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Marília Mendonça: A Rainha da Sofrência que Rompeu Barreiras no Sertanejo

Em 2014, o sertanejo bombava nas rádios brasileiras, mas era um território quase que exclusivamente masculino. Dois anos depois, a coisa mudou! Quatro mulheres já estavam no top 10, e uma delas era a Marília Mendonça, com o hit “Infiel”. Olha só que impacto! Ela inaugurou uma nova era no gênero, bem mais feminina, real e direta.

As cantoras que surgiram na esteira dela não cantavam mais contos de fadas, sabe? Elas falavam de traição, de amor que não deu certo, de ressaca… Eram histórias que o sertanejo já contava, mas agora com um olhar totalmente diferente, feminino e poderoso!

Esse movimento, que a mídia batizou de “feminejo”, deixava Marília de cabelo em pé. Ela odiava o termo! “Existe rock feminino? MPB feminino? Então qual é a tua? Acha que eu não consigo competir com Zezé Di Camargo, com Leonardo? Sertanejo é sertanejo, ponto final!”, ela disparou numa reunião com a gravadora. A figurinista Flavia Brunetti conta que só de ouvir a palavra, Marília já ficava furiosa! O terceiro episódio do podcast “Marília – o outro lado da sofrência”, do g1, detalha como ela enfrentou o machismo da indústria e abriu caminho para uma geração inteira de mulheres no sertanejo, sem pedir licença para ninguém. Vale a pena ouvir!

A irritação com “feminejo” vinha da ideia de separação. Marília não queria um espaço reservado; ela queria igualdade, de verdade. Nos palcos, nas rádios, nos cachês. Antes dela, o sertanejo era um reino masculino. O empresário Wander Oliveira lembra que as cantoras de sucesso eram vistas como exceções, como Roberta Miranda ou Paula Fernandes. Paula, que estourou no início dos anos 2010, tinha um estilo mais romântico, com forte influência do country americano.

As rádios refletiam essa realidade. Wander conta que, quando começou a divulgar Marília, muitos radialistas diziam: “Mulher não pede música de mulher”. Alguns até achavam que tocar mais cantoras femininas ia derrubar a audiência. Pois é… “Infiel” quebrou esse paradigma. Em uma semana, estava entre as 10 mais pedidas! A partir daí, gravadoras e empresários correram atrás de outras vozes femininas com letras sinceras e linguagem direta. Mas não era só uma moda passageira, não: era uma transformação profunda.

Antes de brilhar como cantora, Marília já era uma força nos bastidores. Como compositora, tinha mais de 150 músicas gravadas por outros artistas. Ela escrevia o que queria ouvir como mulher. “Ela dizia que queria colocar na boca dos cantores o que ela mesma gostaria de ouvir. A história de ‘Cuida bem dela’, por exemplo, nenhum homem teria coragem de escrever”, revela o compositor Vinicius Poeta.

Mas a carreira de Marília como cantora foi além da coragem de falar o que ninguém falava. Ela cantava com dor, com ironia, com mistério. Criou uma estética única, o “mariliônico”. “Ninguém hoje tem a personalidade dela. ‘Infiel’, ‘Amante não tem lar’… ninguém canta essas músicas sem ser julgado. Marília era amada pela elite e pelo povo. Porque os conflitos que ela cantava, todo mundo sente”, afirma Poeta.

No começo da fama, em 2016, Marília disse ao g1 que não era feminista, afirmando que o feminismo “diminui a mulher” e que nunca havia sofrido machismo. Isso causou surpresa, mas também mostrou algo importante: ela ainda estava descobrindo o que significava ocupar aquele espaço gigantesco.

Com o tempo, seu discurso mudou. Na TV, reconheceu o machismo do mercado sertanejo e do Brasil. Começou a dizer que o melhor jeito de empoderar mulheres era pelo exemplo: mostrando sua história, sua luta, sua resistência. E isso se refletia nas letras. Em “Troca de Calçada”, ela dá voz a uma garota de programa. Em “Você Não Manda Em Mim”, canta sobre a libertação de uma mulher que foge de um relacionamento abusivo. Cada música era um retrato de dores reais, vividas por tantas outras mulheres. Por isso, faziam tanto sucesso.

Simone Mendes resume tudo: “Ela chegou com a voz, com o talento, com a doçura, com a beleza, rasgou a verdade dela e foi: ‘Eu vou tomar a minha cachaça sim, eu vou usar a roupa que eu quiser. Eu tenho esse corpo, é assim. Quem quiser gostar de mim que goste’. Isso é muito legal. Acho que não haverá outra Marília Mendonça. O legado dela é único.”

Hoje, artistas como Simone Mendes, Lauana Prado e Ana Castela dominam as paradas. E muitas reconhecem que só chegaram onde estão graças às portas que Marília abriu. Mari Fernandez, que no início da carreira era chamada de “Marília Mendonça do piseiro”, lembra: “Quando a Marília chegou, ela trouxe essa nova leva de cantoras. Antes, não tinha tantas. Muito do que a gente vive hoje vem do trabalho que ela plantou com toda a essência e a identidade dela.”

Simone Mendes, após o fim da dupla com Simaria, até contratou a equipe de Marília para sua carreira solo — incluindo o produtor Eduardo Pepato. O primeiro lançamento dessa parceria, “Erro Gostoso”, foi um estouro! A letra, sobre uma mulher que não consegue resistir a um amor que a machuca, tem a mesma pegada emocional das melhores músicas da Marília. “Tudo que você faz que dá certo, você tenta repetir a dose, de acordo com a característica do artista”, explica Pepato.

Fonte da Matéria: g1.globo.com