Jude Law, interpretando Vladimir Putin, e Paul Dano brilham em “O Mago do Kremlin”, filme apresentado no Festival de Cinema de Veneza. A produção, que oferece uma visão ficcional, porém arrepiante, da ascensão de Putin ao poder, causou um burburinho. Neste domingo, Law afirmou que não teme as possíveis consequências de encarnar o presidente russo. “Na real, eu não tenho medo de represálias”, disse o ator, admitindo um certo otimismo, porém sem ingenuidade.
Dirigido pelo francês Olivier Assayas, “O Mago do Kremlin” mostra Putin eliminando, sem piedade, aqueles que ousam cruzar seu caminho. O filme, estrelado também por Paul Dano, é baseado no best-seller de Giuliano da Empoli. A trama acompanha Vadim Baranov, um obscuro membro do Kremlin que se transforma de artista a produtor de TV, e finalmente, médico de Putin. Do seu escritório no Kremlin, Baranov cria narrativas que misturam verdade e propaganda, fé e manipulação, abrindo mão dos próprios valores para servir ao seu mestre, obcecado em restaurar a grandeza da Rússia pós-União Soviética.
Law contou que evitou imitar Putin fielmente, mas buscou capturar a essência do homem. “Olha só o que uma boa peruca faz!”, brincou. “A parte difícil é que a imagem pública dele revela tão pouco… Foi um conflito tentar mostrar essa pouca coisa, mas sentir e retratar muito por dentro”, explicou o ator britânico. O filme, segundo ele, aborda a ascensão teimosa de Putin “com nuances e consideração. A gente não tava atrás de polêmica gratuita.”
Assayas, conhecido por filmes como “Carlos” (2010) e “Personal Shopper” (2016), destacou que a obra extrapola os limites da Rússia. “A gente fez um filme sobre o que a política se tornou, sobre essa situação apavorante e perigosa que a gente sente que tá vivendo”, disse ele. “Usamos o caso de Vladimir Putin, mas isso se aplica a muitos líderes autoritários. A política mudou muito nas nossas vidas, e o que está acontecendo agora é assustador”, completou.
Jeffrey Wright, ator norte-americano que interpreta um escritor americano no filme, disse esperar que a obra tenha grande alcance nos EUA. Ele teme que seu país perca seus ideais e aspirações. “Se isso se perder, como tá acontecendo agora, a gente vai se tornar o que a gente vê nesse filme”, alertou.
Já Dano, que interpreta Baranov, destacou que o filme evita rótulos morais simplistas. “Se você simplesmente rotulasse um personagem como mau, seria uma baita simplificação”, afirmou. “Perguntar o porquê e olhar para o meio termo, mesmo que dê medo, é melhor do que nos deixar ir cada vez mais pro preto e branco.”
“O Mago do Kremlin” concorre ao Leão de Ouro, prêmio máximo do festival, entre 21 filmes. A premiação acontece em 6 de setembro.
Fonte da Matéria: g1.globo.com
