A Ford enfrenta um desafio e tanto: reconquistar a confiança do consumidor brasileiro depois do baque do fechamento de fábricas e da maioria das concessionárias. Lançamentos, portanto, são cruciais. A Maverick, que chegou em 2022, um ano após o “apagão” da Ford, chegou com menos equipamentos que o esperado para o preço, brigando numa categoria abaixo da principal concorrente, a RAM Rampage. Aí entra a Maverick Tremor, versão off-road lançada a R$ 239.900, pra tentar consertar os erros do passado. A ideia? Oferecer melhorias significativas, focadas no uso fora de estrada: pneus mais gripados, ganchos de reboque, caçamba preparada pra lama e até piloto automático pra atoleiros. O g1 testou a bichinha por uma semana pra ver se a Ford conseguiu, de fato, melhorar a picape e dar um brilho novo à marca.
Visualmente, a Tremor se destaca da Maverick tradicional. As cores vibrantes, como o laranja na grade, chamam a atenção. E tem um detalhe exclusivo: dois ganchos frontais, ótimos pra rebocar quem se enfiou numa fria. Os pneus são outro ponto alto, projetados pra um bom desempenho tanto no asfalto quanto na terra. Nos testes, a tração foi firme até em terrenos com pedras, sem gastar muito mais combustível. É claro que num asfalto lisinho o consumo sobe um pouquinho, já que os pneus priorizam a aderência em trilhas. Com a tração nas quatro rodas, esse consumo pode aumentar ainda mais. Um detalhe curioso: o desenho dos pneus gerou um ronco grave na cabine em baixa velocidade. Isso, na verdade, foi visto como algo positivo, dando a impressão de um motor mais potente. Detalhe que agradou bastante!
A Tremor também traz capota marítima com barras rígidas que se movimentam com a lona, e um piso áspero na caçamba. Mesmo sem testar em chuva, lavamos a picape e pudemos andar na caçamba sem escorregar – um ponto positivo. Falando em caçamba, tem duas saídas de 12 volts adaptáveis, e uma tomada americana de 110 volts e 400 watts. Dá pra ligar um PlayStation 5 (consome uns 200 watts) e até uma TV de 65 polegadas (170 watts em modelos LED da Samsung), usando só essa tomada! Incrível, né?
Por dentro, as mudanças são pontuais, mas bem feitas. A central multimídia ganhou uma tela maior, de 13,2 polegadas, eliminando um nicho lateral inútil (cabia só umas moedas!). A nova central mostra imagens da câmera 360 graus, ausente na versão anterior. Isso facilita muito na cidade e até em trilhas: a câmera frontal compensa o capô alto, oferecendo uma visão clara do que está à frente. Tem também outra tomada igual à da caçamba no apoio de braço, ótima para notebook ou geladeira portátil.
O acabamento interno é todo em plástico rígido, mas isso transmite uma sensação de robustez, combinando com o perfil da picape. Diferente de alguns concorrentes que usam plásticos de baixa qualidade, a Ford apostou em texturas e cores diferentes, até com parafusos aparentes – reforçando a ideia de robustez. E a praticidade? Excelente! O plástico facilita a limpeza depois de uma trilha, e o tapete de borracha rígida sai fácil pra lavar.
O motor 2.0 turbo a gasolina, com 253 cv, é um show! Versátil, se sai bem em qualquer situação. Não é o mais econômico, mas ninguém compra um carro assim pra economizar combustível, né? Nos testes, fizemos 10,5 km/l na estrada e 7,5 km/l na cidade. Ultrapassagens seguras, retomadas rápidas, mesmo com quatro adultos a bordo. O torque de 38,7 kgfm e o câmbio automático de oito marchas fazem toda a diferença. Nas trilhas, o torque se destaca ainda mais. Subidas íngremes foram vencidas sem esforço, mesmo com o câmbio em marchas baixas.
Dois pontos chamaram a atenção: as rodas têm maior ângulo de esterço, melhorando a manobrabilidade em estacionamentos e em estradas de terra. A câmera 360 graus também foi fundamental na trilha, dispensando o auxílio de alguém pra guiar as manobras. Um passageiro, sem nenhum conhecimento de carros, ficou impressionado com a facilidade de manobra da picape. Outro, com muita experiência em picapes, elogiou o conjunto e até imaginou usando a caçamba espaçosa para o seu negócio.
A Maverick Tremor acerta em vários pontos, principalmente corrigindo os defeitos da versão anterior. É uma picape versátil, confortável para todos os ocupantes, com recursos tecnológicos relevantes e a robustez esperada.
Vale a pena? Comparando com a principal rival, a RAM Rampage a gasolina, a Tremor oferece conforto e tecnologia por cerca de R$ 30 mil a menos – e ainda com os upgrades off-road. Com essa diferença, que equivale a mais de um terço do preço de um Renault Kwid, é difícil não optar pela Maverick Tremor. Mesmo que a Rampage se aproxime do preço, a Ford entrega mais. A questão é se o consumidor vai ter a mesma percepção. A Ford fez sua parte, mas o prestígio das RAM ainda pesa.
Por que a Ford não vende como antes? Mesmo com a história gloriosa do cupê brasileiro dos anos 70, com motores de 4, 6 e 8 cilindros, a Maverick não decolou. De janeiro a agosto de 2025, a RAM Rampage vendeu 7,4 vezes mais que a Maverick: 15.569 unidades contra 2.066. Como a Tremor só começou a ser vendida em 28 de agosto, é cedo pra avaliar o impacto da atualização. Mas comparando com os oito primeiros meses de 2024, a Maverick antiga vendeu 181 unidades a menos em 2025.
Especialistas apontam vários fatores: o fechamento das fábricas e a redução no número de concessionárias (79 atualmente, contra 283 antes do fechamento – uma queda de 72%, segundo a ABRADIF) prejudicaram a imagem da Ford. A RAM, por sua vez, conta com 149 concessionárias – 88,6% a mais que a Ford. Milad Kalume Neto, consultor independente, ressalta que a saída da Ford do Brasil assustou o consumidor, mas que a marca está recuperando espaço e a Maverick é um ótimo produto. Paulo Garbossa, especialista em mercado automotivo, destaca que o consumidor brasileiro prioriza o custo-benefício, e a Ford, apesar de ter bons produtos, pode ter perdido competitividade no quesito preço.
Fonte da Matéria: g1.globo.com