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Luta de Leci Brandão é exaltada em documentário focado na militância guerreira da sambista de 80 anos


Atração da 17ª edição do festival In-Edit Brasil, em São Paulo, o filme de Anderson Lima tem tom ativista e alinha depoimentos de Emicida e Mano Brown Leci Brandão em take do filme que estreia na 17ª edição do In-Edit Brasil – Festival internacional do documentário musical
Reprodução / Vídeo
♫ OPINIÃO SOBRE DOCUMENTÁRIO MUSICAL
Título: Leci
Direção: Anderson Lima
Cotação: ★ ★ ★
♬ “Todas as palavras são pequenas diante da estatura moral de Leci Brandão”, sentencia Fernando Haddad, atual Ministro da Fazenda do Brasil. Ouvida logo no início de Leci, documentário de Anderson Lima sobre a cantora e compositora de 80 anos, a fala de Haddad sinaliza o tom ativista do filme.
Um dos destaques da programação da 17ª edição do In-Edit Brasil – Festival internacional do documentário musical, programada para acontecer de 11 a 22 de junho em São Paulo (SP), Leci é filme focado mais na militância de Leci do que na música, ainda que o documentário deixe explícito que uma e outra sempre caminharam juntas na trajetória da artista. Uma vida de luta. Não por acaso, o adjetivo “guerreira” aparece nos depoimentos de nomes como Alcione e Mano Brown.
Assinado pelo diretor Anderson Lima com Piero Sbragia, o roteiro abre com o entrelaçamento do canto do samba Deixa pra lá em dois momentos distintos, separados por 50 anos. Em sincronia perfeita, a música é ouvida intercaladamente em número gravado pela cantora para o programa Ensaio (TV Cultura) em 1974 – ano em que Leci debutou no mercado fonográfico com EP que abria justamente com Deixa pra lá – e em take captado em 2024, em São Paulo (SP).
Ao longo de 70 minutos, o documentário Leci marca posição política ao dar a correta dimensão ao engajamento da cantora e deputada – uma mulher negra nadando contra a corrente, como ressalta o rapper Emicida no filme.
Em contrapartida, o roteiro deixa lacunas para quem desconhece a trajetória discográfica da artista. Mas sabe-se pelo filme que Leci começou a fazer samba no fim de 1964 – quando tinha 20 anos – e que começou a ser notada quando venceu em 1968 o programa A grande chance, comandado pelo apresentador Flávio Cavalcanti (1923 – 1986) na TV Tupi com repercussão nacional.
A dimensão pública de Leci sempre ofuscou a cidadã, de cuja vida particular pouco se sabe. E pouco se continuará sabendo, já que o filme toca de raspão na questão privada. Há apenas um momento em que Leci confessa a falta que lhe faz a mãe, Lecy de Assumpção Brandão, morta em 2019 aos 96 anos. Dona Lecy viveu para ver a filha ser homenageada no Carnaval de 2012 pela escola de samba Acadêmicos do Tatuapé em desfile no qual mãe e filha vieram irmanadas, do alto de um cargo alegórico.
Com família que hoje se resume a duas sobrinhas e uma sobrinha-neta, a cantora concilia a agenda de shows com os compromissos políticos como deputada estadual do partido PCdoB. Segunda deputada negra na história da Assembleia Legislativa de São Paulo, Leci já foi eleita quatro sucessivas vezes desde 2010. Na música ou na política, Leci Brandão é mulher de discurso, como enfatiza Beth Carvalho (1946 – 2019) no filme.
Entre números musicais como Zé do Caroço (Leci Brandão, 1980) e Fogueira de uma paixão (Luiz Carlos da Vila, Arlindo Cruz e Acyr Marques), samba lançado pela cantora no álbum Dignidade (1987), o documentário Leci termina de forma meio repentina, mas sem deixar ponta solta.
Todas as falas de Leci Brandão e todas os depoimentos dos entrevistados, como Martinho da Vila (“Leci é uma estrela”), referendam a luta de uma voz que sempre se ergueu contra as tiranias, em defesa das minorias e das classes menos favorecidas pelo status quo. E nem por isso o documentário de Anderson Lima deixa de dar razão a Fernando Haddad: qualquer palavra é pequena diante da estatura de Leci Brandão da Silva.
Cartaz do documentário ‘Leci’, de Anderson Lima
Divulgação / 17ª edição do In-Edit Brasil

Fonte da Máteria: g1.globo.com