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As “Bolas de Netuno”: Como algas marinhas combatem a poluição plástica no Mediterrâneo?

Olha só que incrível! No mar Mediterrâneo, um fenômeno natural tá ajudando a combater a poluição por plástico: as chamadas “bolas de Netuno”. Na real, elas são aglomerados densos e redondos de *Posidonia oceanica*, uma espécie de alga marinha. Essa planta, usada há séculos pra diversos fins – de embalagens a isolamento térmico –, tá desempenhando um papel inesperado: capturando microplásticos!

Pesquisadores da Universidade de Barcelona, liderados pela Anna Sánchez-Vidal, fizeram uma descoberta surpreendente. Os campos de *Posidonia*, com seu fluxo de água mais lento, agem como verdadeiras armadilhas para os microplásticos – partículas de plástico com menos de 5mm – que poluem nossos oceanos. Esses microplásticos, vindos principalmente de sacos plásticos, garrafas e redes de pesca, são um perigo à saúde, afetando desde os ossos e o cérebro até os hormônios. A maior parte dessa poluição vem da terra firme, mas o oceano, incluindo os campos de *Posidonia*, acaba funcionando como um ralo.

Acontece que, todo ano, no outono, a *Posidonia* perde suas folhas. Essas folhas fibrosas, ricas em lignina – um polímero orgânico resistente –, se entrelaçam, formando as famosas “bolas de Netuno”. E, tipo assim, enquanto essas bolas se movimentam, elas carregam consigo o plástico que foi aprisionado pelas fibras da alga. Isso é inacreditável!

Entre 2018 e 2019, a equipe de Sánchez-Vidal analisou bolas de algas em quatro praias de Mallorca, na Espanha (Sa Marina, Son Serra de Marina, Costa dels Pins e Es Peregons Petits). Metade das amostras de folhas soltas continha plástico, chegando a 600 fragmentos por quilo! Nas bolas, apesar de só 17% apresentarem plástico, a concentração era bem maior: cerca de 1.500 pedaços por quilo nas mais densas. E, acredite, algumas bolas continham até mesmo absorventes higiênicos e lenços umedecidos – objetos que afundam por causa da celulose. A Sánchez-Vidal, aliás, brinca que já tá saturada de receber fotos dessas “bolas monstruosas” de todo mundo!

Mas como essas bolas chegam à praia? Segundo a pesquisadora, mares agitados, principalmente durante tempestades, deslocam as bolas do fundo do oceano. Algumas afundam mais, enquanto outras são levadas para o litoral. “É como se o mar estivesse devolvendo o lixo que nunca deveria ter chegado ao fundo do oceano”, explica ela.

Apesar da descoberta ser fascinante, é importante ressaltar que as bolas de Netuno não são uma solução mágica para a poluição plástica. Sánchez-Vidal reforça que não se deve removê-las das praias, pois elas trazem umidade e nutrientes para o ecossistema. A solução, segundo ela, está na origem do problema: precisamos reduzir drasticamente a produção de plástico e evitar que ele chegue ao mar. Afinal, os campos de *Posidonia* já estão em declínio em todo o mundo devido à má qualidade da água, desenvolvimento costeiro e aumento da temperatura dos oceanos. Proteger esses importantes ecossistemas é crucial, e iniciativas como a Floresta Marinha da Red Eléctrica, na Espanha, e o projeto Jardineiros de Posidonia, na Itália e Malta, mostram que a recuperação é possível. Mas plantar *Posidonia* em todos os lugares não resolve o problema; a solução é prevenir a poluição na fonte.

Fonte da Matéria: g1.globo.com