Um caso chocante envolvendo Jacky Jhaj, um criminoso sexual condenado e procurado no Reino Unido, abalou a França na semana passada. Jhaj, registrado no Registro de Criminosos Sexuais e sujeito a restrições legais, organizou um falso casamento com uma menina ucraniana de nove anos na Disneylândia Paris. A cerimônia, que teria custado mais de €130 mil (aproximadamente R$ 836 mil), envolveu cerca de 100 figurantes franceses e foi filmada privadamente.
A denúncia partiu de um “convidado” que havia sido contratado para representar o pai da noiva e recebeu €12 mil (cerca de R$ 77 mil) pelo trabalho. Segundo o promotor de Meaux, Jean-Baptiste Bladier, esse convidado só percebeu, no último momento, que a “noiva” era uma criança. A menina, que chegou à França dois dias antes do evento, não sofreu violência física ou sexual e não foi coagida a participar, de acordo com a investigação. Além de Jhaj, três outras pessoas foram presas – a mãe da menina (41 anos, letã), uma mulher de 24 anos (letã) que interpretou a irmã da noiva, e um homem letão de 55 anos – mas posteriormente liberadas.
A Disneylândia Paris, que pode ser alugada fora do horário de funcionamento, foi enganada, segundo o promotor, que afirma que Jhaj usou uma identidade letã falsa para reservar o espaço. A BBC, que acompanha o caso de Jhaj há dois anos, revela que este “casamento” é apenas o mais recente de uma série de atos bizarros e caros realizados pelo criminoso.
Em 2023, Jhaj já havia organizado uma falsa estreia cinematográfica na Leicester Square, em Londres, recrutando cerca de 200 crianças e adolescentes – algumas com apenas seis anos – por meio de agências de elenco renomadas, para interpretarem fãs em um evento com tapete vermelho. Neste evento, Jhaj, que em 2016 foi condenado por atividade sexual com duas jovens de 15 anos e cumpriu pena, foi reconhecido e denunciado.
Desde sua libertação, Jhaj tem realizado inúmeras ações semelhantes, frequentemente envolvendo jovens contratadas para o papel de fãs, em locais de alto nível, como o Museu Britânico, o Royal Exchange em Londres e a Universidade de Oxford. Vídeos desses eventos, com milhões de visualizações, ficaram disponíveis por anos no YouTube antes de serem removidos após alerta da BBC ao Google. Alguns vídeos mostram Jhaj com armas (não se sabe se reais ou falsas) e com crianças pequenas, e outros celebram sua saída da prisão de Wormwood Scrubs.
A investigação da BBC entrevistou cinegrafistas, assistentes de produção e técnicos envolvidos nesses eventos, que só descobriram a verdadeira identidade de Jhaj posteriormente. Um homem, que aparece em vários vídeos, é apontado como possível cúmplice, auxiliando em coreografias e filmagens. Em um evento, Jhaj foi filmado nu em frente a um caminhão falso da BBC News incendiado, inicialmente disfarçado com próteses.
A origem do financiamento dessas ações, que envolvem altos custos com locações, elenco e adereços – incluindo o aluguel de um tanque e a queima de uma réplica de carro de polícia – permanece um mistério. Jhaj foi diretor de uma empresa liquidada em 2016, não havendo outras fontes de renda óbvias.
A ordem de prevenção de Jhaj por agressão sexual lista dez restrições, mas não proíbe explicitamente eventos com crianças menores de 16 anos sob supervisão, o que levanta questionamentos sobre a eficácia dessas medidas. A investigação também destaca a precariedade da fiscalização de criminosos sexuais, com um policial responsável por monitorar dezenas de infratores em algumas forças policiais, contrastando com a recomendação de um policial para cada 50.
Após o evento na Disneylândia, Jhaj foi preso na França, acusado de fraude, abuso de confiança, lavagem de dinheiro e roubo de identidade. A Polícia Metropolitana do Reino Unido confirmou que um homem de 39 anos é procurado por violar as restrições impostas a ele e está sendo investigado por possíveis crimes de fraude. A Disneylândia Paris não se manifestou sobre o caso. A reportagem contou com a colaboração de Alex Dackevych e Richard Irvine-Brown.
Fonte da Matéria: g1.globo.com