Na noite de ontem, 6 de setembro, Maria Bethânia simplesmente arrebatou a plateia no Vivo Rio, no Rio de Janeiro. A estreia nacional da turnê “60 anos de carreira” foi uma explosão de emoções, uma verdadeira imersão na trajetória brilhante da artista. Cinco estrelas, sem dúvida! ✨✨✨✨✨
A abertura? De arrepiar! Bethânia, aos 79 anos, com sua voz grave e poderosa, deu vida aos versos de “Sete mil vezes”, de Caetano Veloso – uma música do álbum “Alteza” (1981) que, acreditem, ela não cantava ao vivo há 44 anos! “Sete mil vezes e, em cada uma, outra vez querer…”, ecoou pela casa, anunciando uma noite inesquecível.
O show, ancorado na tradição teatral que marca a carreira de Bethânia – misturando música e poesia – surpreendeu pela inovação sonora. A direção musical de Pedro Guedes (que também assina os arranjos com Jorge Helder e Thiago Gomes) deu uma nova roupagem aos clássicos, criando um som vibrante que lembrou, em alguns momentos, a orquestração impecável de Lucas Nunes em “Caetano & Bethânia” (2024/2025).
Antes mesmo da diva entrar em cena, o trio vocal formado por Fael Magalhães, Janeh Magalhães e Jenni Rocha – uma herança deliciosa da parceria com Caetano – já incendiou o palco com uma citação poderosa de “Iansã”. Olha só que início! 🔥
A banda, sensacional, deu um brilho extra a canções como o rock “Podres poderes” (Caetano Veloso, 1984), com um toque black incrível. Os metais de Marcelo Martins e Jessé Sadoc deram um sabor soul a “Encouraçado” (Sueli Costa e Tite de Lemos, 1972) e “Demoníaca” (Sueli Costa e Vitor Martins, 1974), criando um diálogo emocionante com “Resposta” (Maysa, 1956) e evocando memórias de “A cena muda” (1974), um marco na história da artista.
Falando em “A cena muda”, o show resgatou pérolas como “Gás neon” (Gonzaguinha, 1974), contrastando com a força do baião “Taturamo” (Caetano Veloso, 1974) e a citação de “Galope” (Gonzaguinha, 1974), com a viola de Paulo Dáfilin. Uma viagem no tempo, emocionante!
Do urbano ao rural, do sertão às folhas, Bethânia navegou com maestria pelo repertório, costurando a narrativa com a engenhosidade que só ela tem. Afinal, ela é a dona do palco, das palavras, das emoções! “Quando eu canto, que se cuide quem não for meu irmão”, avisou ela, antes de nos presentear com “Ofá” (Roberto Mendes e Jota Velloso, 1988), uma das muitas surpresas da noite.
O figurino elegante de Gilda Midani, com acessórios dourados no segundo ato, e as imagens projetadas com requinte (direção visual de Otávio Juliano) refletem a fidelidade do show à essência de Bethânia. A recitação de “Lugar (Fragmentos)”, de Herberto Helder, abriu um bloco feminino arrebatador, culminando na celebração da feminilidade em “O lado quente do ser” (Marina Lima, 1980).
E para quem esperava sucessos, Bethânia reservou surpresas: “Cheiro de amor” (Jota Moraes e outros, 1979), “Olha” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1975) – lembrando a trilha sonora de “Vale tudo” (2025) – e um “Samba do grande amor” (Chico Buarque, 1983) que fez a plateia balançar.
No segundo ato, a energia subiu ainda mais com “Fé cega, faca amolada” (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1974), uma lembrança deliciosa dos Doces Bárbaros (1976). Mas a noite não era sobre sucessos óbvios. Era sobre a trajetória de uma artista que se lançou ao mundo em fevereiro de 1965, no espetáculo “Opinião” (1964/1965) – e que, nesse show, resgatou “Diz que fui por aí” (Zé Kétti e Hortênsio Rocha, 1964).
Antes do intervalo, com um interlúdio instrumental que incluiu “Caboclinha (A boneca de barro)” (Heitor Villa-Lobos, 1922), “Maracatu” (Egberto Gismonti, 1978) e “Flor de lis” (Djavan, 1976), Bethânia fez uma incursão ao fado português com um (presumivelmente) inédito de Pedro Abrunhosa, “Se não te vejo”. Aliás, é a terceira vez em 13 anos que ela encerra um primeiro ato com uma música dele. Curioso, né?
O segundo ato começou com “Tocando em frente” (Almir Sater e Renato Teixeira, 1990), seguido por “Sete trovas” (Consuelo de Paula e outros, 2004) e “Iemanjá Rainha do mar” (Pedro Amorim e Paulo César Pinheiro, 2006), um mergulho no universo de “Mar de Sophia” (2006). As imagens de ondas revoltas projetadas por Philip Thurston intensificaram a sensação de uma viagem inesquecível.
E aí, a emoção tomou conta! Bethânia se lançou ao “mar bravio das paixões” com “Mares da Espanha” (Angela Ro Ro, 1979) – inédita em sua voz – e “Gota de sangue” (Angela Ro Ro, 1979), cantada em dueto com Jonatan Harold ao piano. A sequência com “Mar e lua” (Chico Buarque, 1980) e “Balada do lado sem luz” (Gilberto Gil, 1976) manteve a tensão dramática.
Uma homenagem emocionante a Nana Caymmi (1941-2025) com a recitação de “Vozes / A voz de Nana” (Eucanaã Ferraz) e “Sussuarana” (Heckel Tavares e Luiz Peixoto, 1928), lembrando “Brasileirinho” (2003), e a evocação da resistência do Brasil rural em “A força que nunca seca” (Chico César e Vanessa da Mata, 1999).
E ainda teve mais uma homenagem póstuma: “Palavras de Rita” (Roberto de Carvalho e Rita Lee, 2025), uma música inédita que traduz a essência de Bethânia com a poesia de Rita Lee. Impressionante! Junto com o samba “Vera Cruz” (Xande de Pilares e Paulo César Feital, 2025), essa música se destacou como uma das grandes novidades do show.
O show terminou com a citação de “Carcará” (João do Vale e José Cândido), a música que a lançou ao estrelato há 60 anos, e o bis com “Maria Bethânia, a menina dos olhos de Oyá” (Alemão do Cavaco e outros, 2015) e “Reconvexo” (Caetano Veloso, 1989). “Pega, mata e come!”, gritou Bethânia, como um selo de sua paixão e ideologia incansáveis.
No fim das contas, foi um show memorável, um dos melhores de Bethânia. Uma artista que ama os abismos, as torrentes, os desertos… e que, em 60 anos de carreira, só foi aonde seus próprios passos a levaram. Uma trajetória incrível!
Eis o repertório completo da apresentação de 6 de setembro de 2025:
**Ato I**
1. Iansã (Caetano Veloso e Gilberto Gil, 1972) – citação do trio de vocalistas
2. Sete mil vezes (Caetano Veloso, 1981)
3. Canções e momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant, 1986)
4. Gás neon (Gonzaguinha, 1974)
5. Podres poderes (Caetano Veloso, 1984)
6. Baioque (Chico Buarque, 1972)
7. A queda do céu (texto de Davi Kopenawa e Bruce Albert)
8. Ofá (Roberto Mendes e Jota Velloso, 1988)
9. Kirimur
Fonte da Matéria: g1.globo.com