A gente tá vivendo tempos tensos, né? Com as guerras no Oriente Médio, o preço do petróleo disparando… A inflação sobe, os juros também, e a economia mundial corre o risco de estagnar. Um cenário assustador, principalmente pra Europa e Ásia, que dependem demais de importações de petróleo.
Mas no Brasil, a situação é bem diferente! A gente respira um pouco mais aliviado, sabe? Isso porque somos um grande produtor de petróleo, sim, mas, olha só, a agricultura garante cerca de 30% da nossa energia – eletricidade e combustíveis! Isso mesmo, 30%! É uma situação única no mundo. Países como Índia, Tailândia e China, que também investem em bioenergia, ficam muito atrás. A Alemanha, que bancou projetos de biogás por anos, só consegue 7% a 8% da energia do campo. Incrível, né?
Uma análise recente do Observatório de Bioeconomia da FGV mostra como isso acontece: nas fazendas brasileiras, a energia surge de várias formas, todas substituindo o petróleo. A cana-de-açúcar gera etanol; milho e soja viram biodiesel, puro ou misturado com outras fontes. A biomassa da cana alimenta usinas de energia elétrica, e resíduos orgânicos são transformados em biogás. É uma verdadeira revolução verde! Uma reportagem do Globo Rural de 2023, inclusive, destacou o investimento de Mato Grosso em novas usinas de etanol de milho, mostrando o crescimento desse setor.
E a coisa só tende a melhorar! A segunda geração do etanol, usando enzimas para extrair a substância das fibras da cana, tá só começando. O bioetanol de milho cresce a passos largos, e já temos projetos de combustível de aviação sustentável (SAF) engatinhando. Cada vez mais, empresas agrícolas injetam energia na rede elétrica ou se tornam autossuficientes com painéis solares. E ainda tem o hidrogênio verde no horizonte!
Essa autonomia energética sustentável é quase inexistente na Europa, que continua dependente de gás russo e petróleo do Oriente Médio. Desde as crises do petróleo de décadas atrás, eles não conseguiram se livrar dessa dependência. A gente, por outro lado, é basicamente independente, com uma das matrizes energéticas mais sustentáveis do planeta, atendendo a mais da metade do nosso consumo. É uma matriz descentralizada, de base agrícola e independente de combustíveis fósseis.
Em negociações internacionais, deveríamos usar essa soberania energética como trunfo. Nosso modelo poderia inspirar outros países agrícolas emergentes. Mas, na real, o Brasil se coloca na defensiva. A narrativa da devastação da Amazônia ofusca nosso pioneirismo na sustentabilidade, principalmente no Ocidente. A China, por exemplo, enxerga as coisas de forma diferente, mostrando interesse em adaptar partes do nosso sistema.
A verdade é que o agronegócio brasileiro tem um custo ambiental – a floresta amazônica e outros biomas sofrem com isso. Enquanto não reconhecermos e combatermos a corresponsabilidade do agronegócio no desmatamento, continuaremos sendo vistos como “pecadores ecológicos” e não como pioneiros ambientais. A mudança precisa vir de dentro, do próprio Brasil.
*Alexander Busch, jornalista correspondente na América do Sul há mais de 30 anos para o Handelsblatt e o Neue Zürcher Zeitung, nasceu em 1963 na Venezuela, estudou economia e política em Colônia e Buenos Aires, e vive e trabalha em Salvador. Autor de vários livros sobre o Brasil.*
*O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.*
Fonte da Matéria: g1.globo.com