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Grupo de brancos nos EUA quer criar comunidade segregada; investigação é aberta e ONG reage

Um grupo de norte-americanos brancos, autodenominado “Return to the Land” (Retorno à Terra), está causando polêmica ao tentar construir uma sociedade exclusivamente branca nas Montanhas Ozark, no Arkansas. O grupo, formado por famílias que se identificam com “valores tradicionais” e ancestralidade europeia, procura criar uma comunidade que, segundo seu site, promova “harmonia econômica e social” entre seus membros. Acontece que, na prática, essa harmonia se resume à exclusão de pessoas não brancas.

Para ingressar na comunidade, os candidatos precisam preencher um formulário online onde são verificados antecedentes criminais, ascendência e outros dados pessoais. Aí está o detalhe crucial: o grupo só aceita pessoas brancas. Eric Orwoll, um dos fundadores, confirmou ao New York Times que a ausência de pessoas de outras etnias é intencional. “Ver alguém que não se apresenta como branco pode nos levar a não admitir essa pessoa”, declarou Orwoll. Quando questionado pela NBC News se isso não seria segregação, ele respondeu com um “é livre associação, não estamos tentando menosprezar ninguém. É como um pequeno povoado… você não deixa todo mundo entrar na sua casa”. Ora, essa justificativa não convence muita gente.

Nas redes sociais, a comparação com o nazismo é frequente. Um usuário do X (antigo Twitter) comentou: “O Return to the Land frequentemente se refere à ideologia do ‘sangue e solo’, um princípio fundamental do nazismo…”. A resposta do grupo, em sua seção de perguntas frequentes, foi evasiva: “O Partido Nazista existiu na Alemanha de 1919 a 1945. Atualmente, estamos em 2025 e estamos nos Estados Unidos. Tire suas próprias conclusões”. Em 14 de agosto de 2025, o grupo publicou no X que busca criar “comunidades seguras para descendentes de europeus, com valores tradicionais”, afirmando não ser uma milícia e apoiando “outros grupos que criam suas próprias comunidades com base em etnia ou religião”. Um post posterior declarou: “uma nação de colonos, não de imigrantes”. A ironia é que, em pleno século XXI, essa retórica ecoa práticas discriminatórias do passado.

A primeira comunidade do Return to the Land foi estabelecida em outubro de 2023 em um terreno de 60 hectares no nordeste das Ozarks, abrigando diversas famílias e em constante expansão. Uma segunda comunidade foi fundada em janeiro de 2025, na mesma região, e uma terceira está em construção. Vale lembrar que o Arkansas, onde tudo isso acontece, votou em Donald Trump na eleição presidencial de 2024.

Essa situação, no entanto, não passou despercebida. O procurador-geral do Arkansas, Tim Griffin, abriu uma investigação sobre possíveis violações legais cometidas pelo grupo. ReNika Moore, diretora do Programa de Justiça Racial da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU), afirmou categoricamente ao New York Times que: “As leis federais e estaduais, incluindo a Lei de Moradia Justa, proíbem a discriminação habitacional com base em raça, ponto final. Reformular a segregação residencial como um ‘clube privado’ ainda é uma violação clássica da lei federal”. O grupo, que conta com 13,4 mil seguidores no X e 2.549 membros em seu canal no Telegram, além de uma página com foco em assuntos femininos (“Return to Femininity”, com 413 seguidores no X), enfrenta agora as consequências de suas ações. A pergunta que fica é: até quando essa tentativa de criar um enclave racial será tolerada?

Fonte da Matéria: g1.globo.com