Tarifa de 40% sobre o café ‘continua proibitiva’, diz presidente do Cecafé.
Após comemoração inicial, exportadores brasileiros de carne, café e frutas adotaram um tom mais cauteloso e até pessimista em relação à redução das tarifas de importação pelos Estados Unidos.
Na sexta-feira (14), os EUA reduziram a taxa global de 10% para cerca de 200 produtos, mas mantiveram a sobretaxa de 40% ao Brasil.
“Melhorou para os nossos concorrentes e piorou para o Brasil”, disse o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos, ao g1.
O café brasileiro estava sendo taxado em 50% nos EUA. Com o anúncio de sexta, a tarifa caiu para 40%, mas grandes concorrentes, como a Colômbia e o Vietnã, tiveram a sua tarifa zerada, explicou Matos.
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“Muitos já tinham acordo bilateral formado, outros estavam com 10% como a Colômbia e a Etiópia”, disse o diretor.
À GloboNews, o presidente do Cecafé, Márcio Ferreira, reafirmou a preocupação do setor.
“[A taxa de] 40%, se ficar, continua proibitiva e não muda nada. O Brasil continua totalmente fora do jogo”.
Os Estados Unidos são o principal comprador de café do Brasil e respondem por cerca de 16% de tudo o que o país exporta, segundo o Ministério da Agricultura.
Com o tarifaço, as importações americanas de café brasileiro caíram pela metade (51,5%) entre agosto e outubro, em relação ao mesmo período de 2024, informou o Cecafé.
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Carnes e frutas
Já o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, afirmou que a decisão dos EUA é “uma boa sinalização para o mercado brasileiro”.
“Os Estados Unidos são o nosso segundo maior mercado para a exportação de carne bovina e estava fazendo falta”.
“É um motivo de comemoração comedida, mas com uma perspectiva muito positiva para que a gente possa ter a retirada total das tarifas”, disse Perosa.
A Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) viu a medida como “um avanço relevante para o setor”, mas disse que se preocupa com o fato de a uva, segunda fruta brasileira mais exportada para os EUA, ter ficado de fora da lista das exceções.
“Mais de US$ 40 milhões foram enviados no ano passado só para os Estados Unidos, de uva. Então vai afetar”, disse o diretor-executivo da Abrafrutas, Eduardo Brandão.
O Brasil exporta uva para os EUA a partir de setembro, quando a colheita começa.
Segundo a associação, as exportações da fruta para o país caíram 73% em valor e quase 68% em quantidade, no terceiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2024.
Repercussão no governo
O embaixador Celso Amorim, assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, classificaram a medida como uma boa notícia, mas ressaltaram estarem atentos também a itens que entraram no tarifaço e ainda não foram flexibilizados.
Ao g1, Celso Amorim destacou que a decisão possui “uma racionalidade própria” relativa à situação da inflação americana, mas viu influência do bom clima entre Lula e Trump.
Em uma rede social, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse que a decisão “reforça a força do nosso país no cenário internacional”.
Para a GloboNews, o ministro Carlos Fávaro afirmou que se reuniu com sua equipe do ministério da Agricultura para avaliar a nova decisão de Trump.
“Voltamos à boa diplomacia, ao diálogo, à amizade de 200 anos. O diálogo voltou”, disse.
Segundo o ministro, o governo ainda está observando na minúcia o que foi suspenso de fato e estão atentos também para madeira e mel. Caso não tenham sido incluídos ainda, o ministro que vai ficar para outro momento próximo.
Trump diz não considerar novos cortes
Brasil e os EUA vinham articulando, nas últimas semanas, uma flexibilização do “tarifaço”. A negociação ganhou força com um encontro entre Trump e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em outubro, na Malásia.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, e o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, se encontraram na última quinta para discutir o assunto.
Após a reunião, Vieira disse que esperava uma resposta dos EUA sobre um “mapa do caminho” para nortear negociações.
No fim desta sexta, porém, Trump afirmou que não acredita que sejam necessários novos cortes de taxas.
“Acabamos de fazer um pequeno recuo”, disse a repórteres “Os preços do café estavam um pouco altos; agora, em muito pouco tempo, eles estarão mais baixos.”
Pressão da inflação sobre Trump
O Brasil é o maior fornecedor de café para os EUA e um dos principais de carne, e ambos os produtos enfrentam forte alta nos preços no mercado norte-americano, o que pressiona o governo Trump.
Sem dar detalhes, Trump adiantou que reduziria a tarifa sobre o café, em entrevista à Fox News, na última terça-feira (12).
Dias antes, determinou uma investigação sobre frigoríficos que atuam nos EUA, acusando-os de subir o preço da carne artificialmente.
Na ordem executiva desta sexta, Trump não se referiu especificamente a nenhum país.
Ele afirmou que recebeu informações de autoridades que, sob sua orientação, monitoram as circunstâncias da ordem que estabeleceu o tarifaço.
“Depois de considerar as informações e recomendações que esses funcionários me forneceram, o andamento das negociações com vários parceiros comerciais, a demanda interna atual por determinados produtos e a capacidade doméstica atual de produzi-los, entre outros fatores, determinei que é necessário e apropriado modificar ainda mais o escopo dos produtos sujeitos à tarifa recíproca.”
A redução vale para mercadorias importadas e retiradas em armazém desde a quinta-feira (13).
Ao divulgar a medida, a Casa Branca atualizou a lista de produtos que têm algum grau de redução de tarifas, acrescentando carne e café, entre outros.
Até então, a relação incluía somente itens já tinham recebido o benefício em julho, como o suco de laranja, que também tem peso nas vendas do Brasil para os EUA.
Grão de café
Mike Kenneally/Unplash
Fonte da Matéria: g1.globo.com