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Geração Z, Trends e Likes: Empreendedores buscam o sucesso nas redes, mas com cautela

A busca por likes e viralização nas redes sociais virou prioridade para muitos empreendedores. Se você deu uma olhada no TikTok ou Instagram ultimamente, provavelmente se deparou com vídeos que começam com um “Oi, divos e divas!”, seguidos de termos como “babadeiro”, “iconic”, “faraônico” e “aesthetic”. Essas gírias da Geração Z estão bombando, usadas por todo mundo – de pequenos comerciantes a grandes multinacionais, passando por padres, órgãos públicos e até o próprio governo federal – para fisgar a atenção dos jovens.

Mas será que essa estratégia realmente funciona? Vale a pena? Olha só o que aconteceu com uma rede de drogarias em Iturama, Minas Gerais: um vídeo no TikTok, estrelando Seu Antônio, um senhor super carismático usando gírias da Gen Z, atingiu mais de 4,2 milhões de visualizações! Incrível, né?

Daniela Ferreira, dona da drogaria, explica: “Hoje em dia, não tem ferramenta de marketing melhor que as redes sociais. Em seis meses, com um trabalho mais focado, nosso faturamento cresceu 25%! E mesmo com novas farmácias na cidade, só vimos crescimento”. A chave do sucesso? Uma estratégia digital esperta! Eles contrataram um gestor de tráfego que criou conteúdo específico para cada plataforma: vídeos engraçados e virais para o TikTok, e dicas, promoções e orientações de saúde para o Instagram.

Mel Mendes, funcionária da drogaria, foi descoberta no TikTok e virou a criadora de conteúdo da empresa. Ela mesma produz e edita os vídeos, com total autonomia. Daniela conta: “A gente só orienta na questão da ética, mas a criatividade é toda dela! Ela consegue colocar muito humor no nosso trabalho”. E detalhe importante: eles evitam qualquer conteúdo que incentive a automedicação, sempre orientando as pessoas a procurarem profissionais de saúde. Os funcionários participam das gravações voluntariamente, dentro do horário de trabalho. O resultado? Clientes de outras cidades agora procuram a drogaria, atraídos pelos vídeos e pela equipe simpática. Daniela completa: “Vejo muitos empresários que não dão oportunidades aos funcionários, e isso é um erro. Muita gente duvida da Geração Z, mas eu acredito no potencial deles, é enorme!”.

Outro exemplo bacana é uma loja de materiais de construção em Cabo Frio, Rio de Janeiro. A presença online forte fez com que a loja se tornasse uma referência na região. Juliana Cardoso, contadora e responsável pelo marketing digital, conta que a pandemia acelerou a migração para o digital. No começo, eram só fotos de pisos e promoções. Com o tempo, eles adotaram vídeos criativos, reels e trends, com muito humor e dancinhas para aumentar o engajamento.

Aí veio o vídeo que viralizou: o “vídeo da tijolada”! Lucas Rodrigues, o “Feijãozinho”, leva uma tijolada de brincadeira depois de dizer a frase “coloca o capacete que lá vem pedrada” (referência à música “Malvada”, do Zé Felipe), e em seguida, a vendedora Gabrielly Mello apresenta as promoções de piso. Em apenas 20 segundos, o vídeo ultrapassou 17 milhões de visualizações no TikTok e foi compartilhado por vários outros comércios. Juliana comenta: “Os vendedores adoram aparecer, porque atrai clientes. Tem gente que vai na loja só para comprar com o Lucas!”. Apesar da diversão, eles tomam cuidado para não colocar os funcionários em situações constrangedoras ou de risco. “A gente segura as ideias mais exageradas. Tem que ter cuidado para não passar do limite”, afirma Juliana. Mesmo sem atender clientes fora da região (por causa do peso dos materiais, os envios pelos Correios são inviáveis), as redes sociais aumentaram o faturamento e trouxeram novos clientes.

Mas atenção: usar trends com humor é ótimo, mas exige cuidado! Especialistas alertam para os riscos de conteúdo ofensivo, riscos à saúde física dos funcionários e situações constrangedoras. João Finamor, professor de marketing digital da ESPM, destaca a importância de respeitar direitos autorais (música e imagens), evitar humor ofensivo ou de má interpretação, não expor funcionários ou clientes sem consentimento e ter muito cuidado com trends que envolvam riscos físicos. Ele lembra que memes chamam atenção, mas não garantem vendas. Um vídeo pode viralizar, mas nem sempre significa que foi bem recebido pelo público. O humor é subjetivo, e o que um empreendedor acha engraçado pode não ser para o cliente.

As redes sociais são muito mais que vitrines, são ferramentas essenciais em todo o relacionamento com o consumidor, desde atrair até fidelizar e vender. Para o consumidor, também são canais de relacionamento e pesquisa. Manter um perfil ativo é fundamental, mesmo que as vendas não sejam online. Cada rede tem sua linguagem e público, o formato e o tom são diferentes. Uma publicação no Twitter pode acabar no TikTok, depois no Instagram e no WhatsApp. O que muda é o formato e a linguagem.

Tainá Alves, coordenadora do Sebrae, reforça a importância de alinhar as trends aos valores da empresa. “Não adianta seguir uma trend só pelos likes, pode ser prejudicial. Você pode ter muitas visualizações, mas dificilmente mantém a audiência depois”. Viralizar significa alcançar um público muito maior, e é preciso manter o perfil ativo e produzir conteúdo relevante. A consistência é crucial, pois os algoritmos avaliam o engajamento. Um bom conteúdo traz retorno, mas a empresa precisa estar preparada: estoque suficiente, atendimento ágil, logística eficiente, respostas rápidas e canais de comunicação ativos (como o WhatsApp). Senão, o sucesso momentâneo pode virar problema.

É importante lembrar: funcionários NÃO são obrigados a gravar vídeos para a empresa se não quiserem, ou se isso não está no contrato. Paulo Renato Fernandes, professor de Direito da FGV, explica que isso pode configurar desvio de função, dando direito a um adicional. Além disso, há o direito de imagem, que precisa ser autorizado por escrito, com especificação de onde os vídeos serão exibidos. Maurício Corrêa da Veiga, advogado trabalhista, recomenda obter autorização para cada campanha, mesmo que a atividade esteja no contrato. Funcionários podem processar a empresa se se sentirem coagidos.

Para Tainá Alves, do Sebrae, o ideal é que o próprio empreendedor apareça nos vídeos, gerando credibilidade. Se não for possível, microinfluenciadores podem ser uma boa opção. Eles têm um número menor de seguidores (entre 1 mil e 100 mil), mas um engajamento mais real com comunidades específicas, geralmente gerando mais retorno que grandes influenciadores. A Geração Z, mesmo com menor poder de compra, influencia decisões familiares e é o público do futuro, buscando propósito, impacto social e conteúdo autêntico. As marcas precisam dialogar com eles agora.

Fonte da Matéria: g1.globo.com