Olha só que notícia! O “único, grande e belo” pacote de gastos e cortes de impostos aprovado pelo Congresso americano, e que garante a sobrevivência política de Donald Trump, vai facilitar — e muito — o acesso a armas nos Estados Unidos. Isso mesmo, o projeto, que será sancionado nesta sexta-feira (4), dia da Independência americana, dá um verdadeiro presente para os defensores do direito de portar armas, enfraquecendo consideravelmente a Lei Nacional de Armas de Fogo (NFA).
Acontece que, entre as mais de 800 páginas do projeto, se escondeu uma mudança drástica: acabou o imposto federal de US$ 200 sobre silenciadores, e também a obrigatoriedade de registrar esses dispositivos no Bureau of Alcohol, Tobacco, Firearms and Explosives (Departamento de Álcool, Tabaco, Armas de Fogo e Explosivos). Isso, na prática, vai permitir que mais pessoas comprem rifles, espingardas e silenciadores, com preços menores. Tipo assim, ficou bem mais fácil!
Para Mark Collins, diretor do grupo Brady: United Against Gun Violence, a situação é preocupante. Ele declarou ao jornal “The Washington Post”: “Um jovem de 16 anos poderia começar a produzir silenciadores numa impressora 3D se essa lei mudar, e isso seria perfeitamente legal”. Pense nisso…
A aprovação dessa medida, que praticamente desmantela a NFA, aprovada há quase um século, foi comemorada com entusiasmo pelas entidades que defendem o porte de armas. Erich Pratt, vice-presidente da Gun Owners of America (GOA), declarou: “Esta é uma oportunidade única em uma geração para desmantelar uma das leis federais de controle de armas mais abusivas da história”. A GOA, inclusive, já planeja ir além: seis organizações pró-armas anunciaram uma ação judicial para derrubar o que restou da NFA.
A facilidade no acesso a armas, sobretudo silenciadores, é um detalhe que, na minha opinião, passou despercebido em meio à discussão sobre o déficit e os cortes no Medicaid, gerando divergências até dentro do próprio Partido Republicano. Me parece que a prioridade, nesse caso, foi outra.
Mas a questão é: o que isso significa para a segurança pública em um país onde cerca de 50 mil pessoas morrem por ano em decorrência da violência armada? A cada massacre, o debate sobre controle de armas volta à tona, mas esbarra na Segunda Emenda da Constituição americana, que garante o direito ao porte de armas. Essa nova lei, aprovada às escondidas no meio de um projeto gigantesco, vai dificultar ainda mais a luta por um controle mais eficaz das armas de fogo nos EUA. Para os familiares das vítimas da violência, essa notícia é, no mínimo, um duro golpe. Será que valeu a pena?
Fonte da Matéria: g1.globo.com