Hits do funk como “Chupa Xoxota” (2017), “Popotão Grandão” (2020) e “Predador de Prereca” (2015) estão bombando nas redes sociais, mas numa roupagem bem diferente. Três dessas cinco músicas mais virais da semana passada no Spotify Brasil, segundo o próprio ranking da plataforma, ganharam versões retrô dos anos 80, tudo graças à inteligência artificial generativa. Olha só que ideia!
A transformação é radical. As letras picantes continuam lá, mas a música… essa mudou completamente! “Chupa Xoxota”, por exemplo, virou um soul romântico, lento e meigo, com aquela vibe anos 80. Já “Popotão Grandão” ganhou ares de balada disco, também da mesma época. “Predador de Prereca”, então? Esse tem até dois remixes: um com a energia dos anos 90 e outro que te leva direto pra década anterior. Incrível, né?
No Spotify e YouTube, a gente encontra esses remixes em perfis diferentes. Um deles, o Shawlas, é meio fantasma, com créditos bem confusos, sem citar os compositores originais. Isso gera alguns problemas legais, como a divisão dos lucros, sabe? A Blow Records, por outro lado, que assina os remixes de “Chupa Xoxota” e “Popotão Grandão”, além de um EP em parceria com o MC MM lançado este mês, é mais transparente nos créditos, apesar de ser um selo ainda amador.
Esse EP, “Blow Apresenta: Um Passado Inexistente Vol.1”, com seis faixas, reimagina os sucessos do MC MM. A graça toda tá no contraste: letras de funk bem ousadas em cima de batidas de jazz, blues, disco, soul e funk americano dos anos 50, 60, 70 e 80. Tipo, imagina “Louco de Selvagem” como um jazz com solos de saxofone, mantendo a letra original: “Quando abriu a catuaba/ começou a sacanagem/ a sacanagem/ ela ficou safadona/ e eu fiquei cheio de maldade”. É hilário! As outras faixas, “Adestrador de Cadela (1960)”, “Social, Narga e Piscina (1974)”, “Agora é Patrão (1980)”, “Mandelinha (1985)” e “Só Quer Vrau (1982)”, seguem a mesma fórmula.
Remasterizar funks com estética retrô não é novidade – lembra dos remixes do MC Poze do Rodo na pandemia? A diferença agora é o acesso facilitado a ferramentas de IA, que permite uma produção bem mais ampla e criativa. A Blow Records, por exemplo, usa IA também para criar videoclipes ultrarrealistas, curtos e focados no TikTok. Nos vídeos do EP do MC MM, o cantor aparece com visual black power e roupas que combinam com o estilo de cada música.
“Tem gente que comenta: ‘Não gosto de funk, mas essa versão ficou legal’. Às vezes, a pessoa nem imagina que a original é funk”, conta MM ao g1. “Esse trabalho tá levando a música para um público bem maior, até quem tem preconceito com o funk.”
A ideia do EP surgiu numa conversa entre MM e Raul Vinicius, o criador da Blow Records. “Levamos um mês para finalizar e lançar nas plataformas”, diz Raul. Um tempo relativamente curto, considerando que algumas distribuidoras ainda não aceitam músicas feitas com IA.
Raul, que gasta mais de R$ 1.000 por mês em ferramentas de IA, leva de uma a quatro horas para produzir um remix e cerca de 30 minutos para o vídeo. “A Blow Records sou eu e o robô”, brinca ele. “Mas não é só apertar um botão. Precisa de edição manual em alguns casos”. Ele não revela os programas usados, mas a tecnologia, segundo ele, é a cereja do bolo.
Aos 22 anos, Raul, estudante de publicidade e propaganda, trabalha com IA desde 2023, mas só começou a Blow no ano passado, como uma brincadeira. Inicialmente, ele remixou músicas de rap, como “Alma”, do TZ da Coronel, e “FE!N”, do Travis Scott. Depois, explorou o funk, um terreno fértil para o humor que ele busca.
Com mais de 5,6 milhões de curtidas no TikTok e 104 mil inscritos no YouTube, além de quase 210 mil ouvintes mensais no Spotify, a brincadeira virou um negócio de sucesso. Ele também tem uma marca de roupas online, a Pngoat. “Não sei quanto ganhei, mas não é nada astronômico… ainda!”, afirma Raul.
Antes de lançar um remix, Raul busca autorização dos autores originais e acerta a divisão de lucros com as distribuidoras. Artistas como MC Nego Bam, da música “Malandramente” (2016), e MC 2K, de “Chupa Xoxota”, aprovam a ideia e veem os remixes como um impulso na carreira.
Para criar os remixes, Raul usa uma playlist pessoal com sucessos dos anos 70 e 80 de artistas como James Brown, Cassiano e Tim Maia. Além dos remixes, ele lançou dois álbuns autorais, “The Blow Stars Vol. 1” e “The Blow Stars Vol. 2”, com a mesma pegada dos funks vintage. Ele mesmo escreve as letras e usa IA para compor as batidas. Ele se define como um “artista da geração Z”.
Fonte da Matéria: g1.globo.com