A guerra em Gaza atingiu um novo nível de brutalidade neste sábado (12). Ao menos 59 palestinos perderam suas vidas, um número chocante que inclui quatro crianças. A tragédia se deu em meio a ataques aéreos israelenses e, inacreditavelmente, durante a tentativa de acesso a ajuda humanitária. A imagem de um pai palestino carregando o corpo do filho, vítima de um ataque aéreo, no Hospital Shifa, na Cidade de Gaza (foto AP/Jehad Alshrafi), resume o horror vivido.
Segundo autoridades hospitalares e testemunhas, 31 palestinos foram mortos a tiros enquanto se dirigiam a um ponto de distribuição de ajuda próximo a Rafah, no sul da Faixa de Gaza. A distribuição era operada pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), organização americana apoiada por Israel. Olha só: o Comitê Internacional da Cruz Vermelha relatou que seu hospital de campanha recebeu mais vítimas fatais em um único dia do que em mais de um ano de operação – a maioria com ferimentos de bala. A escala do massacre é simplesmente assustadora.
Simultaneamente, ataques aéreos israelenses em Deir al-Balah (centro de Gaza) e Khan Younis (sul de Gaza) causaram a morte de mais 28 palestinos, incluindo as quatro crianças, segundo dados do Hospital Mártires de Al-Aqsa e do Hospital Nasser, respectivamente. As Forças de Defesa de Israel ainda não se manifestaram sobre os incidentes. Na real, os intensos bombardeios continuaram durante a noite na região de Beit Hanoun, ao norte da Faixa.
Enquanto isso, em Israel, a população também demonstra sua indignação. Em protestos nas ruas, a frustração é palpável. “A arrogância foi o que trouxe esse desastre sobre nós”, desabafou Eli Sharabi, ex-refém, criticando a conduta dos líderes israelenses. A imagem de palestinos carregando sacos de farinha distribuídos pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) na Cidade de Gaza (foto AP/Jehad Alshrafi) contrasta brutalmente com a violência desenfreada.
A guerra, que já se arrasta por 21 meses, deixou mais de 2 milhões de palestinos em Gaza dependentes de ajuda externa, com o risco real de fome. Desde o fim do último cessar-fogo, em março, Israel bloqueou e restringiu o acesso a ajuda humanitária. A Cruz Vermelha, aliás, destacou a “frequência e escala alarmantes” dos incidentes envolvendo pessoas que buscavam alimentos. A organização afirma que todos os feridos nos tiroteios próximos a Rafah estavam tentando acessar pontos de distribuição.
O Exército de Israel alegou ter disparado tiros de advertência contra indivíduos que agiam de forma suspeita, negando conhecimento de vítimas. A GHF também negou qualquer incidente próximo a seus pontos de distribuição. No entanto, testemunhas como Abdullah al-Haddad e Mohammed Jamal al-Sahloo relatam uma versão bem diferente. Abdullah, ferido na perna, descreveu o ataque de um tanque israelense contra a multidão. “Estávamos juntos e eles atiraram em nós de uma vez”, contou ele, no Hospital Nasser. Mohammed, por sua vez, disse que os militares israelenses ordenaram que a multidão se aproximasse antes de abrir fogo.
A dor de Sumaya al-Sha’er é um retrato da tragédia. Ela perdeu seu filho de 17 anos, Nasir, que havia saído para buscar farinha. “Ele me disse: ‘Mãe, você está sem farinha e hoje eu vou buscar farinha para você. Mesmo que eu morra, vou trazer’”, lamentou Sumaya. “Mas ele nunca voltou para casa.” Ela, inclusive, vinha impedindo o filho de ir aos pontos de distribuição por medo.
Testemunhas, autoridades de saúde e representantes da ONU apontam que centenas de palestinos foram mortos por disparos israelenses enquanto buscavam ajuda em áreas militares proibidas à imprensa independente. Apesar do exército israelense reconhecer os disparos de advertência, a GHF nega qualquer violência em seus pontos de distribuição. Entretanto, dois funcionários da organização relataram à Associated Press que colegas usaram munição real e bombas de efeito moral contra palestinos. A GHF nega essas acusações.
A situação humanitária é crítica. A ONU e organizações de ajuda enfrentam dificuldades para distribuir assistência devido a restrições militares israelenses e à insegurança, com saques generalizados. Nesta semana, após 130 dias, apenas 150 mil litros de combustível chegaram a Gaza – quantidade considerada ínfima pelas agências da ONU para garantir a sobrevivência da população.
Vale lembrar que o conflito começou em 7 de outubro de 2023, com um ataque de militantes liderados pelo Hamas contra Israel, resultando em cerca de 1.200 mortos e 251 sequestros. Ainda há cerca de 50 reféns, dos quais pelo menos 20 estariam vivos. A resposta de Israel já causou a morte de mais de 57.800 palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza (controlado pelo Hamas). Embora o ministério não diferencie civis de combatentes, a ONU considera esses números como as estimativas mais confiáveis.
A violência não se limita a Gaza. Na Cisjordânia ocupada, o palestino-americano Seifeddin Musalat foi morto por colonos israelenses, segundo o Ministério da Saúde palestino. Sua prima, Diana Halum, relatou que ele foi espancado até a morte e que os paramédicos foram impedidos de socorrê-lo. A família exige uma investigação do Departamento de Estado dos EUA. O departamento confirmou que está ciente do caso, mas não comentou. Uma testemunha anônima relatou que os colonos invadiram terras palestinas, disparando tiros, usando bastões e jogando pedras. O Exército de Israel alegou que palestinos haviam atirado pedras, ferindo levemente dois israelenses, o que teria gerado o confronto.
A ONU afirma que 798 pessoas morreram enquanto buscavam comida em Gaza. A situação é desesperadora, com um número alarmante de mortos em ataques israelenses. A comunidade internacional precisa agir imediatamente para evitar uma tragédia ainda maior.
Fonte da Matéria: g1.globo.com