas coisas em termos de lucro, a margem de lucro é apertada demais para absorver esse aumento de custo”, explicou Alberto Valerio, analista do UBS BB. A Embraer calcula um custo adicional de R$ 50 milhões por avião se a tarifa de 50% se confirmar – um absurdo!

“Isso é um custo altíssimo. Difícil uma companhia aérea aceitar pagar tanto”, disse Gomes Neto a jornalistas na terça-feira (15). A consequência? Algumas empresas podem cancelar pedidos ou atrasar as entregas, esperando uma definição sobre o impacto das tarifas.

“Isso vai levar a uma revisão do nosso plano de produção, redução de investimentos, queda na receita e rentabilidade, além de um possível ajuste no quadro de funcionários”, completou o presidente da Embraer. A empresa prevê R$ 2 bilhões em tarifas só este ano, podendo chegar a R$ 20 bilhões até 2030. Um impacto comparável ao da pandemia de Covid-19, segundo Gomes Neto. Na época, a Embraer teve uma queda de 30% na receita e reduziu cerca de 20% de seus funcionários por causa das restrições de viagens.

Mas por que não vender para outros mercados? Aí que tá o problema! Não é tão simples assim. “Avião não é commodity, gente. Não dá para simplesmente redirecionar os pedidos. Tem aviões que só vendemos para o mercado americano. Os EUA são nosso maior mercado, não tem como mudar isso da noite para o dia”, explicou Gomes Neto.

Isso porque alguns aviões são feitos sob medida para atender às cláusulas de escopo dos sindicatos americanos, as famosas “scope clause”. Essas cláusulas definem os tipos de aeronaves que companhias regionais podem operar. O modelo E175 da Embraer, por exemplo, é um dos poucos que atendem a esses requisitos.

Valerio, do UBS BB, reforça: “Cerca de 35% a 36% dos aviões da Embraer são feitos para o mercado norte-americano”. Esses modelos têm pouca procura em outros países, dificultando a redistribuição.

Gomes Neto disse ao g1 que a Embraer vem buscando alternativas desde que Trump anunciou uma taxa de 10% sobre produtos brasileiros, em abril. Uma possibilidade? Ampliar a produção nos EUA. Mas, segundo ele, isso é mais viável para jatos executivos do que para aeronaves comerciais. A demanda por aviões comerciais tá baixa, com previsão de cerca de 45 pedidos por ano nos próximos 10 anos. Difícil justificar um investimento enorme numa produção estável, né?

“Ainda não temos um plano definido para contornar as tarifas. Nossos times estão trabalhando nisso, mas o impacto no curto prazo vai ser muito difícil”, admitiu.

**E o governo brasileiro?** Outro risco é a possibilidade do governo aplicar a Lei de Reciprocidade Econômica. Cerca de 45% dos custos de produção das aeronaves da Embraer são de equipamentos dos EUA. Se o Brasil aplicar a lei, a empresa terá aumento de custos na exportação de aviões e na importação de componentes americanos.

Sancionada em abril pelo presidente Lula, a lei permite contramedidas a retaliações comerciais externas. “Se o governo decidir aplicar a Lei de Reciprocidade, é game over”, afirma Valerio.

**Negociações:** O anúncio da tarifa de 50% pegou todos de surpresa. Na terça-feira (15), o vice-presidente Geraldo Alckmin se reuniu com empresários para discutir os impactos. Eles pediram ao governo uma negociação com os EUA para adiar a tarifa por 90 dias. Mas o governo não pretende pedir esse adiamento.

A Câmara de Comércio dos EUA e a Amcham pediram uma negociação de “alto nível”. Gomes Neto, que participou das reuniões com Alckmin, se mostrou otimista. “O acordo entre EUA e Reino Unido teve concessões de ambas as partes. A taxa aeroespacial era de 10% e foi para zero”, lembrou, demonstrando esperança de um resultado semelhante. “Nosso time tem trabalhado muito nisso. Temos tido reuniões com autoridades americanas de alto nível, eles compreendem a relevância da Embraer, mas esperam avanços concretos na negociação bilateral. Apesar de tudo, estou otimista”, concluiu.

Fonte da Matéria: g1.globo.com