A indústria brasileira deve crescer apenas 1,7% em 2025, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Uma notícia ruim, né? Principalmente se compararmos com o desempenho de 2024. A indústria de transformação, que transforma matéria-prima em produtos acabados ou intermediários, tá puxando essa desaceleração para baixo.
Olha só: o PIB industrial subiu apenas 0,5% no segundo trimestre. A CNI aponta que a combinação de juros altos, aumento das importações e a queda esperada nas exportações – por causa daquela sobretaxa de 50% dos EUA em produtos brasileiros – tá sufocando o setor.
Mário Sérgio Telles, diretor de Economia da CNI, cravou: a indústria brasileira, principalmente a de transformação, tá “andando de lado”. Isso, apesar do aumento da demanda interna! “O mercado interno tá crescendo, impulsionado pelo aumento da renda do mercado de trabalho, que ainda tá aquecido. Mas esse aumento da demanda, nos últimos meses, tá sendo quase que totalmente suprido pelas importações”, explicou Telles. Ou seja, a gente tá consumindo mais, mas o que a gente consome tá vindo de fora.
Uallace Moreira, secretário do Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), tenta manter o otimismo. “A indústria ainda cresce, apesar do cenário complicado de juros altos e das dificuldades com os Estados Unidos”, pondera. Ele projeta um crescimento entre 1,5% e 1,8% para o ano, com um PIB crescendo por volta de 2,5%. “A taxa de juros alta inviabiliza os setores de bens de consumo duráveis e de investimento, de máquinas e equipamentos”, completa.
Na visão de Telles, os setores menos sensíveis à variação da taxa de juros, como o de alimentos, têm se saído melhor. Aliás, esse setor vem mostrando um desempenho positivo.
Mas o pessimismo reina entre os empresários. A Sondagem da Indústria de Transformação da FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia) mostrou uma queda de 4,4 pontos no Índice de Confiança da Indústria (ICI) em agosto – a maior desde a pandemia.
Stéfano Pacini, economista da FGV IBRE, explica que esse pessimismo se deve aos desafios imediatos do setor. “A principal dificuldade hoje é a taxa de juros”, afirma Pacini. A alta taxa de juros encarece e dificulta o acesso ao crédito, essencial para consumo e investimentos. “Com juros altos, o empresário fica mais cauteloso antes de investir, comprar equipamentos novos ou expandir a produção”, completa.
Pacini lembra que, apesar dos efeitos negativos no curto prazo, a política monetária restritiva visa controlar a inflação e estabilizar a moeda. “É uma medida necessária para evitar novas pressões inflacionárias, e isso passa por uma desaceleração da atividade econômica”, diz.
Rafael Cagnin, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI), compartilha dessa visão. “A indústria vive uma desaceleração, em grande parte por fatores internos. O setor depende muito do crédito, e o aumento da taxa de juros desde o último trimestre de 2024 diminuiu o dinamismo”, afirma Cagnin.
E tem mais: o “tarifaço” americano, com a alíquota de 50% sobre produtos brasileiros, desde 6 de agosto, é “mais uma pedra no sapato”, segundo Cagnin. Em julho, Donald Trump, então presidente dos EUA, anunciou uma tarifa extra de 40%, elevando a taxação total para 50%. O governo Trump justificou a medida por razões políticas, mas depois concedeu algumas exceções, como para aeronaves – um setor sensível para os EUA, que usam muito aviões da Embraer.
Para tentar amenizar os impactos, o governo brasileiro lançou o Plano Brasil Soberano, que inclui uma linha de crédito de R$ 30 bilhões para empresas afetadas pelo tarifaço. O BNDES também anunciou uma linha adicional de R$ 10 bilhões para empresas atingidas por tarifas menores que 50%.
Uallace Moreira afirma que o plano buscou atender as demandas do setor, fruto de 39 reuniões com 389 entidades e empresários. “Vamos avaliar se ele é suficiente. Dentro dessa realidade, o plano pode ser readaptado”, afirma Moreira.
As medidas foram bem recebidas, mas a indústria enfrenta outro desafio: adaptar sua produção ao consumo americano. Calçados e autopeças, por exemplo, são feitos seguindo padrões americanos, dificultando a rápida redireção para outros mercados.
Cagnin sugere que, além de medidas emergenciais como o Brasil Soberano, é preciso diversificar mercados, ampliar a pauta de produtos e aumentar o número de empresas exportadoras. “Isso depende de uma agenda de competitividade e da redução do Custo Brasil, algo que deveríamos ter feito há muito tempo. O acordo Mercosul-União Europeia e outros acordos bilaterais seriam importantes”, conclui.
Fonte da Matéria: g1.globo.com