Olha só que incrível! O primeiro álbum solo de Letícia Novaes, “Letrux em noite de climão” (2017), ganhou um livro! E não é qualquer livro, não. Faz parte da ótima série “O livro do disco”, da editora Cobogó, e a autora, Roberta Martinelli, merece aplausos. A cotação? Quatro estrelas! ⭐⭐⭐⭐
Sabe, quando Letícia, após a separação do duo Letuce em 2016 (depois de três álbuns lançados desde 2008), decidiu seguir carreira solo, muita gente duvidou. Principalmente em alguns círculos da cena indie carioca e paulistana. Afinal, quem diria que ela conseguiria sem Lucas Vasconcellos, seu parceiro no Letuce? Uns comentários bem machistas, né? Mas Letícia, essa mulher incrível, mostrou a que veio.
Ela usou toda essa insegurança, toda essa energia negativa, como combustível. E, assumindo a persona de Letrux, criou um disco que a catapultou para um outro nível de visibilidade. Lançado em 10 de julho de 2017 pela Joia Moderna, “Letrux em noite de climão” virou um marco na música alternativa brasileira. Tanto que, oito anos depois, mereceu um livro inteiro pra chamar de seu! A Roberta Martinelli, inclusive, traz na páginas 37 e 38 a prova dessa vitória: os comentários machistas que Letícia superou.
É impressionante, né? A série “O livro do disco” geralmente foca em álbuns dos anos 70 e 80, com raríssimas incursões nos 90 – como “Da lama ao caos” (Chico Science & Nação Zumbi, 1994) e “Lado B Lado A” (O Rappa, 1999). Isso mostra o impacto de “Climão” – como os fãs carinhosamente chamam o álbum – na cena musical atual.
Com uma capa vermelha vibrante, que reflete a energia dançante e a temática noturna do álbum, o livro se destaca pela escrita fluida de Roberta Martinelli e pela sua proximidade com Letícia. A autora acompanhou o processo criativo desde o início, lá em 2015.
Roberta conta tudo: a busca pelo conceito do disco, a formação da banda – com destaque para Arthur Braganti (teclados) e Natália Carrera (guitarra), também produtores – e o financiamento coletivo. Sim, Letícia inicialmente resistiu ao crowdfunding, mas acabou aceitando, já que os editais tradicionais não deram certo. Ironia da vida, o disco mais comentado de 2017 não conseguiu aprovação em nenhum edital!
Em março de 2017, o crowdfunding foi um sucesso. Aí foi gravação na Toca do Bandido, no Rio, depois de ensaios em fevereiro nas casas de Arthur e Natália. O livro traz momentos emocionantes, como o choro de Letícia durante a gravação de “5 years old”. E tem a participação de Marina Lima em “Puro disfarce”, gravada em São Paulo e enviada para Letícia. Aliás, dizem por aí que foi Marina quem alertou Letícia sobre a música “Alinhamento inocente”, que destoava do resto do álbum. Mas, segundo o livro, foram Letícia, Arthur e Natália que perceberam a dissonância. Após consultas místicas de Letícia (como relata Martinelli), a música foi retirada e, dois anos depois, lançada por Fafá de Belém como “Alinhamento energético” no álbum “Humana” (2019).
Roberta detalha a divulgação nas redes sociais, a repercussão na crítica (inclusive citando a opinião deste colunista do g1!), e a turnê de dois anos que consagrou o álbum. Como em todos os livros da série, tem o tradicional faixa a faixa e um capítulo final, “Pós-Climão”, que fala brevemente sobre os álbuns seguintes de Letrux: “Aos prantos” (2020) e “Letrux como mulher girafa” (2023).
Em resumo? Um livro que flui super bem e se destaca como um dos melhores da série. Recomendo demais!
Fonte da Matéria: g1.globo.com