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Morte de Streamer na Kick: A Plataforma de Lives e suas Polêmicas

A morte do influenciador francês Raphaël Graven, 46 anos, conhecido online como Jean Pormanove ou JP, durante uma live na plataforma Kick chocou a internet. A transmissão, na segunda-feira (18), mostrou momentos antes ou logo após o óbito do streamer, que participava de vídeos com conteúdo violento e humilhante ao lado dos parceiros “Narutovie” e “Safine”. Nas imagens, Graven aparece inconsciente sob um edredom, enquanto outros dois homens estão presentes, inclusive um que joga uma pequena garrafa de plástico em sua direção. A cena macabra gerou comoção e indignação.

O Ministério Público de Nice, no sul da França, abriu uma investigação por “violência coletiva intencional contra pessoas vulneráveis” e pela divulgação dessas imagens na rede. A situação levanta questionamentos sobre a Kick, plataforma rival da Twitch que se destaca por suas regras de moderação mais flexíveis – ou, para muitos, mais permissivas.

A Kick, lançada em dezembro de 2022, já conta com mais de 50 milhões de usuários. Seu modelo de negócios, que retém apenas 5% da receita gerada por assinaturas, atraiu muitos streamers insatisfeitos com a taxa de 50% cobrada pela Twitch (que, apesar disso, ostenta mais de 105 milhões de usuários). Essa diferença de valores, porém, tem seu preço. A plataforma já foi palco de lives com violação de direitos autorais, conteúdo adulto explícito e até debates com figuras extremistas, como um nazista, conforme reportagem da Bloomberg em 2023. Na época, a Kick declarou que estava reforçando seus esforços de moderação e que não tolerava discurso de ódio. Será que essa promessa se traduz em ações efetivas? Me parece que não, pelo menos não o suficiente.

A ironia é cruel: na quinta-feira (14), a Kick comemorava a chegada de MrBeast, considerado o maior influenciador do mundo, que arrecadou US$ 12 milhões em uma live beneficente para acesso à água potável. Poucos dias depois, a plataforma se via envolvida numa tragédia.

Sobre o caso Graven, a Kick, em comunicado à RFI, alegou sigilo em razão de sua política de privacidade. Já à BBC, um porta-voz disse que a empresa está “revisando com urgência” as circunstâncias da morte e expressou condolências à família e amigos. Afirmou, ainda, que as diretrizes da comunidade são “projetadas para proteger os criadores”. Acho que essa afirmação soa um tanto vazia diante do ocorrido.

A Kick foi fundada pelos australianos Edward Craven e Bijan Tehrani, donos do cassino online Stake. Segundo a Forbes, cada um deles possui uma fortuna estimada em US$ 2,8 bilhões. Essa riqueza provém principalmente de jogos de cassino virtuais com criptomoedas. A Stake e a Kick ganharam destaque em 2024 ao patrocinar a Sauber, equipe de Fórmula 1 que conta com o piloto brasileiro Gabriel Bortoleto e adotou as cores verde e preto das marcas em seus carros. A dupla investiu no ramo em 2013, quando o Bitcoin valia cerca de US$ 100, e lucrou com a valorização da criptomoeda. A Stake foi fundada em 2017, quando o Bitcoin já ultrapassava US$ 10 mil. Apesar do sucesso, a Kick já acumulou prejuízo de US$ 100 milhões, segundo a Forbes. A revista ainda aponta que as regras de moderação frouxas dificultam a atração de anunciantes. Olha só a situação: a Twitch, que existe desde 2011, nunca lucrou, mas ao menos não se envolveu em um caso tão grave.

Enfim, a morte de Jean Pormanove levanta sérias preocupações sobre a responsabilidade das plataformas de streaming e a necessidade de regulamentação mais eficaz para proteger seus usuários, principalmente aqueles vulneráveis a abusos e pressões. O caso, infelizmente, expõe as fragilidades de um sistema que prioriza o lucro em detrimento da segurança de seus criadores de conteúdo.

Fonte da Matéria: g1.globo.com