O Brasil inventou o futuro do dinheiro? Essa é a pergunta que o renomado economista Paul Krugman, ganhador do Nobel de Economia em 2008, faz em seu último artigo. Na publicação, divulgada na terça-feira (22/7), ele enaltece o PIX, o sistema brasileiro de pagamentos instantâneos, sugerindo que ele representa uma verdadeira revolução financeira.
Krugman critica duramente a aprovação do Genius Act nos EUA, a primeira grande legislação americana sobre criptomoedas sob o governo Trump – um entusiasta declarado dessas moedas digitais. Para o economista, a lei americana “abre as portas para fraudes e crises financeiras futuras”. E olha só, os EUA também aprovaram uma lei que impede a criação de uma moeda digital do banco central (CBDC), inspirada nas criptomoedas, mas com emissão centralizada pelo Banco Central, ao contrário do Bitcoin, por exemplo.
Os republicanos, grandes opositores das CBDCs, alegam preocupações com a privacidade. Mas, na real, Krugman acredita que o medo deles é que uma CBDC pública roube a clientela dos bancos privados. Aí ele questiona: “E se criássemos uma CBDC parcial, mantendo os bancos privados, mas com um sistema público eficiente de pagamentos?”. A resposta? “Sim, podemos! O Brasil já fez isso com o PIX.”
O Banco Central do Brasil, aliás, já estuda a criação de um “real digital”, que coexistiria com o dinheiro físico. O PIX, segundo analistas, seria o primeiro passo para essa implementação, com o cadastramento massivo da população.
“Pouca gente considera o Brasil um gigante da inovação financeira, né? Mas a nossa economia política é bem diferente da americana – a gente, por exemplo, julga ex-presidentes que tentam fraudar eleições”, observa Krugman em seu artigo. Ele destaca que o Brasil, de fato, planeja uma CBDC e que o PIX, lançado em 2020, foi o primeiro passo nesse sentido.
Krugman compara o PIX ao Zelle, sistema de pagamentos americano operado por bancos privados, mas ressalta a superioridade do sistema brasileiro: “O PIX é muito mais simples de usar. E, enquanto o Zelle é grande, o PIX é gigantesco! 93% dos adultos brasileiros o utilizam. Parece que tá substituindo o dinheiro vivo e os cartões rapidinho.”
O Nobel elogia a velocidade e os baixos custos de transação do PIX, afirmando que ele alcança o que os defensores das criptomoedas prometem, mas sem cumprir: inclusão financeira e custos baixos. “Compare os 93% de brasileiros que usam o PIX com os míseros 2% de americanos que usaram criptomoedas para compras em 2024”, aponta Krugman. “Ah, e usar o PIX não te deixa sujeito a sequestro e tortura para entregar suas chaves criptográficas!”
Para Krugman, a indústria financeira americana é poderosa demais para permitir uma CBDC. Os republicanos, por sua vez, não confiam em iniciativas públicas em detrimento de tecnologias privadas. “Outras nações podem aprender com o sucesso do Brasil. Mas os EUA provavelmente vão continuar presos a interesses particulares e ilusões cripto”, conclui o economista.
Vale lembrar que Krugman já havia criticado duramente o aumento de tarifas imposto por Trump contra o Brasil, chamando-as de “programa de proteção a ditadores”, “demoníacas e megalomaníacas”, sem qualquer justificativa econômica.
Fonte da Matéria: g1.globo.com