O paulistano Rodolfo Cadamuro, 32 anos, passou por um momento constrangedor durante uma apresentação da peça “Cenas da Menopausa”, estrelada por Claudia Raia. Usando audiodescrição – recurso essencial para pessoas com baixa visão como ele –, Rodolfo foi interrompido pela atriz, que pediu para ele tirar os fones. A situação, que aconteceu em 13 de setembro, viralizou nas redes sociais e reacendeu o debate sobre acessibilidade no Brasil.
“A gente fala muito sobre acessibilidade nas nossas redes, @pop.cornea no Insta e TikTok”, contou Rodolfo ao g1. “Mas a gente tá numa bolha, sabe? Quando a gente tenta alcançar um público maior, percebe-se que falta o conhecimento básico. Não é maldade, muitas vezes, é pura falta de informação sobre como as coisas funcionam”, explicou. Ele explicou que a audiodescrição, que narra os elementos visuais de uma peça para pessoas com deficiência visual, é transmitida via fone de ouvido, conectado a um celular ou transmissor. Muita gente confunde com “autodescrição”, completou.
Rodolfo, que nasceu com catarata e tem 5% de visão em um olho e 30% no outro, após 19 cirurgias e quatro transplantes de córnea, estava testando o recurso pela primeira vez em um teatro. Acompanhado da esposa, Monique Scisci, ele ficou em choque com a atitude de Claudia Raia. “Foi impactante, na hora não foi legal. Mas ela se mostrou aberta ao diálogo, mandou um áudio no dia seguinte se desculpando. Desculpas genuínas, aceitas de coração. Vamos transformar isso em algo positivo, dar visibilidade ao tema”, afirmou.
Monique, que tem 36 anos e enfrenta dificuldades de locomoção devido a uma patologia óssea rara, reforçou: “Errar é humano. O importante é reconhecer o erro, aprender e não repeti-lo. E, no caso dela, sendo uma figura pública, usar sua influência para conscientizar e dar voz a essa causa. Se a gente deixa as pessoas com medo de errar, a gente afasta as pessoas da causa”.
O casal criou o perfil Popcórnea em 2023 para compartilhar seu dia a dia e promover a discussão sobre acessibilidade. “Muita gente dizia que nossa história era inspiradora, que precisava ser compartilhada. A gente mostra a rotina, como nos complementamos, de forma leve, com humor. A gente é crítico sim, mas sem atacar”, disse Monique.
Rodolfo, formado em Relações Internacionais pela Unesp de Franca e com pós-graduação, trabalha no mercado financeiro. Sua trajetória de vida, marcada por superação e luta por inclusão, inspira. “Sempre fui ativo, meus pais me incentivaram muito. Na escola, na faculdade, tive que lutar para ter o material adaptado. A gente tem que ocupar todos os espaços”, afirma, lembrando que quase 8 milhões de brasileiros têm deficiência visual. “Muitas pessoas não saem de casa por causa das dificuldades. Quem se interessa pelo tema geralmente tem uma deficiência ou conhece alguém próximo que tem. Temos que levar esse debate para todos”, finalizou.
Claudia Raia, em vídeo publicado nas redes sociais, pediu desculpas a Rodolfo e Monique. A atriz explicou que não havia sido informada sobre o uso da audiodescrição e, por isso, interpretou a situação de forma equivocada. Ela convidou o casal para retornar ao teatro em outra sessão e aproveitou para reforçar a importância da audiodescrição como recurso de acessibilidade. “Precisamos trazer esse assunto à tona sempre que possível”, concluiu a atriz.
Fonte da Matéria: g1.globo.com