O Supremo Tribunal Federal (STF) condenou Jair Bolsonaro por organização criminosa e outros crimes, numa decisão que, segundo o *The New York Times*, demonstra o sucesso do Brasil onde os EUA fracassaram. A sentença, divulgada na sexta-feira (12), gerou repercussão internacional.
Na quinta, o STF, por 4 votos a 1, considerou Bolsonaro culpado pelos cinco crimes imputados pela Procuradoria-Geral da República (PGR): tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. A pena? 27 anos e 3 meses de prisão, além de inelegibilidade por 8 anos após cumprir a pena. Isso mesmo, 27 anos e 3 meses! Uma sentença histórica, diga-se de passagem.
Steven Levitsky, de Harvard, e Filipe Campante, da Johns Hopkins, ambos autores de “Como as Democracias Morrem”, escreveram um artigo no *NYT* comparando a situação com a dos EUA. “Olha só”, escreveram os autores, “o contraste com os EUA é gritante. Trump, que também tentou subverter uma eleição, não foi preso e voltou à Casa Branca”. Os analistas ressaltam os paralelos entre os dois países, que enfrentaram ameaças iliberais na última década, com líderes de inclinação autoritária que, derrotados nas urnas, atacaram as instituições democráticas.
Mas aí que tá a diferença. Enquanto o Brasil tomou medidas, os EUA, na visão de Levitsky e Campante, “fizeram pouco para proteger sua democracia” de Trump. Os “famosos” freios constitucionais americanos falharam em responsabilizá-lo pela tentativa de reverter a eleição de 2020. Dois impeachments? Sem efeito prático. Trump concorreu novamente em 2024, “mesmo com seu comportamento abertamente autoritário”, apontam os autores. Para eles, isso representa “fracassos institucionais custosos”, com um segundo mandato de Trump marcado por autoritarismo, ataques a críticos e constantes desafios à lei e à Constituição.
O artigo do *NYT* também destaca as “provas volumosas” contra Bolsonaro e seus aliados, que visavam anular o resultado das eleições de 2022 e até mesmo assassinar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes. A firmeza do STF em lidar com a gravidade da denúncia também foi elogiada.
A repercussão internacional foi imediata. O *NYT* previu aumento das tensões entre Brasil e EUA, especialmente considerando as tarifas de 50% impostas pelos EUA a produtos brasileiros e a aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes. O jornal destacou que a Casa Branca tentou pressionar o Brasil a desistir do caso, mas a condenação demonstra que a pressão não surtiu efeito.
A Reuters chamou a atenção para Bolsonaro ser o primeiro ex-presidente brasileiro condenado por atentado à democracia; o *Guardian* enfatizou a possibilidade de décadas de prisão; o *Washington Post* ressaltou o recurso da defesa e a divisão na sociedade brasileira; o *Wall Street Journal* disse que a condenação deve inflamar a disputa entre Trump e Lula; a Bloomberg mencionou as acusações de perseguição política por parte de Bolsonaro; o *Economist* lembrou uma fala de Bolsonaro em 2022, afirmando que não seria preso, e pontuou que o julgamento mostrou o contrário; o *El País* viu um passo importante contra a impunidade; a BBC detalhou o plano golpista que culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023; e o *Clarín* classificou o julgamento como histórico. Em resumo: a condenação de Bolsonaro repercutiu globalmente, gerando diferentes interpretações, mas todas reconhecendo a importância histórica do julgamento.
Fonte da Matéria: g1.globo.com