A Suprema Corte dos EUA deu aval ao governo Trump para continuar prendendo imigrantes com base em sua raça ou idioma. Olha só, a decisão veio após um pedido do Departamento de Justiça para suspender uma ordem da juíza distrital Maame Frimpong, de Los Angeles. Em 11 de julho, ela havia proibido agentes do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA) de deter pessoas sem “suspeita razoável” de imigração ilegal – tipo, só por falarem espanhol ou inglês com sotaque.
A juíza Frimpong considerou que as ações do governo Trump violavam a Quarta Emenda da Constituição americana (proteção contra buscas e apreensões ilegais). A decisão valia para a jurisdição dela, que cobre boa parte do sul da Califórnia. Três juízes liberais da Suprema Corte discordaram abertamente da decisão.
A confusão toda começou com um processo coletivo de latinos detidos pelo ICE, incluindo alguns cidadãos americanos. Um dos autores da ação, Jason Gavidia, afirma que foi agredido por agentes que duvidaram de sua cidadania e exigiram o nome do hospital onde nasceu. O processo descreve a situação assim: “Indivíduos de pele morena são abordados ou parados por agentes federais não identificados, de repente e com demonstração de força, e obrigados a responder perguntas sobre quem são e de onde vêm”.
Em 1º de agosto, o 9º Tribunal de Apelações, em São Francisco, havia negado o pedido do governo para suspender a ordem de Frimpong. O Departamento de Justiça, na sua argumentação, disse – e eu achei isso no mínimo irônico – que “ninguém acha que falar espanhol ou trabalhar na construção civil *sempre* gera suspeita razoável”. Mas, segundo eles, os agentes de imigração “têm o direito de se basear nesses fatores ao intensificar a aplicação das leis de imigração”.
Com essa decisão da Suprema Corte, o governo Trump consegue seguir com políticas que já haviam sido bloqueadas por tribunais inferiores. Com a maioria conservadora (6 a 3), a Suprema Corte tem dado ganho de causa a Trump na maioria desses casos. Isso é, no mínimo, preocupante.
**Megaoperação na Geórgia:**
Na quinta-feira (4), agentes de imigração prenderam 475 trabalhadores em uma fábrica da Hyundai na Geórgia. A informação foi confirmada pelo governo Trump na sexta-feira (5), que alegou que muitos não tinham autorização de trabalho, possuindo apenas vistos temporários para turismo ou negócios.
Em entrevista coletiva no Salão Oval, Trump afirmou que os detidos eram “imigrantes ilegais” e que as autoridades estavam “fazendo seu trabalho”. Segundo o porta-voz do Departamento de Segurança Interna, o ICE agiu com mandados judiciais por suspeitas de práticas ilegais de emprego e outros crimes federais. Há uma investigação em andamento. Um comunicado do DHS destacou o “comprometimento em proteger empregos para os georgianos, garantindo igualdade de condições para empresas que cumprem a lei, salvaguardando a integridade de nossa economia e protegendo os trabalhadores da exploração”.
Um vídeo que viralizou nas redes sociais mostra um agente do HSI (Homeland Security Investigations) dizendo aos trabalhadores: “Temos um mandado de busca para todo o local. Precisamos que a construção cesse imediatamente. Precisamos que todo o trabalho no local termine agora mesmo”. O Departamento de Justiça relatou que várias pessoas tentaram fugir, algumas precisando ser resgatadas de um lago de esgoto.
A porta-voz da Casa Branca, Abigail Jackson, declarou que o governo continuará aplicando as leis sobre trabalhadores estrangeiros. “Todos os trabalhadores estrangeiros trazidos para projetos específicos devem entrar nos Estados Unidos legalmente e com as devidas autorizações de trabalho. O presidente Trump continuará cumprindo sua promessa de tornar os Estados Unidos o melhor lugar do mundo para se fazer negócios, ao mesmo tempo em que aplicará as leis federais de imigração”, disse ela.
Já o Partido Democrata da Geórgia condenou a operação, chamando-a de “táticas de intimidação politicamente motivadas”. A ação, a maior operação em um único local na história do DHS, representa mais um capítulo na escalada da repressão imigratória do governo Trump. As detenções interromperam as obras na fábrica, um dos maiores investimentos da Hyundai nos EUA.
Fonte da Matéria: g1.globo.com