Domingo, 14 de setembro, voltei ao Vivo Rio, no Rio de Janeiro. Sabe? Ia rever o show “60 Anos de Carreira” de Maria Bethânia. Já tinha ido na estreia nacional, dia 6 de setembro, e, naquela ocasião, tava tão focado em anotar tudo – canto, repertório, arranjos – pra resenha do g1, que quase não curti direito! Dessa vez, relaxei. E posso dizer: confirmo tudo o que escrevi! Esse show é, sem dúvida, um dos melhores da trajetória dela. Um amigo de São Paulo até comentou, com um sorriso maroto: “É show pra entendidos!”. E é mesmo! O roteiro, criado pela própria Bethânia, é genial. Tá tudo lá, mas de um jeito inteligente, nada óbvio.
Ao contrário de muitos, Bethânia, assim como Ney Matogrosso, nunca apostou só nos sucessos. Ela prioriza um conceito. Imagina: poderia facilmente lotar os shows com “Olhos nos Olhos”, “Explode Coração”, “Sonho Meu”, “Grito de Alerta”… Mas não! Ela prefere o caminho mais difícil, porque sabe que o público dela é exigente e esperto.
E, gente, Bethânia tava radiante! Relaxada, segura no palco. O show estreou impecável, e ela percebeu isso. Por isso, manteve tudo igual nas quatro primeiras apresentações. Mas nem sempre foi assim, né? Em outros momentos da carreira, como naquele show “Tempo Tempo Tempo Tempo” de 2005 (que foi, digamos, meio confuso…), ela foi ajustando tudo ao longo da turnê. Às vezes, só se achava satisfeita no último show!
“60 Anos de Carreira” é o oásis dela. Pode até haver alguma ausência no repertório – senti falta de Waly Salomão, por exemplo – mas a seleção é impecável, elegante e sincera. Fiquei impressionado com as cinco músicas inéditas. “Balangandã”, de Paulo Dáfilin e Roque Ferreira (2025), um samba perfeito para a voz dela, uma baiana de nascimento. “Eu Mais Ela”, do Chico César, é contagiante. E o fado de Pedro Abrunhosa, “Se Não Te Vejo”, tem uma leveza incrível, sem aquela dramaticidade toda.
Mas, olha só, as duas grandes pérolas são: a música feita com o poema que Rita Lee (1947-2023) deixou pra Bethânia – “Palavras de Rita”, com melodia de Roberto de Carvalho, uma parceria que combina perfeitamente com ela! – e “Vera Cruz”, o samba de Xande de Pilares e Paulo César Feital, que já tá virando hit!
Enfim, saí do Vivo Rio com a certeza: Maria Bethânia é a maior voz viva do Brasil em 2025! E esse show tem tudo pra durar, já que a turnê deve se estender até 2026, incluindo a comemoração dos 80 anos dela, em 18 de junho. Prafraseando Caetano: rever “60 Anos de Carreira” – que inclui “Sete Mil Vezes”, cantada por Bethânia apenas em “Alteza” (1981) e “Dadaya” (1989) – foi uma noite feliz, em que todas as coisas foram belas.
Fonte da Matéria: g1.globo.com