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Lula assume comando do Mercosul em encontro com Milei na Argentina

Nesta quinta-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a presidência do Mercosul, em Buenos Aires, numa cúpula que teve como anfitrião o presidente argentino, Javier Milei. Imaginem só: dois políticos com visões bem diferentes, lado a lado! Apesar das divergências ideológicas, os dois trocaram abraços após a cerimônia de transmissão do cargo, um gesto que, na real, demonstra a busca por relações pragmáticas entre os países, mesmo com as diferenças políticas gritantes.

A posse de Lula marca sua primeira viagem à Argentina desde a chegada de Milei ao poder em dezembro de 2023. Embora não haja, até o momento, uma reunião bilateral agendada entre os dois presidentes – a agenda oficial divulgada pela Presidência brasileira não menciona nenhum encontro reservado –, a cordialidade nos encontros públicos foi evidente. A relação, por enquanto, se mantém no campo diplomático, conduzida pelas chancelarias e ministérios, mantendo um diálogo funcional apesar das críticas públicas trocadas no passado.

O Mercosul, vale lembrar, funciona com um sistema de rodízio semestral na presidência, entre Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. A Bolívia, aliás, está quase entrando para o grupo.

Na cerimônia, Lula foi recebido por Milei com a formalidade do protocolo, e ambos trocaram apertos de mão. Olha só que interessante a dinâmica: a cúpula aconteceu em meio a divergências sobre acordos comerciais externos ao bloco. O Uruguai, por exemplo, sob o comando de Luis Lacalle Pou, tentou um acordo separado com a China, antes de Yamandú Orsi assumir a presidência uruguaia.

Em seu discurso de abertura, Milei, que é, digamos, bem liberal, criticou a burocracia do Mercosul, comparando o bloco a uma “cortina de ferro” que sufoca os países-membros. Ele defendeu uma “liberdade comercial” e a flexibilização das regras do bloco, caso essa liberdade não seja alcançada. O presidente argentino também aproveitou para criticar o governo de Nicolás Maduro na Venezuela, exigindo a libertação imediata do policial argentino Nahuel Agustín Gallo, preso no país. Além disso, ele defendeu a cooperação para combater o crime organizado e agradeceu o apoio dos países-membros na disputa das Malvinas, afirmando com firmeza: “Malvinas são território argentino”.

Já Lula, em seu pronunciamento, destacou a prioridade de fortalecer o comércio interno do Mercosul e com parceiros externos. Ele quer incluir os setores automotivo e açucareiro na união aduaneira e se mostrou confiante na assinatura, até o final do ano, dos acordos de livre comércio com a União Europeia e a EFTA (Associação Europeia de Livre Comércio). A ambição não para por aí: Lula também pretende avançar nas negociações com Canadá, Emirados Árabes Unidos, Panamá e República Dominicana, além de atualizar os acordos com Colômbia e Equador. Em um momento de forte tensão comercial entre EUA e China, Lula defendeu um olhar estratégico para a Ásia: “É hora de o Mercosul olhar para a Ásia, centro dinâmico da economia mundial. Nossa participação nas cadeias globais de valor se beneficiará de maior aproximação com Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia”.

A principal meta de Lula à frente do Mercosul é a assinatura do acordo de livre comércio com a União Europeia, uma negociação que se arrasta há mais de duas décadas. Se concretizado, será a maior zona de livre comércio do mundo, mas precisa da aprovação de todos os países envolvidos. A França, por exemplo, tem demonstrado resistência, preocupada com o impacto em seus produtores rurais. Lula acredita que o cenário internacional, marcado por tarifas impostas pelos EUA, pode ser um incentivo para a União Europeia fechar o acordo.

Paralelamente, o Brasil, sob a liderança de Lula, também irá trabalhar na implementação do acordo com a EFTA (Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça). O Itamaraty anunciou na quarta-feira (2) a conclusão das negociações, com o texto em fase de revisão para publicação em agosto. Segundo o Itamaraty, esse acordo criará uma zona de livre comércio com quase 300 milhões de pessoas e um PIB combinado superior a US$ 4,3 trilhões. Ainda não há data para sua entrada em vigor.

Apesar da ausência de uma reunião bilateral entre Lula e Milei, o presidente brasileiro se reuniu com o presidente paraguaio, Santiago Peña, e deve se encontrar com o boliviano, Luís Arce. Esse encontro, na minha opinião, demonstra que, apesar das diferenças políticas, a diplomacia e a necessidade de cooperação regional prevalecem. Vale lembrar que, durante a campanha, Milei fez diversas críticas a Lula e ao PT. Em 2024, Milei visitou o Brasil, mas se encontrou apenas com Jair Bolsonaro, ignorando Lula. A situação, para ser sincera, é complexa e merece atenção.

Fonte da Matéria: g1.globo.com