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Privacidade em Eventos: O Caso Coldplay e a Nova Realidade Online

A “Kiss Cam” do show do Coldplay no Rock in Rio 2022 pegou um casal de surpresa. Eles tentaram, sem sucesso, escapar dos holofotes, e, boom! A internet explodiu. Em questão de horas, o vídeo viralizou, gerando memes, paródias e uma verdadeira caça online para identificar os protagonistas da cena. Adivinhem? A Astronomer, empresa de inteligência artificial, confirmou que o casal era seu CEO e a diretora de RH. Resultado? Demissão do CEO no fim de semana.

Olha só, a repercussão foi enorme! Além das discussões sobre ética empresarial e responsabilidade corporativa, o caso levantou uma questão crucial: em nosso mundo cada vez mais conectado, existe ainda espaço para a privacidade, principalmente em eventos públicos? Na real, a resposta é bem complexa.

Especialistas afirmam que momentos antes considerados privados, confinados a um espaço físico específico, agora facilmente ganham projeção global na internet. A velocidade com que informações se espalham é assustadora. Câmeras estão em todo lugar! Empresas, escolas, estádios… a vigilância por vídeo é uma realidade 24/7. Shows, então, nem se fala! A “Kiss Cam”, por exemplo, já é quase um clássico, transformando espectadores em protagonistas, mesmo sem eles saberem. E com um smartphone na mão, qualquer um pode registrar e compartilhar qualquer coisa – e se o conteúdo for “clicável”, a viralização é instantânea.

Ellis Cashmore, autor de “Celebrity Culture”, crava: “A vida privada ainda é o que era? Não! Não existe mais vida privada no sentido tradicional do termo”. Concorda Mary Angela Bock, professora da Escola de Jornalismo e Mídia da Universidade do Texas em Austin: “Não podemos presumir privacidade nem em um show, nem na rua!”.

A “Kiss Cam” e similares são recursos comuns em grandes eventos, e geralmente há avisos informando que o público pode ser filmado. Mas o que mudou, segundo os especialistas, é a velocidade de disseminação. Não é só o telão; qualquer pessoa com um celular pode registrar e compartilhar um momento, e pronto, ele se espalha pelo mundo. “Não é só a câmera”, explica Bock, “é o sistema de distribuição, novo e sem regras”.

Mas a história não para por aí. Existe um segundo ciclo de exposição: a identificação das pessoas filmadas. A internet, com a ajuda de ferramentas e da inteligência artificial, facilita – e muito – a identificação de indivíduos em vídeos e fotos online. No caso do Coldplay, o agora ex-CEO, Andy porron, e a funcionária Kristin Cabot, tiveram seus perfis no LinkedIn desativados, e foram identificados em posts no X (antigo Twitter). Isso é preocupante, né?

Bock resume bem essa situação: “É perturbador a facilidade com que podemos ser identificados pela biometria, como nossos rostos são exibidos online, e como as redes sociais nos rastreiam, transformando a internet em um gigantesco sistema de vigilância. Estamos sendo vigiados em troca de entretenimento.”

E o pior: essa exposição pode atingir pessoas inocentes. A internet é ampla e nem sempre acerta. No caso do Coldplay, muitos especularam que uma terceira pessoa próxima ao casal seria outra funcionária da Astronomer, gerando uma enxurrada de ataques a ela – que, segundo a empresa, nem estava presente no evento.

Alison Taylor, professora da Stern School of Business da Universidade de Nova York, comenta: “Podemos discutir o certo e o errado, se eles mereciam… mas é assustador ver tanto abuso e assédio online. Existem humanos reais por trás disso.”

Difícil prever o fim dessa era de viralização instantânea, com poucas restrições legais para compartilhar vídeos. Mas, individualmente, Bock sugere algo simples, porém essencial: “Pense antes de compartilhar. Será que é realmente necessário?”. A tecnologia avança, mas a ética e a etiqueta ainda estão engatinhando. A lição do show do Coldplay é um alerta para todos nós.

Fonte da Matéria: g1.globo.com