** Desde que Donald Trump voltou à Casa Branca em janeiro, a soberania nacional virou um tema central para líderes de várias democracias ocidentais. E olha só: um grupo específico de países, apontado pelo *New York Times*, sentiu na pele a força da política de “tarifaço” de Trump. A coisa em comum? A soberania deles foi diretamente ameaçada pelas ações do governo americano.
Trump usou tarifas, investigações comerciais, e até ameaças de força pra pressionar países como México, Panamá e Brasil a engolirem suas demandas políticas e econômicas. No caso do Brasil, a situação foi ainda mais tensa. Além da dificuldade de diálogo, o país recebeu uma exigência, tipo, impossível de cumprir. Mas vamos por partes.
**Canadá e Panamá:** Logo no começo do mandato, Trump chegou a sugerir anexar o Canadá como o 51º estado americano! Isso causou um tsunami de nacionalismo, principalmente durante as eleições de abril de 2025, que deram uma vitória esmagadora para Mark Carney, do Partido Liberal. Carney prometeu proteger o Canadá das “ameaças à nossa soberania” vindas dos EUA e, desde então, bate na tecla da independência canadense em relação à influência americana. Apesar de rejeitar publicamente a ideia de Trump, o Canadá segue negociando com a Casa Branca pra evitar uma guerra tarifária.
Já o Panamá foi um dos primeiros alvos do “bullying institucionalizado” de Trump, principalmente sobre o Canal do Panamá. Trump criticou as taxas cobradas, lembrando que os EUA administraram o canal até 1999. O governo panamenho, na pessoa do presidente José Raúl Mulino, bateu o pé: “a soberania e a independência do nosso país não são negociáveis”. Mas, sob pressão, o Panamá acabou permitindo o envio de tropas americanas para bases locais e concedeu vantagens no uso do canal, incluindo acesso gratuito e prioritário. Pra Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV-SP, a gravidade do caso desses dois países é extrema, envolvendo ameaça de anexação territorial. “É muito mais grave que qualquer outra coisa, uma ameaça de anexação, parcial ou total, do seu território. Não é só uma ameaça militar, é existencial”, afirmou Stuenkel.
**México:** Outro vizinho na mira de Trump foi o México. Trump criticou duramente a política mexicana de imigração, combate às drogas e comércio. A presidente Claudia Sheinbaum respondeu com firmeza, reafirmando a soberania nacional, mas buscando diálogo com os EUA. Segundo o *New York Times*, Sheinbaum enfatizou em pelo menos 30 entrevistas, desde o início do ano, que o México é uma nação soberana. Em junho, ela declarou: “o México não está subordinado a ninguém”. Apesar do discurso firme, Sheinbaum atendeu a algumas demandas de Trump, como o aumento do efetivo militar na fronteira e a extradição de líderes de cartéis.
**Colômbia:** Trump ameaçou tarifas de até 50% sobre produtos colombianos depois que o presidente Gustavo Petro se recusou a aceitar voos com imigrantes deportados dos EUA. A resposta de Petro foi imediata e contundente: “Eu não aperto a mão de escravizadores brancos”. Mas, depois da repercussão internacional do discurso, Petro recuou e permitiu a retomada dos voos, mostrando a força da pressão da Casa Branca. A Colômbia, assim como outros países, cedeu em maior ou menor grau às exigências de Trump, diante dos riscos econômicos e diplomáticos. Carolina Pavese, doutora em Relações Internacionais pela London School of Economics, analisa a estratégia de Trump como “escalar para depois desescalar”, tanto as tensões quanto as ameaças. “Foi assim com todos os países, mesmo aqueles com quem ele fechou algum acordo. A negociação sempre resultou em condições de comércio bilateral piores do que antes de Trump”, afirmou Pavese.
**Brasil:** O Brasil foi o último a entrar nesse grupo e enfrenta uma situação complicada. Além da dificuldade de diálogo com a Casa Branca, o país recebeu uma exigência praticamente impossível, envolvendo interferência do Executivo no Judiciário. O Brasil enfrentou uma nova crise diplomática com os EUA após Trump anunciar tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — a maior taxa já imposta pelo governo americano ao Brasil. A medida, que entrou em vigor em uma quarta-feira, afeta setores estratégicos da exportação brasileira. O governo brasileiro considera a ação uma violação dos princípios do comércio internacional e uma ameaça à soberania econômica. O Brasil acionou a Organização Mundial do Comércio (OMC). Pavese afirma que “a questão de Jair Bolsonaro é cortina de fumaça para interesses estratégicos de Trump: frear a regulamentação das Big Techs, diminuir o risco de perda de mercado das operadoras de cartão de crédito, abalar a credibilidade de outras potências via BRICS e agora também o acesso às terras raras”. Vinicius Rodrigues Vieira, professor de Relações Internacionais da FGV e FAAP, destaca a tentativa de Trump de recuperar influência no Hemisfério Ocidental, principalmente na América Latina. México, Colômbia e Brasil são países relevantes na região. “São países governados por políticos de esquerda, e a esquerda na América Latina, historicamente, me parece ser mais nacionalista, anti-imperialista, até com doses de antiamericanismo, do que a direita, que sempre foi mais favorável a um alinhamento com os EUA”, disse Vieira. Pra ele, a pressão política deve continuar até as eleições de 2026 e pode aumentar caso um candidato não alinhado a Trump vença. “A luta do Brasil por sua soberania está só começando, e movimentos similares devem acontecer”, concluiu.
Fonte da Matéria: g1.globo.com