A Prefeitura de São Paulo promove nesta sexta-feira (15) uma ação no Brás para identificar e cadastrar vagas de emprego em lojas da região. A iniciativa, uma parceria entre a Prefeitura, a Associação de Lojistas do Brás (Alobrás) e o Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (Cate), tenta resolver um problema e tanto: a falta de, pasmem, cerca de 10 mil funcionários no comércio local!
O g1 já havia mostrado, em 7 de agosto, a quantidade absurda de placas de “Vagas” nas vitrines do Brás e da Rua José Paulino, no Bom Retiro. Lojistas, na real, estavam desesperados pra contratar.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico confirmou que, a partir das 10h, equipes do Cate vão percorrer as ruas Oriente, Miller e Casemiro de Abreu. A missão? Apresentar os serviços de intermediação de empregos da prefeitura e cadastrar as vagas disponíveis. E não para por aí! Em setembro, rola o “Contrata SP – Brás”, um mutirão pra ajudar a colocar gente em emprego. Segundo a secretaria, em nota, a Alobrás estima que existam cerca de 10 mil vagas abertas, em diversos perfis, desde vendas e administrativo até funções fabris.
**Falta de mão de obra: um problema gigante**
Lauro Pimenta, vice-presidente da Alobrás, explicou que as vagas mais disputadas são para vendedor, caixa, cortador, overloquista, repositor e administrativo. Mas tem vaga até pra gerente! “No mínimo 80% das lojas precisam de pelo menos um funcionário”, afirmou Lauro. A ideia é integrar o Cate ao site da Alobrás pra facilitar as contratações. Ele ainda destacou que os lojistas estão numa “corrida contra o tempo”. “Falta mão de obra mesmo. Se esperarmos setembro, como sempre fizemos, não vamos achar ninguém. Hoje, um autônomo se dá melhor que um CLT. A escala 6×1 também afasta os mais jovens.”
Heloilson de Castro do Canto Leite, comerciante há 31 anos com uma loja de bolsas e malas no Brás, precisa de 10 funcionários! “Faz mais de um ano que a placa de ‘Vagas’ não sai da frente da loja. Preciso de embaladores, principalmente jovens entre 18 e 30 anos, e de atendentes. Todo mundo tá nessa situação”, desabafou.
Sandra Maria da Silva, que teve uma loja no Brás de 2014 até fevereiro deste ano, fechou as portas por falta de funcionários. Com apenas dois, não dava conta. Agora, vende online, mas o problema persiste. “Procuro alguém pra ajudar com pedidos, embalagens, etiquetas e notas fiscais. Mas é difícil! Muitos não sabem mexer no computador, outros desistem depois do primeiro salário, e tem os que faltam às segundas e aos sábados”, contou.
Dunia Saed, comerciante há 16 anos no Brás, tem cerca de 30 vagas abertas em suas lojas! “Desde vendas e reposição até atendimento digital, e-commerce, SAC e marketing. Não encontramos mão de obra, nem qualificada, nem não qualificada”, lamentou. Ela acrescentou que a rotatividade é altíssima: “Muitos nem passam do período de experiência. Eles não se adaptam e saem.”
A situação na Rua José Paulino é a mesma. O g1 constatou que mais de 40 lojas têm anúncios de vagas, de vendedor a gerente. Uma vendedora contou que sua loja levou sete meses pra contratar! “Ninguém quer mais trabalhar aqui. A gente fica sobrecarregado com poucas vendedoras atendendo clientes de todo o país”, disse.
A Câmara de Dirigentes Lojistas do Bom Retiro afirma que duas em cada três lojas sofrem com a falta de funcionários. Uma representante, que preferiu não se identificar, disse que a prefeitura ajuda, mas o problema principal é a falta de gente querendo trabalhar no comércio.
A Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, em nota, disse manter diálogo com todos os setores para gerar empregos. Informou ter recebido representantes da Alobrás em 1º de agosto e que as equipes do Cate estão analisando as demandas para ações conjuntas.
**Por que tanta falta de mão de obra?**
Vivian Almeida, professora de economia do Ibmec, explica que, com o baixo desemprego (5,8% no segundo trimestre de 2025, segundo a PNAD Contínua do IBGE, divulgada em 31 de julho), a oferta de mão de obra diminui para vagas com salários baixos, sem qualificação específica e alta rotatividade. “As pessoas têm mais opções e só trocam de emprego por uma oferta melhor de renda”, disse.
Mauricio Stainoff, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Paulo, acrescentou que o problema atinge diversos segmentos, como supermercados e shoppings. A rotatividade passa dos 30%, o que encarece o treinamento. “A remuneração está ligada à produtividade, e a produtividade brasileira é baixa por causa da educação e do alto custo da mão de obra”, explicou. Ele ainda citou as longas jornadas de trabalho, incluindo sábados e domingos em alguns casos, como um fator que contribui para o problema, que se intensificou na pandemia, com muitas pessoas buscando trabalhos informais.
**Mercado de trabalho em São Paulo:**
São Paulo gerou 40.089 novos postos formais em junho (678.491 admissões e 638.402 desligamentos), segundo o Novo Caged (Ministério do Trabalho e Emprego), divulgado em 4 de agosto. No acumulado do ano, foram 349.904 novos empregos (contra 455.252 em 2024). A capital teve o melhor desempenho (16.859 vagas), com um estoque de 5 milhões de empregos formais.
(Nota: A informação sobre a investigação do MP sobre a compra de um drone pela Prefeitura de Diadema foi omitida pois não se relaciona ao tema principal do artigo original.)
Fonte da Matéria: g1.globo.com