Meu quarto dia como Legendário começou com um “acorde, senhores!” nada gentil. Alguns recém-formados, tipo, reclamaram da resenha da minha “família” (grupo no retiro) na noite anterior. Olha só, a vingança deles foi acordar a gente mais cedo que o combinado! Mas, uns 15 minutos depois, veio o chamado oficial e saímos das barracas. A pressão pra ser rápido já tava na nossa rotina, sabe?
Era manhã, sol a pino, e o nosso último dia no acampamento. Pela primeira vez, nos reunimos como um batalhão uniformizado, todos com a camisa laranja oficial – a “farda”. Cada um recebeu a sua no churrasco da noite anterior. Na frente das famílias, com suas bandeiras, tinha três mastros: Bahia à direita, a do Legendários no meio e a do Brasil no centro, esperando pra ser hasteada.
Patriotismo e um grito de guerra? Tava lá! Começamos com o hino nacional. Só que a bandeira emperrou no meio do caminho, quase caindo! Foi tenso, mas no fim subiu.
A primeira fala do dia reforçou algo que já tinha sido debatido no retiro: os problemas do Brasil estão ligados a homens que não seguem os princípios cristãos, caindo na corrupção. A missão de um Legendário? Promover uma mudança nisso.
Depois fomos pro fundo do descampado pra foto oficial. O fotógrafo pediu pra gente fazer um “L”, mas, na real, rolou uma certa confusão. Uns entenderam como “L” de Lula, outros de Jesus, ou quem sabe de Jair… Até então, não tinha rolado nenhuma menção a políticos, só críticas à corrupção.
Em seguida, fomos receber nossos bonés com os números de Legendários. O meu? 130.821! Quase 131 mil homens já tinham feito essa jornada antes de mim.
Aí veio um conselho bem inusitado: evitar falar sobre o retiro com nossas esposas, pois mulheres são, segundo o palestrante, mais curiosas e fofoqueiras. Rimos bastante com isso.
Ensaiamos o grito de guerra várias vezes. Depois, o diretor apresentou os coordenadores das áreas de atuação do evento e falou sobre o voluntariado (pago, entre R$ 100 e R$ 200, descobri depois).
Chegou a hora da volta. No ônibus, o clima era bem diferente da ida. Com as janelas abertas, deu pra perceber que estávamos em Santa Terezinha, um lugar famoso por esportes de aventura. O segredo acabou: éramos oficialmente Legendários!
Colegas que trabalharam no retiro tiraram nossas dúvidas. Eles são voluntários, dormem em barracas e comem a mesma coisa que a gente. Contaram sobre o processo de “servir” (o voluntariado) e muitos já estavam animados pra voltar.
Chegamos à Igreja Batista Lagoinha em Salvador, todos uniformizados. Às 13h08, recuperamos nossos celulares. A recepção foi incrível! Parecia uma entrada de lutador de MMA: um corredor iluminado, cheio de gente vibrando, com cartazes e balões. Crianças assistiam tudo encantadas. A trilha sonora? Rock com a batida “E eu vou, vou subir a montanha!”, seguido de um hino evangélico com pegada militar.
Depois dos abraços e beijos emocionados, sentamos no chão, enquanto as famílias se acomodaram nas cadeiras. A cerimônia começou com um vídeo bem produzido mostrando os momentos do retiro.
Aí veio a parte mais emocionante: os testemunhos. O destaque foi Jucemar Moreira, 64 anos, com Parkinson, que desafiou a doença e subiu a montanha. Ele foi uma inspiração pra todos nós. Ele me contou depois que teve uma queda, quase desistiu, mas sentiu “como se um anjo o levasse”. Apesar das dificuldades, completou a trilha a pé.
Ele não pôde levar relógio e teve dificuldade em tomar seus remédios no horário, mas tudo correu bem. No palco, um legendário que serviu no retiro contou a história de Jucemar e revelou que é dono de uma distribuidora de um equipamento que pode ajudar a curar o Parkinson. Como um presente, ele vai doar o tratamento para Jucemar, que custa mais de R$ 220 mil. Atualmente, Jucemar aguarda os exames finais.
Quase no final, a esposa do diretor, que lidera as “ladies” (esposas, mães e namoradas dos Legendários), mostrou vídeos com relatos delas. Ela falou sobre a importância da união no casamento, criticando a competição financeira entre casais.
Depois de quase 4 horas, meu Legendários acabou. Apesar do número oficial, não me considero um Legendário, pois algumas ideias do retiro vão contra minhas convicções. Mas fiz boas amizades e vi a vontade verdadeira deles em serem homens melhores. A volta à “vida real” foi importante pra refletir sobre tudo. Este foi meu relato. E você, o que achou dos Legendários?
Fonte da Matéria: g1.globo.com