O Monte Sinai, um dos lugares mais sagrados do mundo para judeus, cristãos e muçulmanos, tá no meio de uma baita polêmica. A razão? Planos ambiciosos de transformá-lo num mega-complexo turístico de luxo. Imagina só: o local onde, segundo a tradição, Moisés recebeu os Dez Mandamentos, virando um resort!
Por anos, visitantes subiam a montanha acompanhados por guias beduínos, curtindo o nascer do sol sobre a paisagem deslumbrante. Era uma experiência única, sabe? Mas agora, essa tranquilidade tá ameaçada.
O Mosteiro de Santa Catarina, do século VI, o mais antigo mosteiro cristão em funcionamento contínuo do mundo, fica ali mesmo. E, olha só, aparentemente os monges vão continuar lá. As autoridades egípcias, depois de pressão da Grécia, negaram que o mosteiro seria fechado. Ufa!
A preocupação, na real, é com a transformação da área toda. A região, um Patrimônio Mundial da Unesco, incluindo o mosteiro, a cidade e a montanha, tá virando um canteiro de obras. Hotéis de luxo, vilas e bazares comerciais estão brotando por todos os lados.
A tribo Jebeleya, conhecida como os “Guardiões de Santa Catarina”, tá sofrendo muito com isso. Suas casas e eco-campings foram demolidos, com pouca ou nenhuma compensação. Isso mesmo, eles tiveram que até remover corpos de seus túmulos para dar lugar a um estacionamento! Inacreditável, né?
Ben Hoffler, um escritor de viagens britânico que trabalha com as tribos do Sinai, critica o projeto. Ele afirma que esse “desenvolvimento sustentável”, como o governo chama, foi imposto aos beduínos sem a mínima consulta. “Não é desenvolvimento como os Jebeleya querem ou pediram, mas sim imposto de cima para baixo, para servir aos interesses de forasteiros”, disse ele à BBC. “Um novo mundo urbano tá sendo construído ao redor de uma tribo beduína de origem nômade, um mundo do qual eles sempre se mantiveram afastados.”
Os cerca de 4 mil moradores locais preferem não comentar abertamente sobre as mudanças. A Grécia, por sua ligação com o mosteiro, é a potência estrangeira que mais se manifestou. As tensões entre Atenas e o Cairo aumentaram após uma decisão judicial de maio que declarou Santa Catarina como propriedade estatal, dando ao mosteiro apenas o “direito de uso” da terra.
O arcebispo Jerônimo II, de Atenas, chamou a decisão de um “golpe grave” e uma “vergonha”. O antigo responsável por Santa Catarina, arcebispo Damianos, em rara entrevista, disse algo parecido e renunciou ao cargo, causando uma divisão entre os monges. O Patriarcado Ortodoxo Grego de Jerusalém destacou a importância histórica e religiosa do local, lembrando que ele recebeu uma carta de proteção do próprio Maomé.
Apesar da decisão judicial, esforços diplomáticos levaram a uma declaração conjunta entre Grécia e Egito, garantindo a proteção da identidade grego-ortodoxa e do patrimônio cultural de Santa Catarina. Ainda bem!
O Egito lançou em 2021 o “Projeto de Transfiguração”, com construção de hotéis, ecolodges, um centro de visitantes, expansão do aeroporto e um teleférico até o Monte Sinai. O governo chama isso de “presente do Egito para o mundo”. O ministro da Habitação, Sherif el-Sherbiny, disse que o projeto “preservará o caráter ambiental e patrimonial da natureza intocada”.
Apesar de problemas de financiamento, obras na Planície de el-Raha, com vista para o mosteiro, já foram realizadas. E críticos apontam a destruição de características naturais especiais da área, onde, segundo a tradição, os israelitas esperaram Moisés. A Unesco, aliás, já expressou preocupação e pediu ao Egito que interrompesse os empreendimentos e elaborasse um plano de conservação. Mas nada aconteceu.
Em julho de 2023, a World Heritage Watch pediu ao Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco que incluísse Santa Catarina na Lista de Patrimônios Mundiais em Perigo. Ativistas também procuraram o rei Charles III, patrono da St Catherine Foundation, que descreveu o local como “um grande tesouro espiritual”.
Esse megaempreendimento não é o primeiro no Egito a ser criticado por falta de sensibilidade. Mas o governo vê esses projetos como essenciais para a recuperação da economia, atingida pela pandemia de Covid-19, pela guerra em Gaza e pela instabilidade regional. A meta é atingir 30 milhões de visitantes até 2028.
O desenvolvimento comercial do Sinai, sob sucessivos governos, sempre ignorou as comunidades beduínas. Desde a devolução da península por Israel em 1979, após a Guerra do Oriente Médio de 1967, os beduínos se sentem tratados como cidadãos de segunda classe. A construção dos resorts do Mar Vermelho, a partir da década de 1980, serve como um exemplo do que pode acontecer em Santa Catarina.
“Os beduínos eram os guias, os trabalhadores… e foram afastados, fisicamente empurrados para o interior”, diz o jornalista egípcio Mohannad Sabry. Espera-se que, assim como aconteceu no Mar Vermelho, egípcios de outras regiões sejam trazidos para trabalhar no complexo de Santa Catarina, enquanto o governo afirma estar “modernizando” as áreas residenciais beduínas.
O Mosteiro de Santa Catarina já passou por muitas mudanças em 1500 anos, mas quando os primeiros monges chegaram, era um refúgio remoto. A expansão dos resorts do Mar Vermelho trouxe multidões de peregrinos. Agora, o futuro do local e de seu entorno parece incerto. A preservação de um patrimônio histórico e espiritual tão importante corre sério risco.
Fonte da Matéria: g1.globo.com