Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança russo e aliado próximo de Vladimir Putin, mandou um recado claro na terça-feira (15): a Rússia tá pouco se importando com as ameaças de Donald Trump. O ex-presidente americano havia dado um ultimato ao Kremlin: cessar-fogo na Ucrânia em 50 dias ou enfrentar tarifas pesadas – 100% sobre as importações russas e de seus aliados. Medvedev, em postagem no X (antigo Twitter), escreveu em inglês: “Trump lançou um ultimato teatral. O mundo tremeu, esperando o pior. A beligerante Europa ficou decepcionada. A Rússia? Nem aí”.
A declaração bombástica de Trump, feita na segunda-feira, causou um rebuliço. O Kremlin classificou as palavras como “sérias” e disse que precisaria analisá-las com calma. A reação russa, no entanto, foi bem mais contida do que se esperava.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, confirmou a gravidade das declarações, enquanto o vice-chanceler Sergey Ryabkov acusou a Ucrânia de boicotar as negociações de paz. “A Rússia não aceita imposições, muito menos ultimatos”, disparou Ryabkov. Sergey Lavrov, o chanceler russo, foi mais pragmático. Ele disse que quer entender o que Trump quis dizer com esse prazo de 50 dias, já que “já vimos prazos de 24 horas, de 100 dias… precisamos entender a motivação”. Lavrov também se mostrou confiante na capacidade da economia russa de resistir a novas sanções, afinal, já superaram várias desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
Tanto Peskov quanto Ryabkov reiteraram a disposição russa para novas negociações diretas, mas o impasse continua. As exigências russas, que incluem a cessão de cerca de 20% do território ucraniano, são vistas como inaceitáveis pelos europeus. A Rússia também criticou abertamente a coordenação da OTAN no envio de armas à Ucrânia – inclusive as novas armas prometidas por Trump, que serão pagas pela aliança militar. Segundo agências estatais russas, como a RIA Novosti e a Tass, a OTAN “não está interessada na paz”.
A ameaça de Trump incluiu tarifas pesadas e o envio de mais armas para a Ucrânia. Ele afirmou que aplicaria tarifas de 100% à Rússia e seus aliados se não houvesse um acordo de paz em 50 dias, além das sanções já existentes. O comércio entre EUA e Rússia, diga-se, já é bastante reduzido, atingindo apenas US$ 3,5 bilhões em 2024, segundo o Escritório do Representante Comercial dos EUA. A nova leva de armas para a Ucrânia inclui mais sistemas de defesa aérea Patriot, considerados pelos russos uma “provocação”. Trump disse que alguns países da OTAN farão a troca de seus Patriots por outros, acelerando o fornecimento para a Ucrânia.
Essa postura mais dura de Trump marca uma mudança significativa. Desde que assumiu a presidência em janeiro de 2025, ele vinha se mostrando mais próximo de Putin, chegando a cogitar um cessar-fogo sem a participação da Ucrânia. Em fevereiro, inclusive, houve um climão na Casa Branca entre Trump e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, com acusações de incitar uma Terceira Guerra Mundial e o cancelamento antecipado da reunião. No entanto, a decepção com a falta de resultados de Putin, somada às críticas aos bombardeios na Ucrânia, parece ter levado Trump a rever sua estratégia.
Kaja Kallas, chefe da diplomacia da União Europeia, celebrou a postura mais firme de Trump contra a Rússia, mas achou o prazo de 50 dias muito longo: “É positivo, mas 50 dias é muito tempo enquanto civis inocentes são mortos diariamente”.
Fonte da Matéria: g1.globo.com