Assucena e João Camarero fizeram um show memorável no Clube Manouche, no Rio de Janeiro, na sexta-feira, 15 de agosto de 2025. A apresentação, a primeira de duas no charmoso espaço com clima de cabaré, foi simplesmente de tirar o fôlego! A dupla recriou clássicos da música brasileira, um verdadeiro tesouro nacional, como a própria Assucena definiu. Olha só a energia que rolou!
“Pauleira!”, exclamou Assucena, após uma interpretação arrebatadora de “Retrato em branco e preto” (Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque, 1968). A sintonia entre a voz marcante de Assucena e o violão impecável de João Camarero era visível, uma conexão que contagiou a todos os presentes. O show, ainda em fase de construção, como a própria cantora frisou, é um desdobramento da apresentação que fizeram em junho no Sesc São Paulo, baseada no álbum “À flor da pele” (1991), registro de um show de 1990 com Ney Matogrosso e Raphael Rabello (1962-1995).
Camarero, que já se equipara ao mestre Raphael Rabello, abriu o show com um medley instrumental de tirar o chapéu. Um legítimo herdeiro de Baden Powell (1937-2000), ele executou com maestria três afrosambas de Baden e Vinicius de Moraes (1913-1980): “Canto de Ossanha” (1966), “Berimbau” (1963) e “Consolação” (1963). A precisão e a naturalidade eram impressionantes!
Assucena, ex-integrante do trio As Bahias e a Cozinha Mineira, brilhou interpretando canções que exigem grandes intérpretes. Sem “rasteiras melódicas”, como ela mesma disse, a cantora transcendeu. E já tinha experiência com grandes nomes, tendo se apresentado antes com o repertório de Gal Costa (1945-2022). Ela demonstra uma intimidade crescente com o cancioneiro brasileiro.
A estreia carioca do show teve um momento de tensão: no início de “Modinha” (Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, 1958), introduzida por um trecho instrumental do “Prelúdio nº 3” (1940), de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), a emoção tomou conta. Mas logo a confiança voltou, e a parceria com Camarero fluiu, principalmente em “Duas Contas” (1951), o requintado samba-canção de Garoto (1915-1955), um nome fundamental para o violão brasileiro nos anos 40 e 50.
Assucena, com a teatralidade que carrega na alma, deu vida a canções como “O mundo é um moinho” (Cartola, 1976), “Nuvem negra” (Djavan, 1993) e “Tu me acostumbraste” (Frank Domínguez, 1933). A baiana, inclusive, fez uma citação inusitada de “Baião” (Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, 1946) em “Na Baixa do Sapateiro” (Ary Barroso, 1938). E a viagem pelo sertão seguiu com “No rancho fundo” (Ary Barroso e Lamartine Babo, 1931) e “Tristeza do Jeca” (Angelino de Oliveira, 1922), esta última um momento de pura beleza e emoção.
Surpreendentemente, Camarero também cantou, interpretando “Trocando em miúdos” (1977), de Chico Buarque e Francis Hime, com uma voz que evocou o próprio Hime. A música iniciou um diálogo sobre separação, culminando com “Olhos nos olhos” (Chico Buarque, 1976), de Assucena, seguida por “Negue” (Adelino Moreira e Enzo Almeida Passos, 1960), hit de Maria Bethânia desde 1978.
“Balada do louco” (Arnaldo Baptista e Rita Lee, 1972), com a participação do público, encerrou a apresentação, mostrando a perfeita sintonia entre os artistas. No bis, Camarero cantou “Sétimo drink” (2025), parceria inédita com Paulo César Pinheiro, e Assucena finalizou com “Pó de vidro”, outra inédita da dupla. Um show impecável, que merece ser visto e ouvido por muitos e muitos anos!
Fonte da Matéria: g1.globo.com