Vi seu vestido preferido encolher na máquina? Chato, né? Acontece com todo mundo, principalmente com quem segue direitinho as instruções da etiqueta! Mas por que algumas roupas parecem ter essa mania de diminuir depois da lavagem? A cientista têxtil Nisa Salim, da Universidade de Tecnologia de Swinburne, explica tudo pra gente. E, olha só, tem até dicas de como tentar recuperar sua peça!
Na real, tudo começa com as fibras. O algodão e o linho, por exemplo, vêm de plantas. Se você observar bem de perto, verá que essas fibras são bem irregulares, cheias de curvas e rugas. Isso acontece por causa das moléculas de celulose, que formam uma espécie de espiral.
Aí, na indústria têxtil, essas fibras são esticadas e torcidas pra ficarem retas e formarem os fios. Nesse processo, surgem ligações entre as moléculas de celulose, chamadas ligações de hidrogênio. Elas deixam a fibra mais forte e firme. Os fios, então, são tecidos ou tricotados, mantendo essa tensão.
Mas… e agora vem o pulo do gato… essas fibras têm memória! Quando expostas ao calor, à umidade ou àquela agitação toda da máquina de lavar, elas tentam voltar ao seu formato original, aquele todo enrugado. Essa é a razão pela qual algumas roupas amassam fácil e outras encolhem.
A lavagem, então, acelera esse processo. A água quente aumenta a energia das fibras, fazendo com que elas se mexam mais e rompam as ligações de hidrogênio. Tecidos de malha mais frouxa, com mais espaço entre os fios, são ainda mais afetados. Já os tecidos mais compactos, com trama fechada, são mais resistentes porque os fios estão mais presos.
Além disso, a celulose adora água (é hidrofílica!). A água penetra nas fibras, fazendo-as inchar e se moverem mais livremente. Junte a isso a força da lavagem e a centrifugação… Resultado? As fibras relaxam e a roupa encolhe. E não pense que só água quente faz isso não! Água fria também pode causar o problema, principalmente por causa da agitação da máquina. Pra minimizar o encolhimento, tente usar água fria, centrifugação mais baixa e o ciclo mais delicado.
A lã, aliás, tem um comportamento diferente. Essa fibra animal, feita de queratina, tem pequenas escamas (células de cutícula) que se abrem na lavagem e se emaranham, causando a feltragem e o encolhimento.
Já as fibras sintéticas, como poliéster e náilon, são mais resistentes ao encolhimento. Elas têm uma estrutura mais cristalina e organizada, que impede as fibras de enrugar tanto. A ciência, claro, não para! Pesquisadores estão desenvolvendo novos materiais, como fios mistos, que combinam fibras naturais e sintéticas, e polímeros com memória de forma, que mudam de formato em resposta à temperatura ou à água.
E se a sua roupa já encolheu? Não se desespere! Tente mergulhá-la em água morna com um pouco de condicionador ou xampu de bebê (uma colher de sopa por litro, mais ou menos). Estique o tecido delicadamente, tentando voltar ao formato original, e deixe secar na horizontal ou pendurada, com leve tensão. Os surfactantes presentes nos condicionadores lubrificam as fibras, deixando-as mais flexíveis. Isso não vai desfazer completamente o estrago, mas pode ajudar a recuperar um pouco do tamanho.
Em resumo: entender a ciência por trás das fibras têxteis pode evitar muitos problemas e até salvar aquela peça que você ama! E, claro, sempre leia a etiqueta da roupa antes de lavar! Isso ajuda bastante! *Nisa Salim é diretora do Laboratório Nacional de Testes Swinburne-CSIRO para Fabricação de Aditivos Compostos na Universidade de Tecnologia de Swinburne. **Este texto foi originalmente publicado no site do The Conversation Brasil.
Fonte da Matéria: g1.globo.com