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** PIX Parcelado: Mais Crédito, Mas com Juros Altos e Risco de Dívidas

** O Banco Central (BC) deve liberar, ainda em setembro, as regras oficiais do PIX Parcelado. A novidade, já oferecida por alguns bancos e fintechs, vai ganhar um regulamento mais claro, aumentando a transparência e incentivando o uso consciente desse tipo de crédito. A ideia, segundo o BC, é impulsionar as vendas no comércio, principalmente de itens mais caros, já que o lojista recebe o valor total à vista. Além disso, pode ser uma boa alternativa para os 60 milhões de brasileiros sem acesso ao cartão de crédito.

Mas calma! Não pense que é inclusão financeira pura e simples, como foi com o PIX tradicional. O PIX Parcelado é voltado para quem já tem conta em banco e crédito pré-aprovado. “Vai ser usado por quem já tem uma linha de crédito disponível”, explica Walter Faria, diretor-adjunto de Serviços e Segurança da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ou seja, precisa ter um bom histórico financeiro, com score de crédito em dia e um relacionamento bacana com o banco. Renda e movimentação na conta também são analisados.

O PIX, desde o lançamento, já revolucionou as transferências no Brasil, com mais de 70 milhões de novos usuários de serviços financeiros. No segundo trimestre de 2025, foram 19,3 bilhões de pagamentos via PIX – 53,5% a mais que as transações com cartões (crédito, débito e pré-pago), que chegaram a 12,6 bilhões, e um estrondoso 335% acima das cobranças por boleto, convênio e débito direto (4,4 bilhões).

Apesar desse sucesso, o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) está preocupado. Eles veem o PIX Parcelado como um crédito com juros, taxas e contratos pouco transparentes, o que pode gerar confusão e falta de confiança. O Idec teme que o consumidor ache que é só uma transferência parcelada, quando, na verdade, está pegando um empréstimo. “O PIX nasceu para democratizar pagamentos. Transformá-lo num canal de crédito mal regulamentado é um risco enorme”, alerta o Idec.

É importante entender: o parcelamento não faz parte da estrutura original do PIX. Funciona como um crédito oferecido pelos bancos, via cartão ou empréstimo, usando o PIX só como meio de pagamento. O PIX em si é gratuito, mas os bancos cobram juros e taxas no parcelamento. Marcelo Sá, diretor de Negócios do Braza Bank (que também oferece o “PIX Internacional” com parcelamento), diz que a regulamentação precisa esclarecer os custos, já que os bancos assumem o risco de crédito. As opções são: uma taxa por transação ou repassar os juros ao consumidor. Neste segundo caso, o PIX Parcelado pode ficar menos vantajoso que o cartão de crédito, que às vezes oferece opções sem juros. “Com taxas de 2% ao mês, mais o IOF, a compra pode ficar bem mais cara do que parece”, alerta Sá.

A Febraban reforça que os bancos não são obrigados a oferecer o PIX Parcelado e que o PIX não tem taxas ou juros. “O crédito, sim, terá custos, mas, como em qualquer empréstimo, o custo efetivo total (CET) tem que ser informado”, afirma Faria. O CET mostra todas as despesas: juros, impostos e taxas. Hoje, cada banco define as regras do PIX Parcelado, pois ainda não há padronização.

O g1 consultou bancos e fintechs sobre como oferecem o PIX Parcelado antes da regulamentação do BC.

**Crédito extra e o perigo da inadimplência:** A economista Carla Beni, professora da FGV e membro do Corecon-SP, acredita que o PIX Parcelado vai atingir três grupos: quem tem crédito pré-aprovado mas não usa cartão; quem já tem cartão mas vê vantagens no PIX Parcelado (comparando taxas ou usando como entrada); e quem precisa de crédito extra, tendo esgotado os limites do cartão.

Mas Beni também alerta para os riscos: “O cartão de crédito é um dos principais vilões da inadimplência. Precisa-se ver como o PIX Parcelado vai impactar, principalmente para quem tem baixa renda, onde o parcelamento pode virar uma bola de neve. O próprio comércio te incentiva: no caixa, a pergunta é sempre ‘quer parcelar?'”, afirma ela.

Dados do Ministério da Fazenda e do BC mostram que o cartão de crédito é o principal causador de dívidas no Brasil. Em julho, o rotativo (pagamento parcial da fatura) foi responsável por 60,5% da inadimplência entre pessoas físicas. Nos últimos 10 anos, esse tipo de dívida só cresceu. O Idec destaca que isso afeta principalmente famílias de baixa renda, que já têm dificuldades para acessar crédito. “O que parece ‘mais acesso ao crédito’ pode ser, na verdade, uma armadilha financeira”, diz a entidade.

Para o Idec, se o BC seguir com o PIX Parcelado, é preciso: criar uma identidade própria para o serviço, diferente do PIX; seguir as mesmas regras dos outros créditos, com contratos claros; adotar medidas contra o superendividamento; permitir que o usuário ative o serviço por vontade própria; e fazer uma consulta pública ampla, priorizando a proteção do consumidor.

O Banco Central não quis dar entrevista sobre a regulamentação do PIX Parcelado.

Fonte da Matéria: g1.globo.com