A nova cédula de 20 euros tá causando um baita burburinho na Europa! A razão? A imagem de Marie Curie, a cientista brilhante, duas vezes Nobel, que vai estampar a nota. Mas, olha só, essa escolha virou uma verdadeira novela, principalmente para os poloneses.
Nasceu Maria Skłodowska, em Varsóvia, atual capital da Polônia, em 1867. A cidade, na época, fazia parte do Império Russo. Muita gente, inclusive, acha que ela era francesa, já que adotou o sobrenome Curie do marido, Pierre. Mas a verdade é que sua identidade polonesa sempre esteve presente, mesmo com a trajetória brilhante que construiu na França.
Ela viveu mais de três décadas na França, onde sua carreira decolou. Foi a primeira mulher professora na Sorbonne, e em 1995, 60 anos após sua morte, entrou para a história como a primeira mulher a ser sepultada no Panteão de Paris por seus próprios méritos – uma honra seguida pela política Simone Veil.
Em 1903, no primeiro Nobel (de Física), com Pierre, ela foi creditada apenas como Marie Curie. Já em 1911, após a morte de Pierre, ela recebeu o segundo Nobel (de Química) assinando como Marie Skłodowska-Curie. Essa assinatura, no entanto, nunca pegou de vez, criando uma espécie de disputa simbólica entre franceses e poloneses pela “propriedade” de Marie Curie.
Aí que entra a polêmica dos 20 euros. O Banco Central Europeu (BCE), lançando um concurso para o design de novas cédulas com o tema “Cultura Europeia”, incluiu Marie Curie – apenas como “Marie Curie” – entre as personalidades que poderiam ilustrá-las. Isso, claro, irritou bastante os poloneses.
Diplomatas poloneses em Bruxelas alertaram o BCE sobre a “imprecisão histórica”. O governador do Banco Central da Polônia, Adam Glapiński, escreveu uma carta para Christine Lagarde, presidente do BCE. E, pra completar, parlamentares europeus poloneses – e alguns não-poloneses, inclusive simpatizantes do feminismo de Marie – também protestaram.
No site do BCE, a informação já foi corrigida para “Marie Curie (nascida Skłodowska)”. O concurso para escolher o design das novas cédulas segue em andamento, com previsão de conclusão para 2026. A impressão das novas notas ainda não tem data.
“Estou muito feliz que o BCE tenha ouvido as preocupações da Polônia e corrigido o design da nova nota de 20 euros para refletir a herança polonesa de Marie Skłodowska-Curie”, declarou o eurodeputado conservador Janusz Lewandowski ao Politico.
A questão é: por que tanta importância? A Polônia, como lembra a escritora e apresentadora Karolina Żebrowska em seu canal do YouTube, tem um histórico de apagamento na história europeia. O país foi removido do mapa três vezes nos últimos três séculos! A Polônia de Marie Curie, aliás, nem existia formalmente: Varsóvia era parte do Império Russo.
Durante mais de um século, ativistas nacionalistas lutaram pela independência polonesa, enfrentando uma forte repressão russa que visava suprimir a cultura polonesa, incluindo a língua e os costumes. Marie, impedida de estudar em seu país, foi para a França em 1891, aos 24 anos. A independência só veio em 1918, após a Primeira Guerra Mundial.
Apesar de tudo, Marie nunca esqueceu suas raízes. Ela manteve sua identidade polonesa, ensinando o idioma às filhas e as levando à Polônia algumas vezes. E, como uma homenagem marcante, batizou o polônio, um elemento químico que descobriu, em referência ao seu país natal. Afinal, a herança polonesa de Marie Curie é inegável, e os poloneses não pretendem deixar esse assunto esfriar tão cedo.
Fonte da Matéria: g1.globo.com