Elon Musk surpreendeu muita gente nesta quarta-feira (2) ao elogiar Donald Trump. Em meio a uma troca de farpas recente entre os dois, o bilionário usou o X (antigo Twitter) para dar crédito ao presidente americano por sua atuação na busca por um cessar-fogo entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza. Musk repostou o anúncio de Trump na Truth Social, que comemorava a aceitação por Israel de uma trégua de 60 dias proposta por ele, e escreveu: “Crédito onde é devido. Donald Trump resolveu com sucesso vários conflitos sérios ao redor do mundo”. Olha só, uma demonstração pública de respeito em meio a uma verdadeira guerra virtual!
A situação, no entanto, é bem mais complexa. Afinal, Musk e Trump protagonizaram uma série de embates recentes. Na terça-feira (1º), Trump, ao ser questionado por uma repórter sobre a possibilidade de deportar Musk, respondeu com uma declaração um tanto enigmática: “Não sei [se vou deportar Musk], acho que vamos ter que dar uma olhada nisso. Talvez a gente tenha que colocar o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) em cima do Elon. Sabe o que é o DOGE? O DOGE é o monstro que talvez tenha que voltar e comer o Elon. Não seria terrível?”. Nossa! Que declaração, né?
Musk, cidadão americano, emigrou para o Canadá na juventude e estabeleceu-se nos EUA após a faculdade. A princípio, uma deportação seria improvável. Mas, considerando as recentes ações do governo americano – que chegou a deportar crianças americanas filhas de imigrantes – a ameaça não parece tão absurda assim. A fala de Trump faz referência a um post anterior, onde ele sugeriu que o DOGE investigasse os incentivos federais recebidos pelas empresas de Musk, argumentando que os EUA economizariam uma fortuna com isso.
A tensão entre os dois começou a esquentar depois que Musk sugeriu a criação de um “Partido da América”, como resposta à aprovação, pelo Senado americano, de um megapacote fiscal proposto por Trump. Musk criticou o pacote, alegando que aumentaria os gastos públicos e levaria os EUA à falência.
A relação conturbada entre ambos tem raízes em seu passado. Musk chefiou o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental) de janeiro a maio deste ano, sob a presidência de Trump, com a missão de cortar US$ 2 trilhões em gastos federais. Durante esse período, ele demitiu milhares de funcionários e cancelou contratos. Após sua saída do cargo, aparentemente amigável, a relação azedou. Trump, que inicialmente elogiou Musk publicamente, manifestou decepção com as críticas do bilionário ao projeto de lei em discussão no Congresso, chegando a afirmar que não sabia se a relação entre eles seria tão boa quanto antes. Musk, por sua vez, rebateu as acusações via X, alegando não ter sido previamente informado sobre o projeto e acusando Trump de ingratidão, dizendo que sem sua ajuda, Trump teria perdido a eleição. A resposta de Trump? Uma ameaça velada no Truth Social: “A maneira mais fácil de economizar bilhões e bilhões de dólares em nosso Orçamento é encerrar os subsídios e contratos governamentais de Elon Musk”.
Em resumo: a trégua em Gaza, aparentemente, não apaga o fogo cruzado entre esses dois pesos pesados da política e dos negócios americanos. A situação, no mínimo, é intrigante.
Fonte da Matéria: g1.globo.com