** A Nvidia, a empresa mais valiosa do mundo — criada, acredite, por um lavador de pratos! —, divulgou resultados do trimestre encerrado em julho que, apesar de impressionantes, não acalmaram totalmente os temores de uma bolha no mercado de Inteligência Artificial (IA). A receita total? Um estrondoso US$ 46,7 bilhões, um aumento de 56% em relação ao mesmo período do ano passado! Olha só que número! O lucro também subiu, chegando a US$ 26,4 bilhões (US$ 1,08 por ação), 59% a mais que em 2023. Superou as expectativas dos analistas, sim senhor! Mas, que surpresa, as ações caíram 3% no after-market. Por que será?
A explicação, na real, pode estar na desaceleração do crescimento. Apesar da previsão otimista de receita de US$ 54 bilhões para o próximo trimestre (agosto a outubro) — um pouco acima do esperado pelos analistas —, o CEO Jensen Huang, em teleconferência, embora tenha falado em “início da expansão” e projetado investimentos de US$ 3 trilhões a US$ 4 trilhões em IA até o final da década, não conseguiu apagar a preocupação dos investidores.
A Nvidia virou, sem dúvida, o termômetro do boom da IA, que já dura dois anos e impulsionou o mercado de ações americano a patamares históricos. A empresa foi a primeira a atingir a marca de US$ 4 trilhões de valor de mercado, graças ao hype da IA. O S&P 500, por exemplo, subiu 69% desde o final de 2022, impulsionado em grande parte pelo otimismo em torno do setor.
Mas, e agora? A sombra de uma bolha paira sobre o mercado. Há quem veja semelhanças com o estouro da bolha das pontocom no final dos anos 90. Nos últimos tempos, executivos de tecnologia têm expressado preocupações, alimentando o medo de um exagero na euforia da IA.
Os números da Nvidia, apesar dos excelentes resultados, reforçam essas preocupações. As vendas de seus processadores, fundamentais para os data centers de IA que estão surgindo pelo mundo, não estão crescendo no ritmo frenético de antes. A divisão de data centers, por exemplo, registrou US$ 41,1 bilhões em receita (alta de 56%), mas ficou abaixo da projeção de US$ 41,3 bilhões da FactSet Research. Pequena diferença, mas suficiente para causar impacto.
O lançamento do ChatGPT, lá em 2022, desencadeou uma verdadeira revolução tecnológica, transformando a sociedade. Mas o mercado, parece, está se mostrando mais cauteloso. O analista Thomas Monteiro, da Investing.com, disse à Associated Press que dizer que as ações estavam “precificadas para a perfeição seria um enorme eufemismo”. Afinal, o preço das ações da Nvidia subiu mais de dez vezes nos últimos dois anos e meio. Uma alta vertiginosa!
O caminho para alcançar a marca de US$ 5 trilhões em valor de mercado ficou mais difícil. A receita anual da empresa saltou de US$ 44 bilhões no ano fiscal de 2024 para uma projeção de US$ 204 bilhões no ano fiscal atual (que termina em janeiro). Mas o crescimento da receita tem desacelerado nos últimos quatro trimestres, após um período de crescimento explosivo.
A proibição de Donald Trump sobre a venda de chips da Nvidia para a China também pesou. Embora as restrições já estivessem embutidas no preço das ações — a estimativa era de uma perda de US$ 8 bilhões em vendas —, a situação impactou os resultados. A boa notícia é que Trump revogou as restrições, em troca de um corte de 15% nas vendas da empresa na China. A expectativa é de um aumento nas vendas para a China, que pode variar entre US$ 2 bilhões e US$ 5 bilhões, segundo a CFO Colette Kress. Mas a velocidade desse crescimento ainda é uma incógnita. Em resumo: um cenário complexo e cheio de incertezas.
Fonte da Matéria: g1.globo.com