O ex-presidente Barack Obama disparou um alerta sobre uma “crise política sem precedentes” nos EUA, na sequência do assassinato do ativista conservador Charlie Kirk. Em evento na Pensilvânia, na terça-feira (16/09), Obama, embora afirmando discordar das opiniões de Kirk, classificou o crime como “horrível e uma tragédia”. Ele ressaltou que não conhecia Kirk pessoalmente.
Sabe?, Obama criticou duramente os comentários de Donald Trump sobre seus oponentes políticos. Segundo a mídia americana, ele citou presidentes republicanos do passado que, em momentos de tensão, priorizaram a unidade nacional. A reação da Casa Branca não se fez esperar: eles rebateram chamando Obama de “arquiteto da divisão política moderna”. Nossa!
Kirk, de 31 anos, foi morto a tiros enquanto discursava na Universidade Utah Valley, em Orem, no dia 10 de setembro. Tyler Robinson, 22 anos, foi indiciado pelo assassinato, além de outros crimes com armas de fogo. Os promotores, acreditem, pediram a pena de morte para Robinson. O promotor do Condado de Utah, Jeffrey Gray, revelou que Robinson havia enviado mensagens de texto confessando o crime, alegando estar “farto do ódio” de Kirk.
Antes da prisão de Robinson, aliados próximos de Trump atribuíram a culpa a ativistas de esquerda e à retórica de democratas e seus apoiadores. A procuradora-geral Pam Bondi chegou a sugerir que o governo reprimiria o “discurso de ódio”, mesmo sem existir uma legislação específica sobre isso nos EUA. O vice-presidente J.D. Vance, por sua vez, liderou os apelos por punição a quem celebrasse ou tolerasse o assassinato, ou mesmo criticasse Kirk após sua morte. Ele chegou a pedir que se denunciasse essas pessoas, inclusive avisando seus empregadores! “Chamem a atenção deles, avisem o empregador deles”, disse Vance durante um podcast em homenagem a Kirk.
Em Erie, Pensilvânia, Obama declarou: “Acho que em momentos como este, com as tensões tão altas, parte do trabalho do presidente é unir o povo”. Ele fez um apelo aos americanos para que respeitassem “o direito dos outros de dizerem coisas com as quais discordamos profundamente”.
Obama elogiou a postura do governador de Utah, Spencer Cox, um republicano conservador, que, segundo ele, demonstrou “que é possível discordarmos, respeitando um código básico de como devemos nos envolver no debate público”. Ele também endossou a resposta do governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, democrata, cuja residência foi alvo de um atentado com bombas incendiárias no início do ano, classificado pela polícia como um ataque direcionado.
O ex-presidente contrastou essas reações com os comentários de Trump e seus aliados. Obama lembrou que não usou o tiroteio em massa de 2015, cometido por um supremacista branco em uma igreja negra na Carolina do Sul, para perseguir seus inimigos políticos. Ele também destacou que, após os ataques de 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush “explicitamente se esforçou para dizer: ‘Não estamos em guerra contra o Islã'”.
“E então, quando ouço não apenas o nosso atual presidente, mas também seus assessores, que têm um histórico de chamar oponentes políticos de ‘vermes’, inimigos que precisam ser ‘alvos’, isso fala de um problema mais amplo que temos agora e algo com o qual todos nós teremos que lidar”, disse Obama à plateia.
Em resposta à BBC, um porta-voz da Casa Branca negou as acusações, acusando Obama de alimentar a divisão durante seu mandato. “Obama aproveitou todas as oportunidades para semear a divisão e colocar os americanos uns contra os outros”, declarou o porta-voz. “Sua divisão inspirou gerações de democratas a caluniar seus oponentes como ‘deploráveis’, ‘fascistas’ ou ‘nazistas’.”
É importante notar que, após deixarem o cargo, presidentes americanos costumam moderar as críticas a seus sucessores. Nos últimos meses, porém, Obama tem criticado duramente as ações de Trump contra universidades e juízes, e também os líderes do Partido Democrata por não se oporem com mais firmeza às políticas da Casa Branca.
Fonte da Matéria: g1.globo.com