** A ameaça de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelo então presidente dos EUA, Donald Trump, em 2024, causou um verdadeiro terremoto no comércio exterior brasileiro. Se aplicada a partir de 1º de agosto, a medida poderia reduzir drasticamente nossas exportações para os EUA, o segundo maior destino de nossos produtos, atrás apenas da China. Olha só: só em 2024, foram US$ 40,4 bilhões em vendas para o mercado americano – 12% do total exportado pelo Brasil naquele ano! Na prática, uma tarifa desse tamanho tornaria a importação de muitos produtos brasileiros inviável para empresas americanas.
Com a data se aproximando e sem acordo à vista entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, setores importantes da nossa economia precisam, urgentemente, encontrar novos compradores para seus produtos. E isso, meus amigos, não é tarefa fácil.
Especialistas consultados pelo g1 concordam que alguns países *podem* absorver parte do excedente, mas com ressalvas. A situação é bem específica para cada setor. Para uns, a mudança de rota pode ser tranquila; para outros, um verdadeiro pesadelo. E, claro, a agilidade na realocação desse excedente é crucial. “Redirecionar é possível, mas demanda tempo e negociações complexas, não é tão simples assim”, explica André Galhardo, economista-chefe da Análise Econômica.
**Quais produtos brasileiros são mais afetados?**
Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) apontam petróleo, ferro, aço, café e carne entre os principais produtos exportados para os EUA. Entre janeiro e junho de 2025, as vendas foram:
* Óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos: US$ 2,37 bilhões
* Produtos semimanufaturados de ferro ou aço (baixo carbono): US$ 1,49 bilhão
* Café não torrado, não descafeinado: US$ 1,16 bilhão
* Carnes bovinas desossadas e congeladas: US$ 737,8 milhões
* Ferro-gusa (ferro fundido bruto não ligado): US$ 683,6 milhões
* Celulose (pasta química de madeira não conífera): US$ 668,6 milhões
* Óleos combustíveis e preparações de petróleo: US$ 610,2 milhões
Mas não são só esses. O suco de laranja, por exemplo, teve 41,7% de suas exportações brasileiras destinadas aos EUA na safra 2024/25. E a Embraer? A gigante da aviação teve 63% de suas exportações para o mercado americano no mesmo período, segundo o BTG Pactual. Isso é preocupante!
**Para onde redirecionar?**
Commodities como café, suco de laranja e açúcar, segundo o consultor Welber Barral, são mais fáceis de realocar, pois seus preços são definidos internacionalmente. “Commodity com preço internacional se vende em vários lugares, dependendo da demanda. Às vezes o preço cai um pouco, mas sempre se encontra um comprador”, afirma Barral.
Já produtos mais específicos e de maior valor agregado, como autopeças para montadoras, por exemplo, são bem mais difíceis de redirecionar. A Embraer, com 23,8% de sua receita vindo dos EUA (XP Investimentos), viu suas ações caírem quase 11% na semana do anúncio da tarifa, mostrando o impacto. “Ninguém vende tantos aviões executivos nos EUA quanto a Embraer”, destaca Galhardo. Até mesmo para um mercado gigante como o chinês, transferir essa demanda seria um desafio enorme.
Jackson Campos, especialista em comércio exterior, reforça que redirecionar *toda* a produção para outros países em curto prazo é quase impossível. Países como China, Índia, Vietnã, Indonésia, Emirados Árabes Unidos, México e alguns da Europa *poderiam* absorver parte da produção, mas nenhum substituiria os EUA sozinho. A China, apesar de ser nossa maior parceira comercial, enfrenta desaceleração e restrições em setores como aço e petróleo. Para produtos como petróleo, celulose e carne, a Ásia poderia ser uma alternativa, mas nada garante. A Reuters informou que produtos sob investigação da Seção 232 (semicondutores, minerais críticos e farmacêuticos) poderiam ficar isentos, assim como petróleo e derivados – mas essa isenção ainda é incerta.
**Quais são as oportunidades?**
Barral acredita que a Ásia ganhará protagonismo nas relações comerciais com o Brasil caso a tarifa se confirme, acelerando nossa dependência desses mercados. Galhardo sugere focar em países com os quais já temos boas relações, especialmente os interessados em se juntar ao Brics (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Egito, Arábia Saudita, Etiópia, Indonésia e Irã), além do Sudeste Asiático e, claro, a China. Mas a grande oportunidade estratégica, segundo ele, é a aproximação com a União Europeia (UE). Poderíamos fortalecer laços e exportar mais bens tecnológicos e manufaturados para a região, aproveitando o descontentamento de alguns países europeus com o acirramento comercial com os EUA. Campos, por sua vez, ressalta a forte concorrência interna na UE e sugere acelerar acordos com Índia e Indonésia, além de aprofundar o Mercosul com África e Oriente Médio. O cenário é complexo, mas o Brasil precisa agir rápido e estrategicamente para minimizar os danos.
Fonte da Matéria: g1.globo.com