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Lula e Trump na ONU: Encontro improvável, mas tensão no ar

A Assembleia Geral da ONU, que começa essa semana em Nova York, tá agitando os ânimos! Afinal, é a primeira vez que Lula e Trump, como presidentes, vão estar no mesmo palco internacional. E, olha só, a situação entre Brasil e EUA não tá nada boa, né? A gente tá falando de uma crise crescente, com tarifas de 50% impostas por Washington sobre produtos brasileiros já em vigor.

O encontro entre os dois, mesmo sem uma reunião bilateral confirmada, é, no mínimo, tenso. Sabe, historicamente, o Brasil é quem abre os discursos na sessão plenária da assembleia. Nos bastidores, fontes próximas à delegação brasileira comentam que há uma espécie de “antessala” para os presidentes antes e depois dos discursos. Mas, a verdade é que ninguém garante que eles vão se cruzar.

Em entrevista à BBC News Brasil, Lula deixou claro que não tem nenhum problema pessoal com Trump. Disse que, se encontrar o republicano pelos corredores da ONU, vai cumprimentá-lo. “Porque eu sou um cidadão civilizado. Eu converso com todo mundo, eu estendo a mão para todo mundo”, afirmou o presidente.

Em agosto, Celso Amorim, assessor especial da Presidência, falou à CNN que um encontro formal não tá nos planos. Mas, acrescentou que “nada é imutável”, desde que haja algum gesto que justifique uma reunião.

Teve uma expectativa de encontro entre os dois em junho, na cúpula do G7 no Canadá. Só que, Trump deixou o evento antes do fim, alegando problemas com o conflito no Irã. Acabou adiando qualquer possibilidade de aproximação.

A coisa começou a esquentar na primeira semana de julho, quando Trump chamou as acusações contra Bolsonaro no STF de “caça às bruxas”. Poucos dias depois, em 9 de julho, anunciou a famigerada sobretaxa de 50% nas importações brasileiras.

No dia seguinte, Lula respondeu na lata, chamando a medida de “chantagem inaceitável” e prometendo retaliação. Em 15 de julho, o governo brasileiro regulamentou a Lei de Reciprocidade, criando mecanismos para responder a sanções estrangeiras.

Na entrevista à BBC News Brasil, Lula reforçou que a melhor solução “para qualquer conflito” é “sentar em torno de uma mesa e negociar”. “Se é do ponto de vista comercial, tem negociação, se é do ponto de vista econômico, tem negociação, tanto do ponto de vista de tributação, tem negociação. O que não tem negociação é a questão da soberania nacional”, enfatizou.

Em 1º de agosto, as tarifas americanas entraram em vigor. E, em 11 de setembro, veio a sentença de Bolsonaro: 27 anos de prisão. Isso reacendeu a fogueira! Trump criticou o julgamento, anunciou restrições de vistos para ministros do STF, e Lula respondeu com um artigo no The New York Times defendendo a democracia brasileira.

No artigo, Lula disse que é a favor de “um diálogo aberto e franco com o presidente dos Estados Unidos”, mas criticou as tarifas impostas por Washington. “O aumento tarifário imposto ao Brasil neste verão não é apenas equivocado, mas ilógico. Os Estados Unidos não têm déficit comercial com o nosso país, nem enfrentam tarifas elevadas aqui. Pelo contrário: acumulam um superávit de mais de US$ 400 bilhões nos últimos 15 anos.”

Ele também rebateu a ideia de perseguição política no Brasil e defendeu o papel do Judiciário. “Tenho orgulho do Supremo Tribunal Federal brasileiro por sua decisão histórica, que protegeu nossas instituições e o Estado democrático de direito. Não se tratou de uma ‘caça às bruxas’, mas de um julgamento conduzido de acordo com a Constituição de 1988.”

Com a ONU como palco, a presença dos dois líderes em Nova York está sendo observada de perto. Mais do que um aperto de mãos — improvável, segundo especialistas —, o que importa é a disposição de Brasília e Washington em frear essa escalada de atritos que, em poucos meses, transformou divergências políticas em uma crise comercial séria.

**Diálogo improvável, dizem especialistas**

Para Paulo Velasco, professor de política internacional da Uerj, as posições firmes de Brasília e Washington tornam qualquer diálogo na ONU improvável. “O Brasil está defendendo sua soberania e repelindo qualquer forma de ingerência externa indevida, enquanto o governo Trump acredita estar agindo corretamente, considerando que o Brasil faz uma ‘caça às bruxas’, para repetir o termo usado por ele.”

Velasco também destacou que Lula não vai se colocar em situações constrangedoras, como “alguns desafios que aconteceram com o Zelensky, por exemplo, em fevereiro na Casa Branca”. Na ocasião, o encontro entre os presidentes dos EUA e da Ucrânia terminou em uma discussão acalorada, cancelando a coletiva de imprensa e o acordo previsto.

“Então eu acho que o Lula não se permitirá passar — pela experiência internacional que ele tem — por uma cena constrangedora ao lado do Trump. Particularmente estou bastante cético, e não acho que a gente vai ver uma aproximação na semana que vem entre os dois, talvez sequer um aperto de mãos entre eles.”

Matias Spektor, professor de Relações Internacionais da FGV-SP, completa dizendo que qualquer contato será meramente formal: “Eles estarão na sala de espera antes de subir ao pódio da Assembleia Geral e podem nem sequer se falar. Não haverá tempo nem equipes preparadas para negociações substantivas. O máximo que se poderá observar são sinais sutis, como a linguagem corporal ou um cumprimento rápido.”

Sobre os discursos, Spektor avalia que o foco será doméstico: “O púlpito da Assembleia Geral é usado para falar com os eleitores, não com outros países. Lula deve centrar o discurso na soberania, no livre comércio e nas instituições internacionais, com tom crítico ao que o Trump vem fazendo. Já Trump provavelmente falará sobre o radicalismo da esquerda e mirando sua base eleitoral nos EUA.”

Ele conclui lembrando o caráter político da Assembleia: “A Assembleia Geral não é um local para negociar acordos ou alianças, mas define o tom político global e indica para onde se movimenta o pensamento internacional.”

Fonte da Matéria: g1.globo.com