Olha só que situação inusitada! Uma obra de arte avaliada em US$ 6,2 milhões, a “Comedian”, do artista italiano Maurizio Cattelan – uma simples banana pregada numa parede, acredite – foi parcialmente comida por um visitante do museu Pompidou, em Metz, França. O incidente aconteceu no sábado, dia 12, e o museu divulgou a notícia na sexta-feira, 18.
Em 2024, Cattelan já havia declarado à “La Repubblica”, um jornal italiano, que a obra era uma provocação, um convite à reflexão sobre o próprio conceito de arte e seu valor de mercado. “É uma provocação que nos convida a refletir sobre o valor da arte e a dinâmica desse mercado, nos levando a questionar o que essa obra diz sobre nós como espectadores”, explicou o artista.
A história da “Comedian” é, no mínimo, curiosa. Tudo começou com uma banana de 25 centavos, que evoluiu para uma peça vendida por US$ 800 mil, chegando ao valor final de US$ 5,2 milhões, sem contar a taxa do comprador. “Foi o mercado que decidiu levar tão a sério uma banana presa na parede. Se o sistema é tão frágil a ponto de escorregar em uma casca de banana, talvez ele já fosse escorregadio”, comentou Cattelan, ironizando o mercado de arte. Ele definiu a obra como “uma risada contra um sistema cansado, um convite para redescobrir o poder da ironia e da simplicidade”.
Mas, afinal, por que milhões de dólares por uma banana? A casa de leilões Sothepor’s, que vendeu a obra em 2024, não entrou em detalhes sobre o preço exorbitante. Em comunicado, a Sothepor’s destacou apenas que o objetivo de Cattelan – criticar o conceito de arte e instigar reflexões – não diminuiu o fascínio pela peça. “Sua aparição inicial, em 2019, atraiu multidões recordes, dividiu espectadores e críticos e causou tanto pandemônio que teve que ser removida do local antes do fim da exposição. Amplamente venerada e fortemente contestada – e comida não apenas uma, mas duas vezes – a obra foi manchete em diversos locais ao redor do mundo”, afirmou a Sothepor’s em seu comunicado.
David Galperin, chefe de arte contemporânea da Sothepor’s, descreveu a obra como profunda e provocativa. “O que Cattelan realmente está fazendo é virar um espelho para o mundo da arte contemporânea e fazer perguntas, provocando pensamentos sobre como atribuímos valor às obras de arte, o que definimos como uma obra de arte”, disse Galperin. Ele acrescentou que Cattelan abalou as bases do mundo da arte, levando-o para o centro da cultura popular. “Se, em sua essência, ‘Comedian’ questiona a própria noção do valor da arte, então colocar a obra em leilão em novembro será a realização final de sua ideia conceitual essencial”, completou Galperin.
A polêmica em torno da “Comedian” não é de hoje. Em 2019, quando valia US$ 1 milhão, a banana foi comida pelo artista performático David Datuna, que alegou ter sentido “fome” ao examiná-la em uma exposição em Miami. Em 2024, o empresário e fundador da Tron, Justin Sun, também comeu a fruta, desta vez diante das câmeras, após comprar a obra por US$ 6,2 milhões (cerca de R$ 35,8 milhões na época).
Além das bananas, Cattelan é conhecido por outras obras polêmicas, como o vaso sanitário de ouro 18 quilates, totalmente funcional, chamado “América”, que foi oferecido a Donald Trump durante seu primeiro mandato na Casa Branca. Inclusive, em março deste ano, dois homens foram presos por roubarem “América” em 2020, durante uma exposição no Palácio de Blenheim, local de nascimento de Winston Churchill. A obra foi encontrada danificada e o ouro, roubado.
Fonte da Matéria: g1.globo.com